Por Waldir de Melo Filho (Walldyr Philho) (São Paulo, SP)
Sentou-se à mesa sozinho como fazia todas as noites
religiosamente no decorrer dos seus dias
para sua janta indesejada. Não queria comer o que estava posto à mesa, por mais que tentasse, o
apetite fugia a galope rápido como uma
presa ao seu predador.
Havia uma tristeza que fora trancafiada dentro do seu
coração por anos a fio de uma vida de
solidão vazia que se acumulou com o passar dos tempos, rompendo as barreiras da sua força emocional,
e com as mãos cobrindo o rosto chorou!
Era um choro doído que mais se assemelhava ao grunhido de um animal indefeso, ferido que geme em prece
selvagem por um acalento, pedindo um
cuidado mesmo que embrutecido de alguém que se importe com ele.
Estava sozinho em sua casa de dois cômodos desprovida de
conforto. Tudo era simples, sem toque de
glamour, sem beleza! As paredes estavam
com a pintura descascada, em alguns locais, parte do reboco havia caído,
revelando o bloco em seu interior como uma ferida grotesca que revela o
interior da carne adoecida! Era um homem a frente do seu tempo que gostava de organização e limpeza. Vivia sonhando em
possuir uma casa com estilo de
arquitetura moderna e decorada com o requinte da ocasião e aconchego
para enchê-la com as impressões dos seus
amigos e convidados. Porém, a sua
realidade era abstrata, escura e a solidão da sua vida congelava tudo o
que tocava como uma fotografia sem vida,
morta, deixando o ar monótono parado no
tempo.
Trabalhava de segunda a sábado, só lhe restando o domingo
que era ocupado às pressas com os
afazeres diários de casa lavando roupas, limpando a casa, lavando louças, fazendo comida e por
último quando suas forças já estavam
esgotadas, ligava a tv em um programa qualquer para quebrar a monotonia da solidão e sem prestar atenção ao
que se passava nela, colocava a trouxa
de roupa recém-tirada do varal e ia passando ferro nelas, peça por peça até não sobrar nenhuma que precisasse
desse serviço. O sono estava às portas dos seus olhos cansados, mais ainda lhes
restava coisas a serem feitas, guardava
as roupas no velho armário e caia na cama petrificada de cansaço e sono acumulados que nunca se esvaiam por
completo, para acordar na madrugada e
seguir seu ciclo de escravo.
Naquela noite a solidão não era tênue, era algo palpável,
pesado como uma cortina de incontáveis
peles que deixava o ar sinistro, turvo e que
escondia a delicadeza sutil da existência. Era algo surreal como se
o sobrenatural estivesse aos poucos se
manifestando e adentrando ao mundo
físico bagunçando seus sonhos e realidades, fantasias e alucinações,
verdades e mentiras, sanidade e
loucura... Estava com as emoções em turbilhão ao
ponto de sentir o amargor do desespero! Olhou as horas em
seu celular e aproveitou para verificar
as notificações do aplicativo de whatsapp. Ninguém lhe mandara um oi amigo, nenhuma felicitação
natalina... Pela primeira vez sentiu
saudades da sua família e amigos... Tudo o que tinha havia gastado com uma calça que comprou para o seu filho e duas
camisetas, não lhe sobrando mais nada
para comemorar a data do seu sofrimento.
Era quase 20:00 quando ele sentou-se á mesa. Não tinha
muita coisa posta sobre ela. Sua ceia se
resumia a uma panela de arroz branco e uma lata
de sardinha que olhando com mais detalhes se surpreendeu ao ver que
sua validade havia vencido. Era isso ou
nada, e sem ter outra coisa para alimentar
seu filho que na inocência de criança não percebia a miséria que o
cercava, abraçou seu pequeno e chorou! Chorou
com dor aguda, profunda, dor de pai, dor
da incompreensão, dor fétida da miséria que o diminuía como um ser humano o igualando as ratazanas dos esgotos
da vida. Chorou em soluços cortantes
enquanto o seu pequeno Riel afagava seus cabelos crespos sem nada entender.
- Fica assim não, pai, chora não, tá bom! Dizia ele tentando
sem muito sucesso consolar seu amigo,
companheiro e protetor.
- Desculpa filho, desculpa, você não merece a merda do pai
que tem! Justificava-o rompendo em soluços por não poder dar ao seu filho a
vida digna que tanto almejava
Walldyr Philho
Poeta/Escritor
Eis a triste realidade.
ResponderExcluirSempre à nos surpreender e nos mostrar as mazelas do mundo.
Parabéns meu irmão!
Bom dia. Oh minha querida e amada irmã Elisabeth Glicério, muito obrigado pelas palavras de afagos tão carinhosos, vindo de você que é uma excelente escritora, a imperatriz da poesia contemporânea brasileira, isso me deixa deveras feliz demais. Muitíssimo obrigado 🥰♥️🥰♥️
ExcluirParabéns pelo texto, é a sociedade necessita da empatia para fazer o amor renascer nos corações.
ResponderExcluirO fantástico aqui relatado e a história de um homem que cuida de tudo e aí da passara a noite de Natal com seu filho , a sociedade precisa abrir os olhos tem homens que cuidam de seus filhos e precisa do apoio de todos principalmente das leis para que essa ações de certo e tenham respeito dos demais