Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
No segundo decênio do século XXl, e o
meu Estado teve seus dias de Colômbia, dias de narco-terrorismo, e cabe um
pouco de contextos aqui, conhecida como uma Suíça, devido a imigração europeia
e a pouco frequência de afrodescendentes e população indígenas, a onda de
terrorismo urbano assustou todo mundo. Não cabe aqui, neste pequeno espaço,
fazer uma análise historiográfica e sociológica mais profunda. E sim que dizer
que o crime organizado, promoveu atentados a bala, contra membros do aparato de
segurança, na primeira onda de atentados, restrita ao litoral do meu estado. E
meses depois, uma segunda de atentados, se espalhou pelo estado, mesmo que
menor, mas com ônibus foram incendiados, agentes do serviço de segurança, e
suas casas foram alvejados a tiros, assim como prédios públicos.
Depois desta breve introdução, eu homem negro, periférico, membro do aparato
repressivo local, marxiano convicto, estava guardando um aparelho do Estado, na
entrada da cidade. Era na segunda onda de ataques terroristas do crime
organizado, e o parlamento local e o paço municipal foram alvejados a balas. E
a cidade estava tomada por policiais civis identificados e militares fardados e
policiais à paisana também, helicópteros das forças de segurança, rasgavam o
céu. Um clima de tensão rondava a
cidade.
E para os muitos ridículos da vida,
três elementos menores, do submundo do crime, de uma cidade próxima, resolveram
cometer crimes na minha cidade, meter uns assaltos como se diz no jargão
popular do submundo do crime. Foram assaltar um loteamento próximo ao
parlamento local. Um local tranquilo e bucólico, popular e afastado do centro
da cidade, o loteamento dos ‘’polícia’’, como é conhecido popularmente na minha
cidade até hoje. Mais um pouco de contexto aqui, um loteamento antigo, que no
passado era basicamente habitado por policiais e seus familiares. Só baste
dizer que invadiram uma casa, onde vivia uma senhora idosa, a amararam e
limparam a casa, não levaram quase nada, somente alguns eletrônicos. Em plena
luz do dia, e em invés de partirem para o interior agrário da cidade, ou mesmo
se dispensarem, os três gênios do crime, partiram para o centro da cidade,
repleta de policiais.
E lá estava eu bem tranquilo,
devidamente uniformizado, no subsolo do aparelho em que eu estava resguardando,
enquanto os querubins e querubinas estavam no andar superior, cuidando das
questões do estado. Estava eu indo em direção da porta de entrada do aparelho,
então uma picape da polícia militar, um veículo com tração quatro por quatro,
em alta velocidade, para na frente do aparato. Mais um pouco de contexto aqui,
o aparato ficava, na entrada da cidade em uma avenida de mão dupla, uma via
rápida, em uma zona industrial e comercial. Saem da baratinha, dois policiais
fortemente armados, na verdade pularam do veículo e engatilharam e apontaram as
armas. E não deu tempo de fazer nada, pois dois disparos foram efetivados.
Recomposto, fui fechar a porta de entrada do aparelho.
Resumo da opereta bufa, cercados por
três lados, por policiais à paisana, caracterizados e uniformizados, dois
meliantes saíram do carro de fura, fugir pelo terreno baldio ao lado do
aparelho. E dois corpos sem vida foram ao chão, o motorista de fuga se rendeu,
e populares ganharam a localidade, ao contrário de concidadãos dos grandes
centros urbanos e regiões violentas. Os locais não estavam acostumados, com
tiroteios e corpos sem vida perfurados de bala. A avenida ficou tomada por
agentes do aparato repressivo, fortemente armados e eufóricos.
Só depois, fiquei
sabendo, que um querubim de alta patente, que estava na sala de convivência do
aparelho, para estava tomando um café, ele mergulhou no chão e se arrastou para
fora da sala de convivência depois de ver a movimentação e escutar os tiros.
Mais um capítulo tragicômico na Suíça tropical, que teve seus dias de violência
terceiro mundista. Uma página apagada, não com muito esforço das crônicas
policialescas.
Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br
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