sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

DOS RIDÍCULOS DA VIDA: DIAS DE FÚRIA!

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

       No segundo decênio do século XXl, e o meu Estado teve seus dias de Colômbia, dias de narco-terrorismo, e cabe um pouco de contextos aqui, conhecida como uma Suíça, devido a imigração europeia e a pouco frequência de afrodescendentes e população indígenas, a onda de terrorismo urbano assustou todo mundo. Não cabe aqui, neste pequeno espaço, fazer uma análise historiográfica e sociológica mais profunda. E sim que dizer que o crime organizado, promoveu atentados a bala, contra membros do aparato de segurança, na primeira onda de atentados, restrita ao litoral do meu estado. E meses depois, uma segunda de atentados, se espalhou pelo estado, mesmo que menor, mas com ônibus foram incendiados, agentes do serviço de segurança, e suas casas foram alvejados a tiros, assim como prédios públicos.
Depois desta breve introdução, eu homem negro, periférico, membro do aparato repressivo local, marxiano convicto, estava guardando um aparelho do Estado, na entrada da cidade. Era na segunda onda de ataques terroristas do crime organizado, e o parlamento local e o paço municipal foram alvejados a balas. E a cidade estava tomada por policiais civis identificados e militares fardados e policiais à paisana também, helicópteros das forças de segurança, rasgavam o céu. Um clima de tensão rondava a cidade.        
       E para os muitos ridículos da vida, três elementos menores, do submundo do crime, de uma cidade próxima, resolveram cometer crimes na minha cidade, meter uns assaltos como se diz no jargão popular do submundo do crime. Foram assaltar um loteamento próximo ao parlamento local. Um local tranquilo e bucólico, popular e afastado do centro da cidade, o loteamento dos ‘’polícia’’, como é conhecido popularmente na minha cidade até hoje. Mais um pouco de contexto aqui, um loteamento antigo, que no passado era basicamente habitado por policiais e seus familiares. Só baste dizer que invadiram uma casa, onde vivia uma senhora idosa, a amararam e limparam a casa, não levaram quase nada, somente alguns eletrônicos. Em plena luz do dia, e em invés de partirem para o interior agrário da cidade, ou mesmo se dispensarem, os três gênios do crime, partiram para o centro da cidade, repleta de policiais.
        E lá estava eu bem tranquilo, devidamente uniformizado, no subsolo do aparelho em que eu estava resguardando, enquanto os querubins e querubinas estavam no andar superior, cuidando das questões do estado. Estava eu indo em direção da porta de entrada do aparelho, então uma picape da polícia militar, um veículo com tração quatro por quatro, em alta velocidade, para na frente do aparato. Mais um pouco de contexto aqui, o aparato ficava, na entrada da cidade em uma avenida de mão dupla, uma via rápida, em uma zona industrial e comercial. Saem da baratinha, dois policiais fortemente armados, na verdade pularam do veículo e engatilharam e apontaram as armas. E não deu tempo de fazer nada, pois dois disparos foram efetivados. Recomposto, fui fechar a porta de entrada do aparelho.         
       Resumo da opereta bufa, cercados por três lados, por policiais à paisana, caracterizados e uniformizados, dois meliantes saíram do carro de fura, fugir pelo terreno baldio ao lado do aparelho. E dois corpos sem vida foram ao chão, o motorista de fuga se rendeu, e populares ganharam a localidade, ao contrário de concidadãos dos grandes centros urbanos e regiões violentas. Os locais não estavam acostumados, com tiroteios e corpos sem vida perfurados de bala. A avenida ficou tomada por agentes do aparato repressivo, fortemente armados e eufóricos.
         Só depois, fiquei sabendo, que um querubim de alta patente, que estava na sala de convivência do aparelho, para estava tomando um café, ele mergulhou no chão e se arrastou para fora da sala de convivência depois de ver a movimentação e escutar os tiros. Mais um capítulo tragicômico na Suíça tropical, que teve seus dias de violência terceiro mundista. Uma página apagada, não com muito esforço das crônicas policialescas.         

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br       

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