segunda-feira, 1 de julho de 2024

A VIDA TEM A COR QUE VOCÊ PINTA

Por Leandro Bertoldo Silva (Padre Paraíso, MG)

 

Como podia ser tão diferente? Desde criança se mostrava o oposto dos outros miúdos. Na verdade, isso era sentível na gestação. Nas consultas médicas, se as outras mães relatavam um comportamento tal, o menino, ainda em formação, apresentava-se já na morada do qual. Não por acaso nasceu sorrindo… Ao crescer queria tudo diferente. Preferia pistache a doces, não gostava de balas; na escola, na hora do recreio, preferia os livros na biblioteca — esse comportamento de livros o perseguiu a vida toda. Inclusive, o encontrou em um poema: “O menino que carregava água na peneira”. Ficou encantado! Afinal, aquele tal de Manoel o entendia. Descrevera tudo com tanta clareza! E a sua mãe era igualzinha à mãe do menino.  Passou a ser chamado de “o menino dos despropósitos”.

Ao crescer continuou a encher os vazios e a fazer pedras dar flor. Não se via no lugar de todo mundo. Se todo mundo ia por ali ele ia por aqui, e não importava com os falatórios, continuava a desenhar pipas no céu.

Os anos passaram e aquele menino já era um velhinho – não gostava da palavra “idoso”; era velho mesmo e sentia orgulho disso. Rodeado de filhos, netos, sobrinhos e afilhados, reuniu-os todos para se despedir. Foi assim, ao som de canções e brindar de copos, inclusive os dele, logo após o fim da festa, ele se sentou e fechou os olhos pela última vez tão feliz, tão sereno, tão despropositado. Estava na hora de ser árvore, estrela não.

Algum tempo depois, um de seus bisnetos, outro garotinho a receber o nome de Manoel, encontrou nos guardados do avô um papelzinho todo dobrado com marcas do tempo. Ao abri-lo lá estava o segredo dos despropósitos. Nele lia-se:

 

São muitos caminhos.

Façam suas escolhas.

SUAS escolhas…

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