segunda-feira, 1 de julho de 2024

DOS RIDÍCULOS DA VIDA: UM CAMINHO BIFURCADO!

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

            Relato aqui, uma passagem emblemática da minha vida, do eu, um mero funcionário público, do baixo clero. Na época, eu vagando daqui para acolá, em um limbo eviterno, de quem sai do nada, rumo a lugar nenhum. Pois lá estava eu, no primeiro decénio do século XXI, com um filho para chegar, com pouco dinheiro no bolso e sem um teto acima da minha cabeça.

            Pois bem, para além, de relatar os meus dramas pessoais, pois o foco aqui não são os meus dramas, que são muitos e são somente meus. Foi acolhido por um bom amigo, também membro efetivo do aparelho repressor do estado local. Este meu bom amigo, me abrigou na casa dele, no meu momento mais difícil, da minha vida. Isto diz mais do meu bom amigo, do que de mim mesmo.

            Mas chega em enrolação, indo direto ao objetivo aqui, este meu bom amigo, que um dia foi das forças de segurança estadual, me chamou para conversar em um canto. Estávamos de folga do trabalho e longe das influências dos nossos pomposos uniformes e da institucionalidade do que chamamos de estado. Uma conversa séria e longa, eu calculei, como bom marxista e materialista, que era e ainda sou e, pretendo ser até morrer. Bom, o problema me foi apresentado pelo meu bom amigo, eram dois pequenos moldes, mas não eram moldes quais queres, eram moldes de balas, de munição bélica.

            Assunto sério? Sim, um ex-policial e na função de membro efetivo do aparelho repressivo local, com moldes de munições guardados na garagem? Problemas à vista, meus queridos e queridas que estão lendo este texto. Depois de eu ouvir uma breve história, de como o meu fraternal amigo, de como ele ter encontrado os moldes de munição, em um bota fora, um depósito de lixo informal no popular.

            Pois bem, o drama era o que fazer com os moldes, era essa a perguntar, como no entendimento do meu bom amigo, euzinho era um homem sábio e eu poderia apontar o caminho certo. Mais uma vez, pois bem, eu sábio? Credo! Mas vamos lá, pois o assunto aqui não sou eu, às vezes problemas complexos, demandam soluções simples, digo isto contrariando os muitos séculos e milénios de análises conjunturais de pensadores ocidentais. É simples assim.

            Senti-me, naquele momento exato, um pouco como um Mefistófeles pós-moderno, por um breve momento, mas o bom senso tomou conta, do meu ser materialista e dialético e expus a primeira problemática. O meu bom amigo, que me abrigou, quando eu estava caído, ele para relembrar como ex-membro do aparato repressivo das forças se segurança estadual para alguns e provincial para outros. E há época, em que me foi apresentado a problemática, ostentava um cargo menor, mesmo assim sendo membro do aparelho repressivo do Estado. Ele tinha a iminência, de receber uma visita das forças de segurança estadual/provincial na garagem dele. E encontrar um molde para balas trinta e oito e outro molde para bala quarenta e cinco. Munições para revólveres, pistolas automáticas, submetralhadoras e metralhadoras. 

            Para uma simples problemática temos duas soluções simples, uma era vender as peças no mercado negro de armamentos bélicos. Arriscado? Sim, muito arriscado e um possível julgamento em uma corte marcial era bem provável! E ter o peso na consciência, de haver alguém e em algum lugar, fabricando munições, para revólveres trinta e oito, pistolas quarenta e cinco, submetralhadoras e metralhadoras, não era e não é um cenário agradável de se vislumbrar. A segunda solução, também simples, era uma doação, sim doar as duas peças, para o museu local. Para um aparelho do estado, simples assim!

E o meu bom amigo, me olhou desconfiado e me perguntou qual caminho à seguir. Pois bem, Mefistófeles baixou em mim, pois escolha não poderia ser minha, então eu disse que ele, era quem deveria escolher o caminho a seguir. Resumo da ópera, do dia seguinte, fomos rumo ao centro da cidade, rumo ao museu municipal fazer uma doação.  

 

Fragmento do livro: Dos ridículos da vida. Texto de Samuel Costa, contista, poeta e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

 

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