Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)
“Entre
as lágrimas, o silêncio e o amor…!
Que
os ventos da natureza me levem...
Para
onde eu possa repousar tranquilamente.
Que
a celestial luz da poesia,
Arranque
todas as dores de minha alma!
E coloque no lugar o puro amor.”
Fabiane
Braga Lima
Um vislumbre apenas,
entre os efêmeros e abstratos e nada mais para o além das imensidões astrais,
que separam as muitas realidades reinantes e os mundos imateriais. O veículo,
estava a toda velocidade, na pista azul, Luna estava com as mãos firmes ao volante,
ela preferiu assim, pois ela gostava de dirigir, em vez de ligar ao piloto
automático. Se bem que, o uso do piloto automático era dispensável, pois Luna,
tinha o controle total do veículo. Acima e nas laterais da pista de rolagem,
dois trens de monotrilho, simultâneos passaram a toda a velocidade, um ia para
o norte e outro para o sul. Luna, não deveria ouvir os veículos gritando, pois
estavam envoltos em tubos de cristal líquido, mas ela ouviu, o que seria para
ela uma eufônica melodia, breve a bem da verdade.
A condutora do veículo
automatizado, voltou para a realidade, quando um veículo militar batedor,
emparelhou com o veículo de Luna, ela sabia que atrás do veículo militar, que a
ladeava, vinha um comboio de enormes caminhões civis e militares. Luna, notou
no assento dianteiro do veículo batedor, um soldado fortemente armado, ele
estava empunhando, uma arma de grosso calibre, apontada para o teto do veículo.
Quando o militar, fez menção de olhar para Luna, ela ergueu a mão esquerda e
apontou para frente, impedindo que o homem de armas olhasse para ela. Luna, não
queria ter seu rosto escaneado, pelas lentes dos óculos do militar ou pela
câmera embutida no uniforme dele. Imagens que invariavelmente iriam parar em
bancos de imagens de aparatos de segurança. E ao invés de acelerar o veículo,
Luna pensou e o carro dela diminuiu a velocidade, o veículo batedor acelerou e
ultrapassou o veículo de Luna. E um comboio militar de pesados veículos,
passaram e se perderam das vistas atentas da condutora.
A tempos, a mãe e a
irmã mais nova não aprovaram as longas viagens de Luna, pois ela vivia em uma
cidade, trabalhava em outra cidade e por fim estudava em uma terceira cidade.
As muitas idas e vindas, dirigindo em uma via rápida, assustava a família de Luna.
Os muitos porquês, da família de Luna, sempre tinham como respostas os
silêncios, breves e às vezes longos hiatos. E a pergunta de não usar o
monotrilho, tinha uma resposta curta e direta. Entre eu não quero e eu não
gosto de me misturar com multidões. Até uns, pelo menos não dirija, use o
piloto automático, ela ouviu da família e até de pessoas próximas. Aí ela
mentia, dizendo que usaria a ferramenta para tranquilizar todos e todas. Na
verdade, ela precisava e ansiava, por momentos de solidão e quietudes, pelo
menos em breves momentos. Os movimentos que dava era uma decisão somente dela,
por mais próxima que fosse, da família e dos bons amigos e amigas, que a
circundavam, a maioria pessoas boas e com vidas simples.
Foi quando o painel do
veículo, assobiou uma eufônica melodia inaudível aos ouvidos de muitos. Luna,
escutou as notas musicais, desacelerou, pegou a rampa à esquerda, saiu do
corredor azul, ela subiu para o corredor vermelho e tomou a rampa de novo e subiu
até o corredor amarelo. E ali, no corredor amarelo, geralmente usada por locais
e gente sem pressa alguma. E lá na tranquilidade, Luna diminuiu mais e mais,
até quase parar. Luna pensou na caixa de entrada, nas mensagens, na interface
digital do painel do veículo e ela viu a mensagem do namorado. Ela pensou em
que idioma, ela queria escutar a voz de Yendel, Luna pensou, a seta se deslocou
até a opção francês. Era quase meio dia e o sol ameno brilhava a oeste, em um
céu azul de poucas nuvens.
Luna, viu se abrir a
mensagem, que estava somente escrita, na falta de um vídeo ou áudio, a mensagem
foi traduzida para o francês, Luna intuiu que algo estava errado. Yendel,
sempre mandava mensagens, em vídeos ou faladas para ela. Luna traduziu sem dificuldades
a mensagem, ela parou o veículo, até perceber que ainda estava no meio da pista
de rolagem. Luna pensou e o veículo se deslocou lentamente para o acostamento.
Luna, não soube os muitos porquês, dela pensar naquela hora, no lago de Hali,
nas Híades e Aldebarã, no emblema amarelo, Hastur, na máscara da verdade, em
Cassilda e Camila e por fim em Carcosa. Mas, no fundo, ela sabia o que estava
por vir. Luna então releu e releu novamente, o breve bilhete de Yendel. Um
bilhete seco, simples e direto, que em resumo dizia que tudo estava acabado
entre eles, que ele bem tentava, mas nada dava certo a relação entre eles.
Luna, aos tropeços,
saiu do veículo, uma onda magnética se formou ao entorno de Luna e a onda se
expandiu e explodiu, danificando os veículos que passavam lentos e sonolentos.
As câmeras de vigilâncias, postadas em pequenas torres, explodiram, os dois drones,
que sobrevoaram baixo, o corredor amarelo, os aparelhos de vigilância, caíram
em chamas e se espatifaram no chão, caíram nos acostamentos. Todos os
instrumentos elétricos, eletrônicos e mecânicos param de funcionar. O corpo
incorpóreo de Luna ganhou o céu, foi rumo ao Páramo, deixando para trás um
avatar dela, ao lado do veículo e todas as confusões causadas pela onda
magnética.
Texto de Clarisse Cristal, poetisa, contista, novelista e bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa Catarina.
Argumento de Samuel da
Costa, poeta, contista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.
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