segunda-feira, 1 de julho de 2024

DOS RIDÍCULOS DA VIDA: UM SONHO TEATRAL!!!

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

            O Estado como instituição, nasceu há milênios, para organizar a sociedade, que de nômades se urbanizou à beira de grandes rios e lagos, então surgiu a figura de potentados, soberanos reis, rainhas, imperadores, para encarnar o poder do Estado, isso há pouco mais de cinco mil anos passados. Mas, a ideia aqui, não é discorrer sobre teses das ciências sociais e ciências políticas correlatas. O que fica é a intuição Estado, nos dias de hoje é tida como um ente onisciente e onipresente. O Estado, como instituição, está espalhada em todo o globo e existe de formas variadas e para todos os humores e gostos. O que há de comum entre todos os modelos de governança, são os aparelhos de segurança que existem em todos os estados-nação. Tomo este simples elemento, para não se aprofundar em um tema tão vastamente complexo e digo que é um tema chato mesmo para quem não é acadêmico ou pensador.

            Pois eu, como membro efetivo do aparato repressivo do Estado, fico eu defronte dos aparelhos do Estado, fazendo a segurança, por assim dizer e isto quando estão abertos ao público. Mas para os ridículos da vida, bem antes de chaves tilintares no ar, nas mãos de uma semideusa de ébano, lá estava eu guardando e resguardando um aparelho turístico, no centro da cidade praiana e portuária. Eu olhei pela janela e vi umas vinte e tantas pessoas, peles alabastrinas e como estavam vestidos, calculei que eram cidadãos europeus, do leste europeu para ser mais exato. Logo lembrei que uma trupe de teatro do leste europeu para ser mais exato, que vinha visitar a minha cidade, vi no telejornalismo local. E como andavam em tom compassado e cadenciado e não andares rijos tão comuns dos teutos e eslávicos, logo calculei que era mesmo a trupe de teatro eslavo, andando pelas ruas no início da noite. Problemas para a minha pessoa, calculei, pois não havia nenhum nativo conduzindo a trupe teatral, pelo que eu assistia pela janela.

            Geralmente pessoas uniformizadas e membros do aparato do Estado, em certas situações, passaram uma sensação de segurança. E não demorou muito, lá estava eu na entrada do aparelho turístico do Estado local, com o meu excelso uniforme, bem cintado, diante de um possível diretor de teatro eslavo diante de mim, ele me perguntando onde se dava a abertura do festival da primavera. O homem alto, polido, emanando autoridade perante aos seus pares, falando um perfeito inglês londrino, com um leve sotaque do leste europeu. A arquitetura europeia mediterrânica, do prédio onde eu estava trabalhando deve ter atraído os eslávicos, o aparato era uma escola no passado remoto.       

            Em suma, para todos os ridículos da vida, o todo poderoso Deus Estado, onisciente e onipresente, abandonou uma trupe de teatro do leste, em um hotel no centro da cidade. E quero salientar que a minha cidade não é um grande centro urbano, pelo menos enquanto dedilho este texto. Em suma, para todos os ridículos da vida, o diretor de teatro eslavo, correu meio mundo para se informar comigo, um latino-americano comunista, de terceiro escalão e da periferia do mundo. Para desespero da secretária recepcionista, ela devidamente sentada em sua estação de trabalho. Ela ficou apavorada, ao ver o eslavo falar comigo em inglês, e eu responder, como o meu inglês intermediário, falei para o homem de dois metros de altura, e eu com um anão de um metro e setenta. Calmamente falei que o cerimonial, se daria nos poucos metros, que era só atravessar a avenida e que o cerimonial se daria em um palco na frente da igreja matriz.

            Para a sorte de todos e todas, uma agente administrativa, a celestial semideusa, vendo de longe a tragicomédia que se desenrola, ao largo, eu parei calculando para onde iria e eu perguntei para a querubina, se ela falava inglês. A celestial querubina me disse que sim e em um inglês cheio de sotaque pedi para a trupe a seguir.

            Passada a bela confusão, a secretária recepcionista, me perguntou se eu falava inglês. Respondo que sim que eu falo um pouco.

 

 

 

Fragmento do livro: Dos ridículos da vida. Texto de Samuel Costa, contista, poeta, cronista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

 

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

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