Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
O Estado como instituição, nasceu
há milênios, para organizar a sociedade, que de nômades se urbanizou à beira de
grandes rios e lagos, então surgiu a figura de potentados, soberanos reis,
rainhas, imperadores, para encarnar o poder do Estado, isso há pouco mais de
cinco mil anos passados. Mas, a ideia aqui, não é discorrer sobre teses das
ciências sociais e ciências políticas correlatas. O que fica é a intuição
Estado, nos dias de hoje é tida como um ente onisciente e onipresente. O
Estado, como instituição, está espalhada em todo o globo e existe de formas
variadas e para todos os humores e gostos. O que há de comum entre todos os
modelos de governança, são os aparelhos de segurança que existem em todos os estados-nação. Tomo este simples elemento, para não se aprofundar em um tema tão
vastamente complexo e digo que é um tema chato mesmo para quem não é acadêmico
ou pensador.
Pois eu, como membro efetivo do
aparato repressivo do Estado, fico eu defronte dos aparelhos do Estado, fazendo
a segurança, por assim dizer e isto quando estão abertos ao público. Mas para
os ridículos da vida, bem antes de chaves tilintares no ar, nas mãos de uma
semideusa de ébano, lá estava eu guardando e resguardando um aparelho
turístico, no centro da cidade praiana e portuária. Eu olhei pela janela e vi
umas vinte e tantas pessoas, peles alabastrinas e como estavam vestidos,
calculei que eram cidadãos europeus, do leste europeu para ser mais exato. Logo
lembrei que uma trupe de teatro do leste europeu para ser mais exato, que vinha
visitar a minha cidade, vi no telejornalismo local. E como andavam em tom
compassado e cadenciado e não andares rijos tão comuns dos teutos e eslávicos,
logo calculei que era mesmo a trupe de teatro eslavo, andando pelas ruas no
início da noite. Problemas para a minha pessoa, calculei, pois não havia nenhum
nativo conduzindo a trupe teatral, pelo que eu assistia pela janela.
Geralmente pessoas uniformizadas e
membros do aparato do Estado, em certas situações, passaram uma sensação de
segurança. E não demorou muito, lá estava eu na entrada do aparelho turístico
do Estado local, com o meu excelso uniforme, bem cintado, diante de um possível
diretor de teatro eslavo diante de mim, ele me perguntando onde se dava a
abertura do festival da primavera. O homem alto, polido, emanando autoridade
perante aos seus pares, falando um perfeito inglês londrino, com um leve
sotaque do leste europeu. A arquitetura europeia mediterrânica, do prédio onde
eu estava trabalhando deve ter atraído os eslávicos, o aparato era uma escola
no passado remoto.
Em suma, para todos os ridículos da
vida, o todo poderoso Deus Estado, onisciente e onipresente, abandonou uma
trupe de teatro do leste, em um hotel no centro da cidade. E quero salientar
que a minha cidade não é um grande centro urbano, pelo menos enquanto dedilho
este texto. Em suma, para todos os ridículos da vida, o diretor de teatro
eslavo, correu meio mundo para se informar comigo, um latino-americano
comunista, de terceiro escalão e da periferia do mundo. Para desespero da
secretária recepcionista, ela devidamente sentada em sua estação de trabalho.
Ela ficou apavorada, ao ver o eslavo falar comigo em inglês, e eu responder,
como o meu inglês intermediário, falei para o homem de dois metros de altura, e
eu com um anão de um metro e setenta. Calmamente falei que o cerimonial, se
daria nos poucos metros, que era só atravessar a avenida e que o cerimonial se
daria em um palco na frente da igreja matriz.
Para a sorte de todos e todas, uma
agente administrativa, a celestial semideusa, vendo de longe a tragicomédia que
se desenrola, ao largo, eu parei calculando para onde iria e eu perguntei para
a querubina, se ela falava inglês. A celestial querubina me disse que sim e em
um inglês cheio de sotaque pedi para a trupe a seguir.
Passada a bela confusão, a
secretária recepcionista, me perguntou se eu falava inglês. Respondo que sim
que eu falo um pouco.
Fragmento do livro: Dos
ridículos da vida. Texto de Samuel Costa, contista, poeta, cronista e novelista
em Itajaí, Santa Catarina.
Contato:
samueldeitajai@yahoo.com.br
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