O mistério de Ângela
Capítulo 1: Aceitar a
Morte primeira parte
Demétrio estava na
cozinha tomando o seu café amargo acompanhado do velho biscoito natalino feito
pela sua tia Antonella. Ao seu lado a sombra do reflexo da lua nebulosa.
Ela, debulhada em papéis
velhos, encontra uma carta e a leva com sigo entre os seios para a sala.
Sentindo o cheirinho de café a jovem foi até a cozinha, por algumas frações de
segundo apenas encontra a xícara vazia e no ar o perfume inconfundível de
Demétrio. Percorre a casa inteira e o encontra lendo o jovial Jornal Andar de
Bicicleta.
Senta-se ao lado dele e
não consegue entender a frieza com que este ontem olha o jornal sem ao menos
dar um sequer olhar para ela. O tempo todo ela dizia eu estou aqui e Demétrio não
esboçava uma reação se quer.
O seu olhar era
direcionado ao jornal. Ela apenas tinha que se contentar ao estar do lado dele.
Então foi que ela teve a ideia de lhe escrever um longo bilhete. — Ele sempre
leu os meus bilhetes, vou escrever um. — Ela pensou. O bilhete dizia: "Meu amado, meu perfume
está por toda parte da casa, mas é o seu perfume que sinto. Por mais que a
minha presença não seja notada, eu estou aqui te amando com o meu olhar e o
coração a pulsar por ti! Olhe para o lado e veja você em mim, no meu olhar a te
amar sem espaço para chorar a sua falta de atenção, pois sempre estarei aqui
para você".
O bilhete ela deixou no
colo de Demétrio, e por incrível que pareça nem o toque de suas mãos esse homem
sentiu. As mãos de Ângela corriam suas pernas com o bilhete em uma das mãos.
Imóveis sempre, para a surpresa da jovem. E o seu olhar ainda permanecia sobre
o jornal. O que ali tanto lhe interessava?
No jornal a seguinte
matéria: "O passado do Brasil é o marco de acontecimentos, considerados os
piores na sua história é a escravidão e a ditadura. Não por menos, ambos
trouxeram sofrimento para uma população marginalizada. São anos de mudanças e
outros retrocessos. E o Brasil se desenvolve lentamente. Mas para de fato ser
um país de ordem e progresso vai levar alguns anos. Talvez isso não ocorra. Mas
acredito que tudo isso depende exclusivamente da sociedade, enquanto ela
continuar conivente e os políticos apenas com suas mentes voltadas para as
finanças de seus bolsos, nada vai mudar’’.
Amor não vem com receita
básica que diz a forma correta de amar. A vida não tem retorno, não adianta
querer voltar para trás como forma de acertar os erros. E como bem saudade não
se explica se sente. Já os problemas, todo mundo tem, digamos que é uma via de
mão dupla, ora vem ora vai. E o maior problema de Ângela era ser notada por
Demétrio. A invisibilidade a incomodava. Na verdade, o ser humano busca
atenção. Não sei se a palavra certa é essa, mas ficar no escuro ninguém deseja.
Clarisse da costa é
poetisa, cronista em Biguaçu SC
Contato:
clarissedacosta81@gmail.com
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