Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Você que é a minha mãe de
verdade. Claro, a empregada que dá
banho, que dá o de comer, que ensina as tarefas de casa, que brinca e ainda por
cima cuida da casa inteira. Não o bastante, não podia usar o banheiro da casa,
tinha o seu próprio banheiro fora de casa, muitas vezes o banheiro ficava
longe.
Enquanto a empregada
fazia o trabalho pesado, a patroa fazia o papel de boa esposa e patroa para
toda a sociedade. À tarde ia ao chá das cinco para ficar falando da vida dos
outros com as madames do bairro.
O filme "Histórias
Cruzadas" retrata bem essa realidade, uma realidade cruel que persistiu
por séculos. Algumas dessas mulheres, na sua maioria mulheres negras, nos dias
atuais, ainda permanecem naquela casa se sentindo parte daquela família. Não
percebendo que são apenas um objeto para aquela família. Ou melhor dizendo,
alguém a serviço da família, sem horário para viver a sua própria vida.
Muitas viveram ao longo
de suas vidas cuidando dos filhos dos outros sem poder muitas vezes cuidar de
seus filhos. Mas esses absurdos não aconteciam somente com as mulheres e sim
com todos os empregados da casa.
O meu pai contou que o seu patrão sabia o
número exato de bananas que estavam na fruteira de prata, se faltasse uma
banana ele ia cobrar de seus empregados. Os pratos dos empregados não eram os
mesmos que os donos da casa usavam para comer, tal como o banheiro. O acesso a
casa era restrito.
E nos dias atuais sempre
vamos encontrar quem nos diga o contrário, querendo ocultar o preconceito
existente. Porque não querem assumir a crueldade feita pela elite branca,
roubando a vida de pessoas negras.
Clarisse da Costa é
cronista e poetisa em Biguaçu, SC.
Contato:
clarissedacosta81@gmail.com
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