Por Dias Campos (São Paulo, SP)
Seu Osório tinha duas paixões e um
sonho. Aquelas, sua esposa e a literatura; este, o de morar na praia quando se
aposentasse.
Veio a inatividade. Trocaram-se os ares. Mas se foi a companheira.
Para compensar a solidão da viuvez, seu Osório comprou um papagaio. E
chamou-o William, em homenagem a Shakespeare.
No entanto, como em seu lar os bons modos sempre reinaram, ele não
ensinaria à mascote palavrões ou baixarias. Apenas frases icônicas sairiam do
seu bico.
Certo dia, um amigo apareceu.
Ora, o emplumado não o conhecia. Daí que o “intruso” tomou um susto ao
ouvir sua estridente voz:
- Currupaco! “Deixai aqui todas as
esperanças, ó vós que entrais!”
Não se precisaria dizer que a ave
foi o centro das atenções depois que o visitante identificou Dante e sua Divina comédia.
Mas a visita não era ao papagaio. E ambos
foram para a copa, a fim de tomarem um café e de matarem as saudades.
Em dado momento, o recém-chegado
contou que estava preocupado com a neta, visto que começara a namorar um fulano
que, pelo que soubera, estava obcecado por ela.
Vai saber o que passa na cabeça desse garoto?!... – perguntou o avô zeloso.
E William atalhava:
- Currupaco! “Iracema, a virgem dos
lábios de mel,...” – Mas só seu Osório riu com José de Alencar.
O dia acabava. E era hora de partir.
Antes de sair, seu amigo pediu um conselho. Perdera uma grana preta no
jogo clandestino. O que deveria fazer?
Seu Osório bem que tentou, mas...
- Currupaco! “Ao vencedor, as batatas!” – Ó Machado!
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