sábado, 1 de janeiro de 2022

WILLIAM, O PAPAGAIO

Por Dias Campos (São Paulo, SP) 

            Seu Osório tinha duas paixões e um sonho. Aquelas, sua esposa e a literatura; este, o de morar na praia quando se aposentasse.

Veio a inatividade. Trocaram-se os ares. Mas se foi a companheira.

Para compensar a solidão da viuvez, seu Osório comprou um papagaio. E chamou-o William, em homenagem a Shakespeare.

No entanto, como em seu lar os bons modos sempre reinaram, ele não ensinaria à mascote palavrões ou baixarias. Apenas frases icônicas sairiam do seu bico.

Certo dia, um amigo apareceu.

Ora, o emplumado não o conhecia. Daí que o “intruso” tomou um susto ao ouvir sua estridente voz:

            - Currupaco! “Deixai aqui todas as esperanças, ó vós que entrais!”

            Não se precisaria dizer que a ave foi o centro das atenções depois que o visitante identificou Dante e sua Divina comédia.

            Mas a visita não era ao papagaio. E ambos foram para a copa, a fim de tomarem um café e de matarem as saudades.

            Em dado momento, o recém-chegado contou que estava preocupado com a neta, visto que começara a namorar um fulano que, pelo que soubera, estava obcecado por ela.

Vai saber o que passa na cabeça desse garoto?!... – perguntou o avô zeloso.

E William atalhava:

            - Currupaco! “Iracema, a virgem dos lábios de mel,...” – Mas só seu Osório riu com José de Alencar.

            O dia acabava. E era hora de partir.

Antes de sair, seu amigo pediu um conselho. Perdera uma grana preta no jogo clandestino. O que deveria fazer?

Seu Osório bem que tentou, mas...

- Currupaco! “Ao vencedor, as batatas!” – Ó Machado!

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