sábado, 1 de janeiro de 2022

ALLANA

       O tempo estava nublado, havia muitas nuvens escuras no céu e o marido de Allana, dissimulado que era, estava horas na rua. A bem da verdade ela já havia se acostumada, eram dias e noites de completa ausência, sem ao menos um telefonema sequer. E ela não fazia muita questão, que ele voltasse para casa, pois sempre que chegava, mal a olhava e logo pegava o seu celular.

          O esposo de Allana ficava horas a fio com atendendo os seus clientes de forma virtual. Era dono de uma grande imobiliária na cidade em plena expansão, se urbanizando e verticalizando. Noah era um homem, ainda jovem, e bem sucedido na profissão! Sempre muito ocupado, dormia no sofá do escritório que mantinha em casa. Ele fazendo e refazendo cálculos, revisando contratos, respondendo correspondências eletrônicas. Ele checando anúncios em várias mídias eletrônicas e físicas como de costume. Allana de madrugada ouvia suas gargalhadas, era ele comemorando sozinho um feito qualquer, geralmente quando as contas bancárias se movimentavam. Nessas horas Allana chorava implorando por um pouco de atenção. Mas Noah, era egoísta, como não se bastasse era intolerante e machista. E tinha o hábito de gritar em casa.

     — Allana, venha logo aqui! — Aos berros chamava a companheira

    —Sim, Noah...

    — Vou sair e não sei quando volto! Fala pro inútil do Davi, aquele jardineiro ordinário, tomar conta do jardim direito.

     — Mas Noah... — Suplicava Allana entre soluços e lágrimas

     — Cale a boca mulher inútil! E vá procurar algo pra fazer. — Vociferava para a jovem esposa a tratando como se fosse um animal selvagem. Allana repudiava no que aquele homem tinha se tornado, no qual tinha se casado a poucos anos, mas ao mesmo tempo parecia gostar, estranho!

          Assim, que Noah partia, ela se via sozinha mais uma vez.

      — Como posso ficar com um homem frio e tão repugnante!? — Falava como se alguém estivesse ao lado dela e continuou! — Asqueroso, nunca quis ao menos ter filhos, pois não quer arcar com responsabilidades financeiras.

        Cansada de tudo aquilo, entrou lânguida e sonolenta em seu quarto conjugal, olhou bem os porta-retratos no criado-mudo de seu casamento, eram dias felizes de recém-casados que ficaram no passado não muito distante. E Allana os atirou ao chão com força e os quebrou um por um. Ninguém poderia supor ou perceber o que passava pela cabeça dela, o que falta de afeto poderia fazer no coração a na cabeça de uma mulher!

        De repente, Allana se aproximou e olhou pela janela semiaberta, e lá estava ele o jardineiro, que seu esposo havia contratado a pouco tempo, contratava por tempo integral para cuidar do jardim externo e do jardim de inverno. Recoberto de terra preta dos pés até a cabeça, o homem foi se banhar com a mangueira do jardim externo, estava seminu, com o dorso a mostra. Naquele momento Allana não se conteve e em disparada sai do quarto, desceu as escadas trôpega e em um ímpeto alcançou o jardim aos fundos da casa foi ter com o trabalhador.

        — Suma daqui agora... agora! O senhor está nu! — A dona da casa gritava e bem alto.

         — Me perdoe senhora! — Disse o jardineiro envergonhado com os olhos castanhos escuros cravados nos olhos castanhos amendoados de Allana. A jovem dona da casa se retirou enfurecida e sem olhar para trás. Se olhasse poderia ver o homem simples e trabalhador, ainda segurando a mangueira que jorrava águas, o jardineiro a olhava dos pés até a cabeça com certa curiosidade. 

          Nos dias se sucederam ao doméstico confronto no jardim, Allana incorporou o hábito de olhar todos os dias pelas janelas! Percebeu por fim que estava perdidamente e completamente apaixonada pelo jardineiro. Havia um certo mistério no olhar daquele homem de poucas palavras! Um completo mistério que ela tentaria desvendar e, desvendaria, nem se fosse a última coisa que faria em vida. 

        Certa noite na ausência do marido, ela foi até a casa dos fundos, um aposento reservado para os empregados da casa!

        — Não vou fazer nada que não queira, mas vou lhe provocar até não querer mais! — Disse a dona da casa para o homem deitar-se na cama do pequeno cômodo

            E sem nada dizer se entregou a Davi o jardineiro, se remorsos nem ou mesmo culpas. Ela saciou todas suas vontades carnais, que seu esposo jamais havia saciado. Davi tinha seus mistérios, suas seduções e insanas paixões. Descobrirão a sintonia perfeita, o encaixe mais que perfeito e gozo etéreo dos deuses. A devoção e entrega entre ambos os corpos insaciados, a tara e a devassidão, a obsessão. Não foi só um encontro de corpos, foi um encontro de almas, foi, suores misturados e uma total entrega que os dominavam.

         Depois do amor Allana só pensava em si e em mais ninguém. Quanto ao seu esposo frio e calculista de Allana!? Há anos nutria várias amantes...!


Fabiane Braga Lima: texto e argumento

Samuel da Costa: texto e revisão

Renan Fillipi da Costa: revisão

 

  

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