segunda-feira, 1 de agosto de 2022

ANA PAULA CAETANO

 Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

       

Estava ela pensando na figura da mulher vestida toda de branco e seu olhar sem vida, que complacentemente chamava as pacientes para o que parecia ser mais uma consulta, a voz da atendente era de um tom monocórdio e quase sem vida. Como se fosse um ato mecânico, que se repetia dia após dia.

Ela também pensava no que deixara para trás, quando passou pela porta envidraçada. Aquele local que parecia ser uma clínica hospitalar, mas na verdade o lugar cheirava a morte, pairava no ar o olor putrefato de cadáveres.

 Pensara na decisão repentina que ela tomou:

 — Por que não fiz o aborto, meu Deus?

Ana Paula Caetano pensava em tudo, na família, na vergonha e nos que os outros iriam falar e os dedos em riste. Ela pensou em todos e todas, menos no filho que teria para cuidar sozinha daqui alguns meses.  

 

Samuel da Costa é contador e funcionário público em Itajaí, Santa Catarina.

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br  

 

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