sábado, 1 de março de 2025

SOMOS PRIMOS UNS DOS OUTROS

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal) 

 

" Descendo de D. Afonso Henriques, assim como o leitor, e igualmente de qualquer servo de plebe do século XII. Todos os europeus descendem de Carlos Magno e de Maomé. Todos os seres humanos vivos descendem de Confúcio. E também de qualquer escravo do antigo Egipto. São surpresas da Matemática da genealogia." - Jorge Buescu.

Portanto, meu caro leitor, somos todos primos, uns dos outros, em diferente grau de parentesco.

 Descendemos de Reis, somos primos de navegadores e, do célebre sábio de Israel: Salomão. Para sabermos se é verdade, basta paciência, e procurar bisavós; os bisavós dos bisavós.... É a conclusão a que chegou a Matemática da genealogia.

Uns, descobrem rapidamente o ilustre parente, recuando duas ou três gerações; outros precisam de recuar, após aturadas pesquisas, até á 340º geração, para encontrarem, entre os antepassados, figuras ilustres.

Assevera a Matemática da genealogia que todos nós temos um pai e uma mãe; quatro avós e oito bisavós; e quanto mais recuarmos, o número dos antepassados, via masculina e feminina, avoluma-se. Claro que a genealogia deverá ser, se possível, em linha direta, e masculina.

 A árvore genealógica é gigantesca: os ramos acabam por se entroncarem num tronco comum. Árvore cujas raízes se perdem num único tronco: a Árvore da humanidade.

Não erramos se dissermos – o brasileiro tem raízes em África, na Europa e em todos os outros continentes, devido à imigração maciça, mormente no século XX, o que alterou bastante as antigas tradições dos primitivos colonizadores – portugueses e italianos.

Tudo ou quase tudo, que escrevo, é a conclusão a que chegou, Joseph Chang, da Universidade de Yale.

Tive oportunidade de entrevistar figura importante da nobreza portuguesa, da mais nobre linhagem. A certo passo da conversa, falou-me do pai – reconhecido intelectual, – e comunicou-me seu pensar sobre o que é ser nobre:

- " Ser descendente de... é orgulho; mas não privilegio, pelo contrário, um dever: há obrigações a respeitar – como o nome que recebemos – pela atitude, probidade e carácter. Para ser nobre, não basta ter sangue " azul". Mas só são verdadeiramente, nobres, os que respeitam os antepassados – pela conduta e atitude. Infelizmente nem todos pensam assim."

As citações e pareceres apresentados, nesta crónica, foram colhidas do tomo: " Ascendência Portuguesa de uma Família Nobre Portuguesa" – Introdução.

NO TEMPO EM QUE SE QUEIMAVAM BÍBLIAS

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)

  

Minha bisavó Júlia era católica de quatro costados. Nos confusos anos da Primeira República, quanto mangadores acercavam-se do peristilo dos templos, chaqueando " beatas", a bisavó Júlia, apoiada na fina bengala de ébano, passava entre os enegrumes indiferente à cachoada, para participar na missinha.

Recém-casada viveu em Massarelos. Uma manhã bateram-lhe à porta – era desconhecido, que pretendia ler a Bíblia. Gostou do que ouviu, e adquiriu: " O Novo Testamento" editado na Typografia Universal, em 1868.

Na hora de almoço, o marido, viu o Livro " maldito", e intimou-a a queimá-Lo, por ser protestante! Não obedeceu, atirou-O para cima de guarda-louça, quando ele saia, deliciava-se com a leitura.

Erradamente há quem pense que a Igreja salva, olvidando o que disse Jesus – " Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai. - Mt7:21

E como conhecemos a vontade do Pai?

Na Bíblia; melhor no Evangelho - que é o manual de instrução do crente.

Crente, é o que crê em Jesus e pertence à Igreja universal. Seja: católico, evangélico. ortodoxos, e até seitas, desde que frequente, com fé, o templo, sem interesse monetário ou promoção social.

Fico banzado ao conhecer desavenças entre fiéis de Confissões diferentes. Não somos todos irmãos, filhos do mesmo Pai?

Voltemos à bisavó Júlia:

Escutou certo domingo, a prática de abade, que recomendava – queimar Bíblias protestantes. Escrupulosa, resolveu conversar com o padre, porque possuía uma, recheada de preciosas gravuras, em dois volumes. Meteu os tomos na bolsa, e abalou em busca do sacerdote.

Este, viu; examinou; apreciou as gravuras e, concluiu:

. " É pena queimá-La! Eu fico com Ela...

Empertigou-se a bisavó, e repostou:

- " Se serve para o Senhor abade, também serve para mim!"

Enfiou os Livros na saca, e saiu apressadamente. Era Senhora simples, mas de compreensão rápida...

A cena que narrei aconteceu no primórdio do século XX. Hoje seria absurda.

Como disse: a Igreja não salva, mas Deus. Segundo o evangelista Billy Graham, que por mais Igrejas que se passe, em norma, regressasse à da infância.

Rivalidades entre cristãos, muito menos conflitos, como aconteceu na Irlanda, só representam ignorância, ou são apenas interesses políticos e económicos.

Admite-se proselitismo, mas ódios, desavenças são impróprias dos servos de Deus, e só demonstram ignorância.

Será que Ele, quando o crente estiver no Tribunal de Cristo – Rm14:10/2ºCor5:10 – perguntará, qual a Confissão que professou?

A ARTE POÉTICA DE VALÉRIA GURGEL (NOVA LIMA, MG)

 







ENCADERNAR É CONTAR HISTÓRIAS

Por Leandro Bertoldo Silva (Padre Paraíso, MG) 


Há mais de 2.500 anos, livros têm sido usados ao redor do mundo para diversos objetivos, desde religiosos, informativos, artísticos, entre outros. Códices maias, papiros egípcios, iluminuras de manuscritos medievais, as impressões de Gutenberg e Aldo Manúcio, cartografias, atlas das grandes navegações, cartilhas, livros para crianças, de cavalaria, de horas, são exemplos de um verdadeiro banquete e inspiração para a humanidade.

Por mais diversos os objetivos, uma coisa é certa: todos eles passaram pela encadernação, essa arte milenar a atravessar gerações. Não é exagero dizer, portanto, que a encadernação é uma das representatividades históricas mais importantes de que se tem notícia.

Não fosse ela, ainda hoje estaríamos a depender das pinturas rupestres feitas com ocre pelos aborígenes australianos ao representarem nas cavernas corvos e bisões.

A escrita como sistema de registro codificado, só aparece muito tempo depois, por volta do início do 4° milênio a.C., onde começam a ser desenvolvidas as estruturas por onde esses escritos tão ricamente ornamentados ganham morada e, consequentemente, preservação e, principalmente, mobilidade. Está aí uma imensa evolução! Duvida? Imagina carregar uma caverna no bolso…

Em cada época surgiram técnicas das mais simples às mais elaboradas. Encadernadores de várias partes do mundo contribuíram com suas criações que, ao longo dos anos, foram se desenvolvendo não apenas no critério documental, mas artístico. Alguém duvida que o Corão, o livro de Kells, os livros hebraicos são considerados verdadeiras obras de arte?

Em fins do século XVIII, o mercado de livros ganhou ainda mais notoriedade agora não com a hegemonia dos livros religiosos, mas também obras clássicas ao lado da ficção de entretenimento. Eram livros muito bem-produzidos e de encadernações luxuosas. Todo esse conhecimento foi e ainda é migrado para a produção artesanal de cadernos e muitos são os artesãos que se empenharam e se empenham nessa arte. Cada corte, cada ponto, cada costura repassadas e criadas são histórias sendo contadas. As técnicas são tão variadas quanto a criatividade de quem as realiza.

O melhor da encadernação é quando começamos a fazer os nossos próprios projetos! Estes da ilustração são cadernos em que utilizei algumas técnicas juntas, como a costura francesa, porém aparente, com a abertura tipo Copta a partir da estrutura do Sewn Boards Binding, que é o início da encadernação capa presa. Tudo isso com a nossa tradicional arte da decoração com recortes e colagens.

O resultado é um caderno extremamente elegante, contemporâneo e atraente pelas suas cores e infinitas possibilidades de gramaturas, tipos de papel e combinações. Perfeitos para escrita de memórias, escrita terapia, receitas, poesias, Bullet Journal e muito, muito mais.

Eu como escritor independente sempre desejei que os livros, mais do que o valor literário, pudessem ser vistos, eles mesmos, como objetos de arte. Por isso, escolhi produzi-los e confeccioná-los. Daí para os cadernos foi apenas um passo a partir de fundamentos de uma arte que está longe de acabar, mesmo com o advento da tecnologia. Basta lembrar novamente do princípio, onde muitos dos documentos, iluminuras, livros históricos produzidos pelos escribas em séculos passados, até hoje só existem graças a maior “tecnologia” da existência humana: a escrita à mão.

Portanto, deixo a seguinte reflexão: mesmo que um caderno e um lápis custem um pouco mais de dez centavos, como sugeriu Bob Grinde em uma de suas célebres frases, vale a pena comprá-los e escrever ideias e histórias que valham milhões.

 

PARA O TÉDIO, O TREINO

 Por Dias Campos (São Paulo, SP)

 

             Às vezes me pergunto por que tantas pessoas se entregam ao tédio?... Como se o dia não lhes oferecesse diversas oportunidades para reconhecerem o quanto a vida é pulsante.

Pois demonstrarei que em um simples passeio, mesmo que curto, muitos eventos, bons e ruins, estão aí, pululando, ávidos por serem percebidos. Para isto, contudo, será preciso que mudemos o nosso hábito, de ver para enxergar.

Neste sentido, por levar uma vida sedentária, o meu médico determinou que caminhasse pelo menos uma vez por dia. Posteriormente, quando já tivesse adquirido certa resistência, deveria escolher algum esporte; e que, por óbvio, não poderia ser o levantamento de garfo.

             Como não quero pegar o carro para ir ao parque, o que implicaria perda de tempo e gasto de combustível, escolhi o percurso de um quarteirão ao redor do meu prédio – O quanto deveria andar não foi especificado pelo referido profissional.

            Quando comecei este novo ritual, tomando, como sempre, os cuidados que a metrópole impõe – olhar para frente, prevenindo-me da ação de punguistas, e, para baixo, a fim de não pisar em “caco de vidro” de cachorro –, notei um ipê rosa que estava recamado de pompons.

Esse fato, a floração, sempre aconteceu. No entanto, foram os meus olhos que, mais atentos que os de costume, passaram a enxergá-la, e a apreciá-la como bem merecia.

Senti, então, que começava bem o meu dia. E prossegui redobrando a atenção.

Nem andara dez metros e a pontaria de uma pomba zombeteira revelou-se muito bem alinhada. Daí que a aba do boné da jovem que caminhava à minha frente mudou de cor, o que a obrigou a aposentá-lo na lixeira mais próxima. – Nem se precisaria dizer que ela, além de praguejar em alto e bom som, fez questão de desejar vida longa àquela ave agourenta.

Ao alcançar a esquina, topei com uma ambulante que parecia vender quitutes deliciosos.

Muito embora já tivesse tomado o café da manhã, não resisti à atração que um bolo de cenoura com cobertura de chocolate exercia sobre o meu pobre espírito. E me deleitei com aquela iguaria.

Depois de virar na segunda esquina, os meus olhos confirmaram o que os meus ouvidos já deduziam – Uma equipe da prefeitura podava uma seringueira centenária.

Sei que essa providência é corriqueira e muitas vezes necessária. Afinal, muitas de nossas árvores não passam de gigantescos cortiços para insaciáveis cupins.

Só que não tenho como disfarçar a dor que sinto quando vejo esses primores da natureza sendo mutilados sem dó nem piedade.

O jeito foi seguir adiante, resignado.

Na metade do trajeto, não pude deixar de rir ao ver um Poodle Toy latindo enfurecido para um corpulento Golden Retriever, que permanecia impassível diante de tanta ameaça.

É espantoso como esses pequeninos viram feras bestiais quando se creem acobertados pelos donos!

Ao dobrar a última esquina, avistei, do outro lado da rua, uma daquelas barraquinhas de lona que muitos mendigos utilizam como moradia.

A entrada estava fechada, o que não permitia concluir se o ocupante ainda dormia ou se já tinha saído em busca de alimento.

Fosse como fosse, bendisse a alma que, incógnita, teve a providencial ideia de comprar esses abrigos e de distribuí-los para tantos desafortunados.

Já me aproximava do lar quando me deparei com uma cena relativamente comum nas ruas de grande circulação. Era uma estátua viva, um rapaz fantasiado de anjo, todo alvo, em cima de um pedestal improvisado, e que entregava um bilhetinho para quem contribuísse com alguns trocados.

Ora, como a curiosidade aumentasse, e como nunca saio desprevenido, resolvi ofertar cinco Reais e ver o que a sorte me reservava.

Ao abrir o papelucho, não pude esconder o espanto. É que não me lembro de ter lido nos biscoitos da sorte, nem de ter recebido de algum realejo, uma mensagem afirmando que em vinte quatro horas muitos lances aconteceriam, mas que estes só seriam captados se os olhos estivessem bem abertos.

Pois apertei o passo, entrei eufórico no apartamento, sentei-me defronte ao computador, e deixei fluir esta crônica, na certeza de que os entediados, mirando-se nos exemplos que testemunhei, concordarão que é preferível enxergar a ver, e buscarão modificar-se a cada novo amanhecer.

GESTOS FEMININOS

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Toda mulher tem

gestos femininos.

Que encanta e fascina.

Chega até quebrar as rimas.

Esses gestos são suáveis.

 

Da sua doce voz

até no seu cozinhar.

A delicadeza com

ela está.

Nesse gesto eu vou pular no mar.

 

Dentro do seu lar ela

se dedica sem cessar.

Com os seus filhos não

tem limites para amar.

Nesses gestos eu vou ao Paraná.

 

Gestos femininos todo

cheio de brilho.

Tem uma mulher.

Sua beleza se iguala

ao mar imenso e lindo é.

 

INSTAGRAM: @liecifranborgesmartins

VOZES FEMININAS

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Alô, eu sou uma

mulher sensível.

Olá, também sou incrível.

Acorda e vai brilhar.

 

Grita o amor próprio

em frente ao mar.

Eu sou como Amélia

guerreira por demais.

 

Me espelho na Dandara

mulher incrível e muito mais.

Sou como Isaura que não

se rende por nada.

 

Ou até uma princesa

igual a princesa Isabel.

Cheia de beira.

 

Vozes femininas.

Tão lindas e belas

vozes são.

 

FEMINILIDADE

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Você não precisa dar

conta de tudo.

És uma princesa linda,

que veio ao mundo.

 

Esse peso não precisa pegar.

A sua voz não necessita do

tom aumentar.

Peça, peça com doçura.

 

Não venha dar uma

de machão.

Você sua essência

é pura doçura.

 

Amado pega esse

armário, por favor.

Pega esse galão de água

e coloca aqui, por favor.

 

Eu sou uma princesa

linda meu amor.

Minha essência é

ser feminina.

 

MULHER SENSÍVEL

 Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Eu sou uma mulher sensível.

Choro rimas com o meu sentir.

Faço poesias em flores.

Rimo até com o meu rir.

Quero flores do beija-flor.

 

Sensível eu estou.

Com TPM meu amor.

Vem me acalmar.

Traga chocolate.

Faça belas artes.

 

Eu sou sensível quando

você me faz rir.

Até mesmo com o

seu sentir por mim.

Eu sou uma grande rima.

 

Sensível é o meu sobrenome.

Delicadeza é a minha alma.

Feminilidade é o meu sentir.

Serenidade é o meu jeito de ser.

Mulher sensível eu sou.

 

OPERA MUNDI (9ª PARTE): EPÍLOGO (1ª PARTE)

Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)

‘’Incoerente, entreguei o meu coração...

 A alguém que mal conhecia.

Fiquei entre a demência e a razão,

Oscilando o meu próprio inconsciente.’’

Fabiane Braga Lima

 

A agora almirante Bartira, olhava perdidamente para o vazio da infinitude cósmica, ela não via as torres de Carcosa atrás da lua, nem estrelas Aldebarã, as Híades pendendo do céu e muito menos ouviu as sombras dos pensamentos de homens e mulheres, que se alongam ao entardecer e nem os sóis gêmeos mergulhando no lago de Hali.

A almirante Bartira, via e sentia uma estrela evanescer, mas o astro se negava a morrer e tendia a virar uma supernova no seu derradeiro fim. Pois o corpo celeste simplesmente se negava a se expandir e virar um astro-morto. A estrela tinha ao lado uma estrela anã branca e em uma batalha contra a gravidade os dois astros se fundiram e explodiram, o brilho astral que percorreria na vastidão cósmica, por eras infindas. Coisas que nem distância astral, nem as poeiras cósmicas, impediam a militar de alta patente de admirar e encontrar por fim, uma saída para um dilema em que a circundava. Tornar permanente o que é efêmero, tornar estável o que por natureza é instável, o desafio estava lançado e agora é encontrar o problema gerado uma solução definitiva.

Um tanque robô Aparai AS13, surgiu na frente da almirante, a máquina de combate, chamou a atenção da militar de alta patente, para realidade urgente e premente. Lembrar do cerimonial, onde ela subiria de patente, foi marcado dali a pouco, pelo conselho supremo. Um simples protocolo a seguir e a comandante de campo Bartira, por hora daria cabo de todas as pendências, antes de resolver o que de fato que importava. Bartira se multiplicou em um avatar, olhou para si e ver os longos cabelos, os olhos negros rasgados, penas de arraras nas orelhas, o traje de combate negro de vinil. O avatar, então foi até o computador quântico, para dar conta das muitas mensagens, que não pararam de chegar e o que chamou a atenção foi a mensagem da deusa Bastet, a deusa dos felinos. Depois de elogios e parabéns protocolares, pela promoção de patente a ser oficializada, Bastet agradeceu a viagem de seus súditos e informou que o documento final, a constituição dos felinos, já estava finalizado. E fora do protocolo, em um tom de censura, Bastet falou que a triturar com as próprias garras, se misturasse os seres humanos, com os seus súditos felinos de novo. E o que seguiu depois, foram mensagens protocolares e amenas, de todos os quadrantes do cosmo, dos multiversos.

 Almirante Bartira, concomitantemente deixou o avatar responder às mensagens protocolares e ela foi até a ponte de comando, foi conduzir o Dirigível Mare Crisium, até um buraco de minhoca, que se formou à frente. A belonave, estava sobrevoando o deserto desolado da semideusa, a afra rainha Luna Dark, a ponte arco-íris Byfrost conduziria a astronave de combate a uma dimensão ignorada e pouco frequentada do cosmo. A comandante se dividiu de novo e deixou para o seu avatar, na ponte do comando, conduzindo a belonave. Almirante Bartira, bem poderia flanar para até o seu camarote, mas preferiu andar até o seu aposento privado. Andou poucos metros pelo corredor central e subiu os lances das escadas, alcançou o seu camarote pessoal por fim.

E ali na tranquilidade da solitude, a militar de alta patente se trancou e se fechou hermeticamente, Bartira pensou e fez circular entre os comandantes, alferes e os seus subordinados menores, uma ordem que ela não queria ser incomodada, fosse o que fosse, em hipótese alguma. A almirante Bartira, pensou e fez desaparecer os poucos móveis que havia no lugar, ela não poderia se distrair com nada, para além de si. A militar de alta patente, fez surgir à frente dela, uma pequena câmara ardente, um cubículo de energia quântica, com um trono no seu interior e ao adentrar no lugar a almirante fez a porta se fechar.

Uma vez dentro da câmara ardente, a almirante Bartira pensou na afra rainha Luna Dark e como ela foi imprudente em deixar o exílio perpétuo e ir procurar o cibernético vate Yendel, na Turris Ebúrnea. E como o bibliotecário-mor do deus Calibor, foi imprudente a deixar a terra dos sonhos e ir ao encontro de afra rainha Luna Dark, no mundo em vigília.  A almirante Bartira fechou em sim e entrou no seu palácio da memória.  

 

Fragmento do livro: Sustentada no ar por asas fracas, de Clarisse Cristal, poetisa, contista, novelista e bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa Catarina.

Argumento de Samuel da Costa, poeta, contista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

 

 

OPERA MUNDI (10ª PARTE): EPÍLOGO (2ª PARTE)

 Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)

‘’Eu, ousei adentrar...

Em mundos desconhecidos, da minha vida cotidiana,

Como se houvesse uma vida, com algo,

Ou alguém que ao longe clamava por mim.’’

Fabiane Braga Lima

 

Antes de adentrar na câmara ardente, a almirante Bartira teve poucos nanosegundos, mas o tempo foi o suficiente para tecer algumas considerações sobre a afra rainha Luna Dark. E os passos tortuosos que a milady celestial, percorreu após deixar o deserto desolado, depois que a afra rainha, embarcou no Dirigível Mare Crisium e adentro na Bifrost, de embarcou da belonave e pôr fim se embrenhou a Turris ebúrnea.

O que houve de fato dentro da Turba ebúrnea, a almirante Bartira não sabia, mas teve uma vaga ideia, do que se desenrolou ali, pois a imprudência de abandonar o exílio imposto por Hastur. Devido a conexão neural, a militar de alta patente, compartilhou as sensações avassaladoras de vazios, desesperos e abandonos, quando a afra rainha Luna Dark, percebeu por fim que o vate Yendel, ali não se encontrava mais.

O passeio em si, da aristocrata, membro da corte de Hastur, no reino de Calibor, tinha tudo para dar errado. E Bartira, a militar de alta patente, teve a noção exata da tragédia em si, quando a afra rainha, voltou ao mundo em vigília e incorporou o avatar, que tinha deixado para trás. Foram dias e noites, na terra dos sonhos e poucos minutos na terra em vigília.

A afra rainha Luna Dark, produziu uma onda magnética devastadora ao incorporar o avatar, ela fez ruir o elevado do autopista, que fez ruir a segunda pista e por sua vez soterrou a primeira pista. Além de sair ilesa da devastação e gerar muitas mortes e feridos e a onda magnética, também promoveu distúrbios em aparelhos elétricos, mecânicos e eletrônicos por quilômetros.  

Como uma das poucas sobreviventes, a afra rainha Luna Dark, teve que se reinventar aos longos dos anos e depois de um longo tratamento psiquiátrico. Bartira foi informada que Luna, tinha se reinventado e a assumira em um cargo menor, em um parlamento. Na verdade, na câmara alta e logo no primeiro dia a aristocrata, quase matou uma mulher e nos dias seguintes à milady exilada da corte negra de Hastur, começou a burilar o ambiente usando a telecinese. E não demorou muito para Calibor descobrir que a afra rainha Luna Dark, tinha levado, junto a si, o palácio das memórias do vate Yendel. Yendel, o bibliotecário-mor de Calibor, se encontrava desativado, o cyborgue o depositário do acervo, de todas as aquisições e saques afetados em civilizações e planetas, que o deus cósmico Calibor, promoveu durante incontáveis eras.

O final deste imbróglio não poderia ser outro, o funeral Lavívi, as exéquias imperiais fúnebres deveriam ser executadas, mesmo a afra rainha Luna Dark e vate Yendel não serem casados formalmente. Pois a afra rainha Luna Dark, como uma imortal semi-deusa e o vate Yendel, sendo um cyborgue, nascido de uma explosão uma supernova, também não poderia morrer. Lançá-los ao astro rei foi a solução, era o assim o rito do funeral Lavívi, que raramente era usado.

A almirante Bartira, recém promovida, teve está incumbência, pois o funeral imperial Lavívi, somente poderia ser executado por um almirante, um militar de alta patente, consagrado nos campos de batalhas. Mas, Bartira teve outra ideia, estapafúrdia a princípio, mas depois heréticos sussurros aqui e ali, vozes veladas, davam conta de um mito, esquecido a muito tempo. A união de máquinas e seres vivos, não que isto seria uma novidade, pois Yendel era um cyborgue. O desafio, era unir os dois seres celestes, ambos detentores de poderes inimagináveis e quase ilimitados. E a almirante Bartira, pesquisou a fundo e descobriu a existência de um rumor vago, que algo próximo disso já tinha ocorrido e as pesquisas apontavam para o palácio da memória, do vate Yendel.

            Ao adentrar na câmara ardente, feita de energia quântica, a almirante se conecta ao cyborgue Yendel, que estava encapsulado na sala da proa do vaso de guerra, o Dirigível Mare Crisium. A almirante Bartira, adentra na finitude do palácio das memórias do Vate, ela se multiplicou e se multiplicou e se multiplicou, em um ciclo infinito. Os pergaminhos digitais foram vasculhados, bancos de imagens foram assistidos, arquivos de áudios foram ouvidos e analisados, hologramas projetados, antigos alfarrábios consultados e proibidos grimórios foram recitados. Sigilo místico, há muito tempo esquecidos, foram invocados, cânticos sagrados foram entoados, poemas e cânticos foram bradados e virtuais computadores quânticos foram ligados. E, por fim, a almirante encontrou o que procurava, a câmara ardente se desfez e a almirante Bartira, foi lançada ao chão exausta. Na mente do militar surgiu um nome: O protocolo Lavívi, por fim foi encontrado.  

      

Fragmento do livro: Sustentada no ar por asas fracas, de Clarisse Cristal, poetisa, contista, novelista e bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa Catarina.

Argumento de Samuel da Costa, poeta, contista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

 

O ARAUTO DO FIM DO MUNDO

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

Para o poeta André Pinheiro 

 

No pôr-do-sol

No fim da noite

É meia-noite! É o arauto!

Do fim da vida

Do fim de tudo

É meia-noite

É no fim de tudo

Que se celebra a vida!

São os Santos

Os mártires!

Pois é no martírio...

Que se conhece a vida!

Que se respeita a morte!

Que se consagra a vida!

São nas segundas...

Que se celebra a vida

Que se bebe o álcool... 

Que se espera a morte!

Que se recita os versos!

Sou eu! A espera a morte!

Que não vivo a vida!

Que eu ouso o meu nome!

Sou eu que em prantos

Grito: Estou vivo

E bem vivo por sinal...

É na segunda que eu fico em casa

Para celebrar a vida!

Para esperar a vida!

É na segunda-feira

 Que eu fico em casa!

A esperar a vida!

Fragmento do livro: Uma flor chamada margarida, de Samuel da Costa, contista, poeta e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

LESOTO: PARA CULTIVAR GIRASSÓIS (1ª PARTE)

 Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

Cultivar palavras raras!

Semear os vossos versos vaporosos

 No desértico solo pós-moderno!

Ver crescer o platônico amor

Pela poetisa alvaresiana...

 Pela sacrossanta virgem vaporosa!

Dormir... Simplesmente adormecer!

 Perder a consciência,

Da realidade contemporânea abstrata. 

No mundo liquefeito!

Onde nada é real.

 

 

            Lesoto caminhou pelos corredores estreitos, até a sua estação de trabalho, ele usava roupas casuais e leves, muito diferente do seu primeiro dia de trabalho, quando usava um impecável feito sob medida. Expatriado que era, logo pensou no primeiro dia de trabalho, o cidadão do velho mundo, se chocou com a informalidade do ambiente do novo trabalho. Os olhares tortos, risos leves das caras ebúrneas e pardas, diante de um sujeito de pele escura como a noite. Ele vestido, impecavelmente como se fosse um diplomata do velho mundo, de fato foi desconfortável para Lesoto. Então o outrora Ernesto Cacinda, jornalista e revisor de profissão, se transmutou em Lesoto Maombe, foi o curador da Revista astro domo, quem o renomeou, uma tradição naquele lugar. A Revista astro domo, uma revista de arte popular, cultura pop e alternativa, moda e comportamento. Era um obscuro veículo de vanguarda, pelo menos a versão imprensa, pois a revista estava em várias redes sociais digitais e a página da revista na rede internacional de computadores. O veículo, era referenciado tanto pelos cultuadores e pelas cultuadoras das artes populares e também pelos ditos acadêmicos e eruditos, da alta cultura e do pensamento elevado.    

            O então Ernesto Cacinda e agora Lesoto Maombe, segurando uma sofisticada maleta executiva preta, caminhou em meio as funcionais mesas de escritório e fechados nichos. Barulhos de dedos ágeis e ávidos, batendo em frenesi em teclas de máquinas de escrever e modernos microcomputadores, inundavam o ambiente. Em contrastes dos marasmos e as quietudes de homens e mulheres, que fechado si, leiam, escreviam e revisam textos. E nas periferias da redação, havia as pequenas células, em reuniões informais de trabalho, onde se falava alto e se debatia métodos, dados e estáticas. Desde o primeiro dia de trabalho, Lesoto Maombe, notou que naquela confusão organizada, havia dois tipos distintos de profissionais trabalhando ali. Homens e mulheres jovens e de meia idade, ou eram da área de comunicação, arte e cultura ou áreas correlatas, haviam os tecnocratas e os alternativos. Com o convívio diário Lesoto Maombe, tomou conhecimento de dois termos caricatos, que qualificava os elementos ali dispostos. Eram os serifas e os sem serifas, os conservadores tecnocratas, eram os serifados e os alternativos, eram os sem serifas. Lesoto Maombe, se divertiu com os resultados das cizânias, tudo era resolvido sem sérios atropelos e atritos ferozes.  

            Lesoto Maombe, que depois de vários desterros involuntários no velho mundo, as circunstâncias levaram-no a cruzar o oceano, rumo ao desconhecido novo mundo, mundo desconhecido para Lesoto. O polido, filho de um militar de patente intermediária e uma rebelde intelectual militante, ao chegar na terra nova, os choques culturais foram muitos. O rebatizado Lesoto Maombe, tal como uma célula dormente, ele quase sem reservas, estava inerte à espera de uma indicação que não chegava. Até que a indicação para ele trabalhar na Revista astro-domo chegou. A priori, seria um cargo de revisor, para a versão digital da revista e caso se adaptasse ao ambiente de trabalho, para Lesoto Maombe seria oferecido outras oportunidades.

               Lesoto Maombe, se adaptou rápido ao caótico ambiente de trabalho, sem maiores problemas, e superou os percalços que naturalmente apareciam. E surgiram os termos técnicos brainstorm, briefing, clipping, teaser, deadline e  job, eram alguns dos termos usados de forma corriqueiras naquele ambiente de trabalho. E diariamante Lesoto Maombe tinha diante dele, como ferramentas de trabalho, uma sorte variada de dispositivos digitais, papel, caneta e dicionários de uma pequena e funcional biblioteca tem sortida. O revisor, poderia escolher a vontade as ferramentas, dispostas diante dele, bem como definir os horários de trabalho. O único impeditivo era levar o trabalho para casa, as coisas ali ocorriam e ali as coisas permaneciam.    

            Municiado de papel, caneta e um tablet, os jobs caiam na mesa de Lesoto Maombe, era uma gama variada de artigos técnicos, artigos de opinião, poesias, crônicos, críticas de cinema, de teatro, análises de livros, contos e fragmentos de romances. Textos de vários escritores diferentes, que iam de desconhecidos e renomados, eram textos para a versão online da Revista astro-domo, bem como para as redes sociais digitais, que a revista mantinha na internet. Lesoto Maombe recebia os textos impressos e os corrigia, vez ou outra recebia textos no seu tablet, imprimia e revisava. Uma vez corrigidos os textos, o revisor batia uma fotografia do texto com o tablet e enviava para o redator curador e Lesoto repassava o texto ao arquivista.     

            E foi assim por semanas e meses e um relacionamento com os colegas de trabalho, em uma distância segura, com conversas amenas e técnicas. Até o Simas, o redator chefe da revista, o tecnocrata, o serifado, veio ter uma conversa com Lesoto Maomba. O homem acima do peso, calvo, de meia idade, vestindo uma camisa incrivelmente branca e seus suspensórios, sempre com um cigarro na boca ou copo de café na mão. Simas encarnava a personificação da rotina e continuidade, um profissional metódico, sem meias palavras e responsável pela versão física da Revista Astro-domo. Uma versão, que Lesoto Maombe nunca tinha visto, nem mesmo uma clipagem, um prospecto, uma propaganda ou o que fosse da versão física da revista, que ele trabalhava.   

            — Querido Lesoto, estás aqui, vivendo no nosso pequeno caos! — Disse Simas, de forma amável, ele de pé na frente da mesa de trabalho de Lesoto e continuou — Tenho uma tarefa para o senhor!

            Simas depositou lentamente, uma fotografia na mesa de Lesoto, depois levou um cigarro a boca e acendeu. Tragou, sorriu e olhou de forma desafiadora para Lesoto e o revisor pegou a fotografia e viu a fotografia de um girassol no quintal de uma casa simples.  

 

Fragmento do livro: Sono paradoxal, de Samuel da Costa, poeta, novelista e contista em Itajaí, Santa Catarina.

 

LESOTO: PARA CULTIVAR GIRASSÓIS (2ª PARTE)

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)



Gira e gira o sol

O girassol que germinou

A divinal flor astral que não capitulou

Que não se rendeu...Que te amou

E se dispersou

Inflorescências nectáreas

Que dispersaram no celestial vergel

Das infinitudes cósmicas

Dos nectáreos olhos teus

 

 

Na aurora dos deuses e deusas, as divindades africanas no novo mundo são chamadas de Orixás e o desterrado olhou para o panteão da deidade do berço da humanidade, olha como se visse velhos e bons amigos. Pede ao Orixá Esú que cuide bem casas simples, das periferias das cidades, a marcar um fraterno encontro em uma encruzilhada qualquer e que proteja os sacrossantos templos. E conversa com os olhos com Ogum, o Orixá do ferro, do fogo, das guerras e das tecnologias. Que fecha os olhos e ora para Oxóssi: Orixá que lhe traz dádiva da fartura e empunhando lanças, arcos e flechas e vai fazer companhia na caça. E coloco as mãos nos ouvidos é o Xangô o orixá que fez anunciar por estrondo de um trovão faz arde em chamas divina o fogo dos deuses, ele o protetor da justiça, me reduz ou que eu sou, um ser mortal. E logo ao lado dele o Oxumarê Orixá que fez chover depois da fúria e trouxe o arco-íris e ele a segurar duas cobras. Pago na mão de Oxum o orixá que me recobre de ouro a me acompanha no serpentear os ondulantes e sinuosos os rios, e jogo de búzios e vê os meus amores passados, presente e futuro amor. Ao longe escuto o bem canto de Iemanjá a afra rainha, a orixá das águas, dos lagos, mares e fertilidade.  E além das infinitudes astrais, Nanã a orixá dos pântanos e me convida a conhecer o derradeiro fim, a lhe encontra no fim da vida morte. E fico de joelhos para Onilé a Orixá, fico de joelhos para cultuar a mãe terra. Eu ouso perguntar a Ifá a Orixá da adivinhação e pergunto qual é o meu destino neste deserto do real. E finalmente me rendo a Oxalá o orixá supremo, o rei de todos os reis e das todas as rainhas os mais poderosos de todos, o pai de todos os Orixás e dos seres mortais.

No ocaso da humanidade, o desterrado, um senhor de idade avançada, provavelmente um desterrado do velho mundo, logo cedo, ao raiar do novo dia, caminhava devagar, ia até os fundos da casa simples, ia cuidar do jardim. E entre tulipas, rosas e gerânios, eram os girassóis que lhe detinha maior atenção. Voltava para casa, provavelmente ia tomar café com um homem mais jovem, provavelmente o seu filho, outro homem desterrado. Entre conversas corriqueiras e amenas, em uma língua desconhecida, o senhor mais velho, depois de esvaziar uma xícara de café, o senhor de cabelos brancos se levanta. Ele usando roupas simples, vai até a varanda da casa simples de uma periferia de uma cidade apoplética. O homem mais jovem, de meia idade, termina seu café da manhã, usando o seu terno escuro, uma gravata vermelha e nos pés sapato de couro lustrado. Ele estava vestido elegantemente de forma impecável.

A cena desvaneceu com o senhor sentado na varanda da casa de madeira, ligava o seu rádio a pilha e ouvia notícia da sua longínqua terra e o homem de meia idade, com a maleta a tiracolo, passa pela varanda, diz algo para o homem idoso. Um carro de aluguel o aguardava na frente da casa. Eu na sacada da minha casa, via e revia a mesma cena todos os dias, como se fosse uma realidade projetada. Eu um desterrado do velho mundo, não com saudades da minha nação, pois a muito descido que sou um cidadão do mundo e viver sem fronteiras.

Vejo o homem idoso desligar o pequeno rádio, ao ver o homem mais jovem adentrar o carro e partir. Encerando assim a minha rotina, sabendo que no dia seguinte os mesmos fatos se repetiriam em um imutável eterno retorno

 

Fragmento do livro: Sono paradoxal, de Samuel da Costa, poeta, novelista e contista em Itajaí, Santa Catarina.

 

NÃO! EU NÃO QUERO MAIS SER NEGRO

 Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

(Para Sebastião Lucas Pereira)

 

Cansei de ser negro!

Cansei de ser parado pela polícia!

De ser confundido

Com m bandido qualquer...

De ter relações promíscuas

Com os políticos

Sendo sempre massa de manobra

Na mão de algum abnegado...

Não! Eu não quero mais ser negro

Ser minoria nas universidades;

Ser tachado de preguiçoso...

Ser o primeiro de lista dos desempregados

Não quero ficar para trás

De tudo e de todos

Cansei de ser preterido

Das oportunidades

De ter um futuro melhor

Eu não quero mais ser negro

Cansei de ser excluído de todas as formas

E de todas as maneiras

Definitivamente estou cansado de celebrar

Meus ritos as escondidas

Dos olhos da sociedade

Não! Eu não quero mais ser negro

E ter a responsabilidade de ser:

Melhor nos esportes

Em tablados e nos palcos

Não! Eu não quero mais

Ter um passado negro

Que lembra a escravidão

De sentir dores infindas

Quero renunciar ao meu futuro

De aflições...

Eu não quero mais ser negro

Chega de sofrer o banzo

Na pós-modernidade

 

 

Fragmento do livro: Uma flor chamada margarida, de Samueda Costa, contista, poeta e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

 

UM DIA E VOCÊ DE NEGRO

 Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

Um dia e nada mais...

E os meus olhos rasos d’água!

Tentando entender...

A minha dor! A minha negra dor!

E eu a te decifrar! Nestes dias incertos

Em horas impróprias

Como se eu fosse feito aço!

Como se tu fosse de feita de vidro!

E um dia na minha pele negra

Que tem a cor das revoltas

Os sabores ocres das chibatas!

Sou eu o ilhéu! O negro ilha!

Perdido em meio

A um mar de preceitos

Tabulados e sistematizados

Em meio a um infindo oceano

De pré-conceitos! Aceitos!

Sistematizados e multiplicados

Pelas telas da TVs...

Nas ondas dos rádios

Preconceitos aceitos

E espraiados nas entranhas do poder!

Sou eu ovacionado

Em meio aos escombros

Da minha vida!

Que eu insisto! Que é minha,

Mas não é! São deles...

Que me chamam de inepto;

Fracassado e inútil...

Porque quero um mundo melhor!

Cheio de paz e sem medo

E que o velho negro

Outrora assassinado

Pare de sonhar

E que o sonho se torne realidade!

Uma realidade que ninguém entende

Mas eu! Como entendo!

Já não posso viver sem ela...

A Deusa de Ébano!

Linda como ela é,

Negra como a noite

Mas pura como o dia

Justo ela que me deu um filho

Que é negro!

Negro ilhado como ele só!

Está em meio ao preceito

Não aceito

Que todos somos iguais!

Mas não somos

Nós! Os negros! Os periféricos

Somos os últimos nas filas

Dos bancos oficiais ou não!

Somos os últimos...

Ah quem dera...

Tu ser tornar eu!

Negro como a noite...

Mas puro como dia!

Ser livre em meio a um mar

De água salgada

Perdido em um Brasil/África!

Pois sou negro/brasileiro

Que fujo da polícia

Assediado pela política

Que tem olhos verdes...

Que falam as línguas...

Que os Orixás não entendem!

Quem dera tu em dia em negro

Um dia na minha vida


Fragmento do livro: Uma flor chamada margarida. Texto de Samuel da Costa, contista, poeta e novelista em Itajaí, Santa Catarina.