sábado, 1 de março de 2025

OPERA MUNDI: LESOTO E A PERPÉTUO EXÍLIO

 Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

A beira-mar, se localizava a aldeia de Lesoto Maombe, que em tempos imemoriais passava por provações, os peixes outrora abundantes nos rios e no mar rareavam, crianças não nasciam ou nasciam mortas, as cabras não davam leite, a caça era escassa e as plantações secavam. Parecia que Xangô, o deus do trovão, do fogo e da justiça, Iansã divindade dos ventos, tempestades e raios, Oxum a divindade das águas dos rios e das cachoeiras, Ogum o deus da guerra, do ferro e do trabalho, Esú o controverso deus da fanfarronice e Oxóssi: o deus guerreiro, eles todos e todas simplesmente tinham desaparecidos para todo o sempre. Não ouviam os clamores dos seus súditos, por mais que as oferendas fossem feitas e os ritos praticados. Em desespero, o conselho tribal se reuniu em um conclave e decidiu voltar às antigas práticas, há muito esquecidas, iniciadas quando um grupo desconhecido de muzungos, desembarcaram na orla da praia. E em meio de fortes apelos, murmúrios e gritos desesperados, acusando o conselho supremo de blasfemos.

Para Lesoto Maombe, lembranças vagas chegavam para dele, quando era uma criança bem pequena, ele nos braços de um Açogbá, eles subindo o Quidebanjaro, eles languidos subiam ao monte do pico nevado, a caminho do templo de Dagantakala, mais conhecido como Dagon. Os dois vestidos com trajes cerimoniais alabastrinos, pois Dagon, o deus da fertilidade, exigia o seu tributo, para conceder as suas graças. Ao chegarem no alto do cume nevado, encontraram o templo decadente, as colunas colossais caídas, passaram pelo portal depauperado. Passaram pelo átrio do templo, o Açogbá que carregava o pequeno Lesoto Maombe, colocou a pequena criança, de sangue nobre, no chão de mármore negra. Diante deles, um grandioso monólito de Dagon, imponente no altar, Dagantakala sedento parecia cobrar o seu tributo. O Açogbá apontou para o ídolo, sem dizer uma palavra sequer, ordenou que o pequeno Lesoto Maombe, deveria ir sozinho até o monólito de pedra. O sumo sacerdote, deu as costas, enquanto o menino, de sangue nobre subiu as escadarias do altar, caminhou até o monumento. Um forte cheiro putrefato, de animais marinhos mortos e água oceânica, empesteou o lugar e um estrondo tomou conta do ambiente, um urro primal, vindo do cosmo, inundou o templo. Uma revoada de agourentas aves Moris, enegreceu o céu e os gorjeares das negras aves, prenunciaram o início de uma grandiosa tragédia. 

***

O comandante de campo Lesoto Maombe, com dificuldade, caminhava pelas areias alabastrinas do deserto desolado, da afra rainha Luna Dark. O comandante de campo, se lembrou da ida até a Turris Ebrurnea, a morada do cyborgue vate Yendel, o súdito do deus cibernético Calibor. O vate ladeado da semideusa, a afra rainha Luna Dark, a protegida de Hastur, o rei de amarelo. E dos muitos níveis, daquela união absurda, estava mais que errada e até quando a tragédia preanunciada se daria cabo. Mas por hora, o comandante de campo, tinha uma missão, encontrar o general Botswana, para ambos irem até a cidade das nuvens, a cidade santuário de Calibor. A afra rainha Luna Dark, se encontrava no autoexílio perpétuo, no mundo em vigília e aquele momento era o ideal para resgatar o honroso militar do exílio, por desonrar a patente e desafiar o deus cibernético Calibor.

O calor celestial, que emanava dos sóis gêmeos, castigavam Lesoto Maombe, e o exoesqueleto estava no seu limite, o comandante de campo, levou a mão até o antebraço direito e ajustou o traje. Também ajustou a localizador e notou que o general Botswana não estava muito longe. Lesoto Maombe, fechou os olhos e evocou todos os Orixás, naquela hora extrema.               

 

Texto de Clarisse Cristal, poetisa, contista, novelista e bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa Catarina.

Argumento de Samuel da Costa, poetisa, contista, cronista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

 

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