Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)
A beira-mar, se localizava a aldeia de Lesoto
Maombe, que em tempos imemoriais passava por provações, os peixes outrora
abundantes nos rios e no mar rareavam, crianças não nasciam ou nasciam mortas,
as cabras não davam leite, a caça era escassa e as plantações secavam. Parecia
que Xangô, o deus do trovão, do fogo e da justiça, Iansã divindade dos ventos,
tempestades e raios, Oxum a divindade das águas dos rios e das cachoeiras, Ogum
o deus da guerra, do ferro e do trabalho, Esú o controverso deus da fanfarronice
e Oxóssi: o deus guerreiro, eles todos e todas simplesmente tinham
desaparecidos para todo o sempre. Não ouviam os clamores dos seus súditos, por
mais que as oferendas fossem feitas e os ritos praticados. Em desespero, o
conselho tribal se reuniu em um conclave e decidiu voltar às antigas práticas,
há muito esquecidas, iniciadas quando um grupo desconhecido de muzungos,
desembarcaram na orla da praia. E em meio de fortes apelos, murmúrios e gritos
desesperados, acusando o conselho supremo de blasfemos.
Para Lesoto Maombe, lembranças vagas chegavam para
dele, quando era uma criança bem pequena, ele nos braços de um Açogbá, eles
subindo o Quidebanjaro, eles languidos subiam ao monte do pico nevado, a
caminho do templo de Dagantakala, mais conhecido como Dagon. Os dois vestidos
com trajes cerimoniais alabastrinos, pois Dagon, o deus da fertilidade, exigia
o seu tributo, para conceder as suas graças. Ao chegarem no alto do cume
nevado, encontraram o templo decadente, as colunas colossais caídas, passaram pelo
portal depauperado. Passaram pelo átrio do templo, o Açogbá que carregava o
pequeno Lesoto Maombe, colocou a pequena criança, de sangue nobre, no chão de
mármore negra. Diante deles, um grandioso monólito de Dagon, imponente no
altar, Dagantakala sedento parecia cobrar o seu tributo. O Açogbá apontou para
o ídolo, sem dizer uma palavra sequer, ordenou que o pequeno Lesoto Maombe,
deveria ir sozinho até o monólito de pedra. O sumo sacerdote, deu as costas,
enquanto o menino, de sangue nobre subiu as escadarias do altar, caminhou até o
monumento. Um forte cheiro putrefato, de animais marinhos mortos e água
oceânica, empesteou o lugar e um estrondo tomou conta do ambiente, um urro
primal, vindo do cosmo, inundou o templo. Uma revoada de agourentas aves Moris,
enegreceu o céu e os gorjeares das negras aves, prenunciaram o início de uma
grandiosa tragédia.
***
O comandante de campo Lesoto Maombe, com
dificuldade, caminhava pelas areias alabastrinas do deserto desolado, da afra
rainha Luna Dark. O comandante de campo, se lembrou da ida até a Turris
Ebrurnea, a morada do cyborgue vate Yendel, o súdito do deus cibernético
Calibor. O vate ladeado da semideusa, a afra rainha Luna Dark, a protegida de
Hastur, o rei de amarelo. E dos muitos níveis, daquela união absurda, estava
mais que errada e até quando a tragédia preanunciada se daria cabo. Mas por
hora, o comandante de campo, tinha uma missão, encontrar o general Botswana,
para ambos irem até a cidade das nuvens, a cidade santuário de Calibor. A afra
rainha Luna Dark, se encontrava no autoexílio perpétuo, no mundo em vigília e
aquele momento era o ideal para resgatar o honroso militar do exílio, por
desonrar a patente e desafiar o deus cibernético Calibor.
O calor celestial, que emanava dos sóis gêmeos,
castigavam Lesoto Maombe, e o exoesqueleto estava no seu limite, o comandante
de campo, levou a mão até o antebraço direito e ajustou o traje. Também ajustou
a localizador e notou que o general Botswana não estava muito longe. Lesoto
Maombe, fechou os olhos e evocou todos os Orixás, naquela hora extrema.
Texto de
Clarisse Cristal, poetisa, contista, novelista e bibliotecária de Balneário
Camboriú, Santa Catarina.
Argumento
de Samuel da Costa, poetisa, contista, cronista e novelista em Itajaí, Santa
Catarina.
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