sábado, 1 de março de 2025

OPERA MUNDI (9ª PARTE): EPÍLOGO (1ª PARTE)

Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)

‘’Incoerente, entreguei o meu coração...

 A alguém que mal conhecia.

Fiquei entre a demência e a razão,

Oscilando o meu próprio inconsciente.’’

Fabiane Braga Lima

 

A agora almirante Bartira, olhava perdidamente para o vazio da infinitude cósmica, ela não via as torres de Carcosa atrás da lua, nem estrelas Aldebarã, as Híades pendendo do céu e muito menos ouviu as sombras dos pensamentos de homens e mulheres, que se alongam ao entardecer e nem os sóis gêmeos mergulhando no lago de Hali.

A almirante Bartira, via e sentia uma estrela evanescer, mas o astro se negava a morrer e tendia a virar uma supernova no seu derradeiro fim. Pois o corpo celeste simplesmente se negava a se expandir e virar um astro-morto. A estrela tinha ao lado uma estrela anã branca e em uma batalha contra a gravidade os dois astros se fundiram e explodiram, o brilho astral que percorreria na vastidão cósmica, por eras infindas. Coisas que nem distância astral, nem as poeiras cósmicas, impediam a militar de alta patente de admirar e encontrar por fim, uma saída para um dilema em que a circundava. Tornar permanente o que é efêmero, tornar estável o que por natureza é instável, o desafio estava lançado e agora é encontrar o problema gerado uma solução definitiva.

Um tanque robô Aparai AS13, surgiu na frente da almirante, a máquina de combate, chamou a atenção da militar de alta patente, para realidade urgente e premente. Lembrar do cerimonial, onde ela subiria de patente, foi marcado dali a pouco, pelo conselho supremo. Um simples protocolo a seguir e a comandante de campo Bartira, por hora daria cabo de todas as pendências, antes de resolver o que de fato que importava. Bartira se multiplicou em um avatar, olhou para si e ver os longos cabelos, os olhos negros rasgados, penas de arraras nas orelhas, o traje de combate negro de vinil. O avatar, então foi até o computador quântico, para dar conta das muitas mensagens, que não pararam de chegar e o que chamou a atenção foi a mensagem da deusa Bastet, a deusa dos felinos. Depois de elogios e parabéns protocolares, pela promoção de patente a ser oficializada, Bastet agradeceu a viagem de seus súditos e informou que o documento final, a constituição dos felinos, já estava finalizado. E fora do protocolo, em um tom de censura, Bastet falou que a triturar com as próprias garras, se misturasse os seres humanos, com os seus súditos felinos de novo. E o que seguiu depois, foram mensagens protocolares e amenas, de todos os quadrantes do cosmo, dos multiversos.

 Almirante Bartira, concomitantemente deixou o avatar responder às mensagens protocolares e ela foi até a ponte de comando, foi conduzir o Dirigível Mare Crisium, até um buraco de minhoca, que se formou à frente. A belonave, estava sobrevoando o deserto desolado da semideusa, a afra rainha Luna Dark, a ponte arco-íris Byfrost conduziria a astronave de combate a uma dimensão ignorada e pouco frequentada do cosmo. A comandante se dividiu de novo e deixou para o seu avatar, na ponte do comando, conduzindo a belonave. Almirante Bartira, bem poderia flanar para até o seu camarote, mas preferiu andar até o seu aposento privado. Andou poucos metros pelo corredor central e subiu os lances das escadas, alcançou o seu camarote pessoal por fim.

E ali na tranquilidade da solitude, a militar de alta patente se trancou e se fechou hermeticamente, Bartira pensou e fez circular entre os comandantes, alferes e os seus subordinados menores, uma ordem que ela não queria ser incomodada, fosse o que fosse, em hipótese alguma. A almirante Bartira, pensou e fez desaparecer os poucos móveis que havia no lugar, ela não poderia se distrair com nada, para além de si. A militar de alta patente, fez surgir à frente dela, uma pequena câmara ardente, um cubículo de energia quântica, com um trono no seu interior e ao adentrar no lugar a almirante fez a porta se fechar.

Uma vez dentro da câmara ardente, a almirante Bartira pensou na afra rainha Luna Dark e como ela foi imprudente em deixar o exílio perpétuo e ir procurar o cibernético vate Yendel, na Turris Ebúrnea. E como o bibliotecário-mor do deus Calibor, foi imprudente a deixar a terra dos sonhos e ir ao encontro de afra rainha Luna Dark, no mundo em vigília.  A almirante Bartira fechou em sim e entrou no seu palácio da memória.  

 

Fragmento do livro: Sustentada no ar por asas fracas, de Clarisse Cristal, poetisa, contista, novelista e bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa Catarina.

Argumento de Samuel da Costa, poeta, contista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

 

 

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