Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)
‘’Incoerente,
entreguei o meu coração...
A
alguém que mal conhecia.
Fiquei
entre a demência e a razão,
Oscilando
o meu próprio inconsciente.’’
Fabiane Braga Lima
A agora almirante Bartira,
olhava perdidamente para o vazio da infinitude cósmica, ela não via as torres
de Carcosa atrás da lua, nem estrelas Aldebarã, as Híades pendendo do céu e
muito menos ouviu as sombras dos pensamentos de homens e mulheres, que se
alongam ao entardecer e nem os sóis gêmeos mergulhando no lago de Hali.
A almirante Bartira, via e
sentia uma estrela evanescer, mas o astro se negava a morrer e tendia a virar
uma supernova no seu derradeiro fim. Pois o corpo celeste simplesmente se
negava a se expandir e virar um astro-morto. A estrela tinha ao lado uma estrela
anã branca e em uma batalha contra a gravidade os dois astros se fundiram e
explodiram, o brilho astral que percorreria na vastidão cósmica, por eras
infindas. Coisas que nem distância astral, nem as poeiras cósmicas, impediam a
militar de alta patente de admirar e encontrar por fim, uma saída para um
dilema em que a circundava. Tornar permanente o que é efêmero, tornar estável o
que por natureza é instável, o desafio estava lançado e agora é encontrar o
problema gerado uma solução definitiva.
Um tanque robô Aparai
AS13, surgiu na frente da almirante, a máquina de combate, chamou a atenção da
militar de alta patente, para realidade urgente e premente. Lembrar do
cerimonial, onde ela subiria de patente, foi marcado dali a pouco, pelo
conselho supremo. Um simples protocolo a seguir e a comandante de campo
Bartira, por hora daria cabo de todas as pendências, antes de resolver o que de
fato que importava. Bartira se multiplicou em um avatar, olhou para si e ver os
longos cabelos, os olhos negros rasgados, penas de arraras nas orelhas, o traje
de combate negro de vinil. O avatar, então foi até o computador quântico, para
dar conta das muitas mensagens, que não pararam de chegar e o que chamou a
atenção foi a mensagem da deusa Bastet, a deusa dos felinos. Depois de elogios
e parabéns protocolares, pela promoção de patente a ser oficializada, Bastet
agradeceu a viagem de seus súditos e informou que o documento final, a
constituição dos felinos, já estava finalizado. E fora do protocolo, em um tom
de censura, Bastet falou que a triturar com as próprias garras, se misturasse
os seres humanos, com os seus súditos felinos de novo. E o que seguiu depois,
foram mensagens protocolares e amenas, de todos os quadrantes do cosmo, dos
multiversos.
Almirante Bartira,
concomitantemente deixou o avatar responder às mensagens protocolares e ela foi
até a ponte de comando, foi conduzir o Dirigível Mare Crisium, até um buraco de
minhoca, que se formou à frente. A belonave, estava sobrevoando o deserto
desolado da semideusa, a afra rainha Luna Dark, a ponte arco-íris Byfrost
conduziria a astronave de combate a uma dimensão ignorada e pouco frequentada
do cosmo. A comandante se dividiu de novo e deixou para o seu avatar, na ponte
do comando, conduzindo a belonave. Almirante Bartira, bem poderia flanar para
até o seu camarote, mas preferiu andar até o seu aposento privado. Andou poucos
metros pelo corredor central e subiu os lances das escadas, alcançou o seu
camarote pessoal por fim.
E ali na tranquilidade da
solitude, a militar de alta patente se trancou e se fechou hermeticamente,
Bartira pensou e fez circular entre os comandantes, alferes e os seus
subordinados menores, uma ordem que ela não queria ser incomodada, fosse o que
fosse, em hipótese alguma. A almirante Bartira, pensou e fez desaparecer os
poucos móveis que havia no lugar, ela não poderia se distrair com nada, para
além de si. A militar de alta patente, fez surgir à frente dela, uma pequena
câmara ardente, um cubículo de energia quântica, com um trono no seu interior e
ao adentrar no lugar a almirante fez a porta se fechar.
Uma vez dentro da câmara
ardente, a almirante Bartira pensou na afra rainha Luna Dark e como ela foi
imprudente em deixar o exílio perpétuo e ir procurar o cibernético vate
Yendel, na Turris Ebúrnea. E como o bibliotecário-mor do deus Calibor, foi
imprudente a deixar a terra dos sonhos e ir ao encontro de afra rainha
Luna Dark, no mundo em vigília. A almirante Bartira fechou em sim e
entrou no seu palácio da memória.
Fragmento do livro: Sustentada
no ar por asas fracas, de Clarisse Cristal, poetisa, contista, novelista e
bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa Catarina.
Argumento de Samuel da Costa,
poeta, contista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.
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