Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Gira e
gira o sol
O
girassol que germinou
A divinal
flor astral que não capitulou
Que não
se rendeu...Que te amou
E se
dispersou
Inflorescências
nectáreas
Que
dispersaram no celestial vergel
Das infinitudes
cósmicas
Dos
nectáreos olhos teus
Na aurora
dos deuses e deusas, as divindades africanas no novo mundo são chamadas de
Orixás e o desterrado olhou para o panteão da deidade do berço da humanidade,
olha como se visse velhos e bons amigos. Pede ao Orixá Esú que cuide bem casas
simples, das periferias das cidades, a marcar um fraterno encontro em uma
encruzilhada qualquer e que proteja os sacrossantos templos. E conversa com os
olhos com Ogum, o Orixá do ferro, do fogo, das guerras e das tecnologias. Que
fecha os olhos e ora para Oxóssi: Orixá que lhe traz dádiva da fartura e
empunhando lanças, arcos e flechas e vai fazer companhia na caça. E coloco as
mãos nos ouvidos é o Xangô o orixá que fez anunciar por estrondo de um trovão
faz arde em chamas divina o fogo dos deuses, ele o protetor da justiça, me
reduz ou que eu sou, um ser mortal. E logo ao lado dele o Oxumarê Orixá que fez
chover depois da fúria e trouxe o arco-íris e ele a segurar duas cobras. Pago
na mão de Oxum o orixá que me recobre de ouro a me acompanha no serpentear os
ondulantes e sinuosos os rios, e jogo de búzios e vê os meus amores passados,
presente e futuro amor. Ao longe escuto o bem canto de Iemanjá a afra rainha, a
orixá das águas, dos lagos, mares e fertilidade. E além das infinitudes
astrais, Nanã a orixá dos pântanos e me convida a conhecer o derradeiro fim, a
lhe encontra no fim da vida morte. E fico de joelhos para Onilé a Orixá, fico
de joelhos para cultuar a mãe terra. Eu ouso perguntar a Ifá a Orixá da
adivinhação e pergunto qual é o meu destino neste deserto do real. E finalmente
me rendo a Oxalá o orixá supremo, o rei de todos os reis e das todas as rainhas
os mais poderosos de todos, o pai de todos os Orixás e dos seres mortais.
No ocaso
da humanidade, o desterrado, um senhor de idade avançada, provavelmente um
desterrado do velho mundo, logo cedo, ao raiar do novo dia, caminhava devagar,
ia até os fundos da casa simples, ia cuidar do jardim. E entre tulipas, rosas e
gerânios, eram os girassóis que lhe detinha maior atenção. Voltava para casa,
provavelmente ia tomar café com um homem mais jovem, provavelmente o seu filho,
outro homem desterrado. Entre conversas corriqueiras e amenas, em uma língua
desconhecida, o senhor mais velho, depois de esvaziar uma xícara de café, o
senhor de cabelos brancos se levanta. Ele usando roupas simples, vai até a
varanda da casa simples de uma periferia de uma cidade apoplética. O homem mais
jovem, de meia idade, termina seu café da manhã, usando o seu terno escuro, uma
gravata vermelha e nos pés sapato de couro lustrado. Ele estava vestido
elegantemente de forma impecável.
A cena
desvaneceu com o senhor sentado na varanda da casa de madeira, ligava o seu
rádio a pilha e ouvia notícia da sua longínqua terra e o homem de meia idade,
com a maleta a tiracolo, passa pela varanda, diz algo para o homem idoso. Um
carro de aluguel o aguardava na frente da casa. Eu na sacada da minha casa, via
e revia a mesma cena todos os dias, como se fosse uma realidade projetada. Eu
um desterrado do velho mundo, não com saudades da minha nação, pois a muito
descido que sou um cidadão do mundo e viver sem fronteiras.
Vejo o
homem idoso desligar o pequeno rádio, ao ver o homem mais jovem adentrar o
carro e partir. Encerando assim a minha rotina, sabendo que no dia seguinte os
mesmos fatos se repetiriam em um imutável eterno retorno
Fragmento
do livro: Sono paradoxal, de Samuel da Costa, poeta, novelista e contista
em Itajaí, Santa Catarina.
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