sábado, 1 de março de 2025

LESOTO: PARA CULTIVAR GIRASSÓIS (2ª PARTE)

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)



Gira e gira o sol

O girassol que germinou

A divinal flor astral que não capitulou

Que não se rendeu...Que te amou

E se dispersou

Inflorescências nectáreas

Que dispersaram no celestial vergel

Das infinitudes cósmicas

Dos nectáreos olhos teus

 

 

Na aurora dos deuses e deusas, as divindades africanas no novo mundo são chamadas de Orixás e o desterrado olhou para o panteão da deidade do berço da humanidade, olha como se visse velhos e bons amigos. Pede ao Orixá Esú que cuide bem casas simples, das periferias das cidades, a marcar um fraterno encontro em uma encruzilhada qualquer e que proteja os sacrossantos templos. E conversa com os olhos com Ogum, o Orixá do ferro, do fogo, das guerras e das tecnologias. Que fecha os olhos e ora para Oxóssi: Orixá que lhe traz dádiva da fartura e empunhando lanças, arcos e flechas e vai fazer companhia na caça. E coloco as mãos nos ouvidos é o Xangô o orixá que fez anunciar por estrondo de um trovão faz arde em chamas divina o fogo dos deuses, ele o protetor da justiça, me reduz ou que eu sou, um ser mortal. E logo ao lado dele o Oxumarê Orixá que fez chover depois da fúria e trouxe o arco-íris e ele a segurar duas cobras. Pago na mão de Oxum o orixá que me recobre de ouro a me acompanha no serpentear os ondulantes e sinuosos os rios, e jogo de búzios e vê os meus amores passados, presente e futuro amor. Ao longe escuto o bem canto de Iemanjá a afra rainha, a orixá das águas, dos lagos, mares e fertilidade.  E além das infinitudes astrais, Nanã a orixá dos pântanos e me convida a conhecer o derradeiro fim, a lhe encontra no fim da vida morte. E fico de joelhos para Onilé a Orixá, fico de joelhos para cultuar a mãe terra. Eu ouso perguntar a Ifá a Orixá da adivinhação e pergunto qual é o meu destino neste deserto do real. E finalmente me rendo a Oxalá o orixá supremo, o rei de todos os reis e das todas as rainhas os mais poderosos de todos, o pai de todos os Orixás e dos seres mortais.

No ocaso da humanidade, o desterrado, um senhor de idade avançada, provavelmente um desterrado do velho mundo, logo cedo, ao raiar do novo dia, caminhava devagar, ia até os fundos da casa simples, ia cuidar do jardim. E entre tulipas, rosas e gerânios, eram os girassóis que lhe detinha maior atenção. Voltava para casa, provavelmente ia tomar café com um homem mais jovem, provavelmente o seu filho, outro homem desterrado. Entre conversas corriqueiras e amenas, em uma língua desconhecida, o senhor mais velho, depois de esvaziar uma xícara de café, o senhor de cabelos brancos se levanta. Ele usando roupas simples, vai até a varanda da casa simples de uma periferia de uma cidade apoplética. O homem mais jovem, de meia idade, termina seu café da manhã, usando o seu terno escuro, uma gravata vermelha e nos pés sapato de couro lustrado. Ele estava vestido elegantemente de forma impecável.

A cena desvaneceu com o senhor sentado na varanda da casa de madeira, ligava o seu rádio a pilha e ouvia notícia da sua longínqua terra e o homem de meia idade, com a maleta a tiracolo, passa pela varanda, diz algo para o homem idoso. Um carro de aluguel o aguardava na frente da casa. Eu na sacada da minha casa, via e revia a mesma cena todos os dias, como se fosse uma realidade projetada. Eu um desterrado do velho mundo, não com saudades da minha nação, pois a muito descido que sou um cidadão do mundo e viver sem fronteiras.

Vejo o homem idoso desligar o pequeno rádio, ao ver o homem mais jovem adentrar o carro e partir. Encerando assim a minha rotina, sabendo que no dia seguinte os mesmos fatos se repetiriam em um imutável eterno retorno

 

Fragmento do livro: Sono paradoxal, de Samuel da Costa, poeta, novelista e contista em Itajaí, Santa Catarina.

 

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