Por Leandro Bertoldo Silva (Padre Paraíso, MG)
Há mais de 2.500 anos, livros têm sido usados ao redor do mundo para diversos objetivos, desde religiosos, informativos, artísticos, entre outros. Códices maias, papiros egípcios, iluminuras de manuscritos medievais, as impressões de Gutenberg e Aldo Manúcio, cartografias, atlas das grandes navegações, cartilhas, livros para crianças, de cavalaria, de horas, são exemplos de um verdadeiro banquete e inspiração para a humanidade.
Por mais diversos os
objetivos, uma coisa é certa: todos eles passaram pela encadernação, essa arte
milenar a atravessar gerações. Não é exagero dizer, portanto, que a
encadernação é uma das representatividades históricas mais importantes de que
se tem notícia.
Não fosse ela, ainda hoje
estaríamos a depender das pinturas rupestres feitas com ocre pelos aborígenes
australianos ao representarem nas cavernas corvos e bisões.
A escrita como sistema de
registro codificado, só aparece muito tempo depois, por volta do início do 4°
milênio a.C., onde começam a ser desenvolvidas as estruturas por onde esses
escritos tão ricamente ornamentados ganham morada e, consequentemente,
preservação e, principalmente, mobilidade. Está aí uma imensa evolução! Duvida?
Imagina carregar uma caverna no bolso…
Em cada época surgiram
técnicas das mais simples às mais elaboradas. Encadernadores de várias partes
do mundo contribuíram com suas criações que, ao longo dos anos, foram se
desenvolvendo não apenas no critério documental, mas artístico. Alguém duvida
que o Corão, o livro de Kells, os livros hebraicos são considerados verdadeiras
obras de arte?
Em fins do século XVIII, o
mercado de livros ganhou ainda mais notoriedade agora não com a hegemonia dos
livros religiosos, mas também obras clássicas ao lado da ficção de
entretenimento. Eram livros muito bem-produzidos e de encadernações luxuosas.
Todo esse conhecimento foi e ainda é migrado para a produção artesanal de
cadernos e muitos são os artesãos que se empenharam e se empenham nessa arte.
Cada corte, cada ponto, cada costura repassadas e criadas são histórias sendo
contadas. As técnicas são tão variadas quanto a criatividade de quem as
realiza.
O melhor da encadernação é
quando começamos a fazer os nossos próprios projetos! Estes da ilustração são
cadernos em que utilizei algumas técnicas juntas, como a costura francesa,
porém aparente, com a abertura tipo Copta a partir da estrutura do Sewn
Boards Binding, que é o início da encadernação capa presa. Tudo isso com a
nossa tradicional arte da decoração com recortes e colagens.
O resultado é um caderno
extremamente elegante, contemporâneo e atraente pelas suas cores e infinitas
possibilidades de gramaturas, tipos de papel e combinações. Perfeitos para
escrita de memórias, escrita terapia, receitas, poesias, Bullet Journal
e muito, muito mais.
Eu como escritor independente
sempre desejei que os livros, mais do que o valor literário, pudessem ser
vistos, eles mesmos, como objetos de arte. Por isso, escolhi produzi-los e
confeccioná-los. Daí para os cadernos foi apenas um passo a partir de fundamentos
de uma arte que está longe de acabar, mesmo com o advento da tecnologia. Basta
lembrar novamente do princípio, onde muitos dos documentos, iluminuras, livros
históricos produzidos pelos escribas em séculos passados, até hoje só existem
graças a maior “tecnologia” da existência humana: a escrita à mão.
Portanto, deixo a seguinte
reflexão: mesmo que um caderno e um lápis custem um pouco mais de dez centavos,
como sugeriu Bob Grinde em uma de suas célebres frases, vale a pena comprá-los
e escrever ideias e histórias que valham milhões.
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