Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Um dia e nada mais...
E os meus olhos rasos d’água!
Tentando entender...
A minha dor! A minha negra dor!
E eu a te decifrar! Nestes dias incertos
Em horas impróprias
Como se eu fosse feito aço!
Como se tu fosse de feita de vidro!
E um dia na minha pele negra
Que tem a cor das revoltas
Os sabores ocres das chibatas!
Sou eu o ilhéu! O negro ilha!
Perdido em meio
A um mar de preceitos
Tabulados e sistematizados
Em meio a um infindo oceano
De pré-conceitos! Aceitos!
Sistematizados e multiplicados
Pelas telas da TVs...
Nas ondas dos rádios
Preconceitos aceitos
E espraiados nas entranhas do poder!
Sou eu ovacionado
Em meio aos escombros
Da minha vida!
Que eu insisto! Que é minha,
Mas não é! São deles...
Que me chamam de inepto;
Fracassado e inútil...
Porque quero um mundo melhor!
Cheio de paz e sem medo
E que o velho negro
Outrora assassinado
Pare de sonhar
E que o sonho se torne realidade!
Uma realidade que ninguém entende
Mas eu! Como entendo!
Já não posso viver sem ela...
A Deusa de Ébano!
Linda como ela é,
Negra como a noite
Mas pura como o dia
Justo ela que me deu um filho
Que é negro!
Negro ilhado como ele só!
Está em meio ao preceito
Não aceito
Que todos somos iguais!
Mas não somos
Nós! Os negros! Os periféricos
Somos os últimos nas filas
Dos bancos oficiais ou não!
Somos os últimos...
Ah quem dera...
Tu ser tornar eu!
Negro como a noite...
Mas puro como dia!
Ser livre em meio a um mar
De água salgada
Perdido em um Brasil/África!
Pois sou negro/brasileiro
Que fujo da polícia
Assediado pela política
Que tem olhos verdes...
Que falam as línguas...
Que os Orixás não entendem!
Quem dera tu em dia em negro
Um dia na minha vida
Fragmento do livro: Uma flor chamada margarida.
Texto de Samuel da Costa, contista, poeta e novelista em Itajaí, Santa
Catarina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário