sábado, 1 de março de 2025

UM DIA E VOCÊ DE NEGRO

 Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

Um dia e nada mais...

E os meus olhos rasos d’água!

Tentando entender...

A minha dor! A minha negra dor!

E eu a te decifrar! Nestes dias incertos

Em horas impróprias

Como se eu fosse feito aço!

Como se tu fosse de feita de vidro!

E um dia na minha pele negra

Que tem a cor das revoltas

Os sabores ocres das chibatas!

Sou eu o ilhéu! O negro ilha!

Perdido em meio

A um mar de preceitos

Tabulados e sistematizados

Em meio a um infindo oceano

De pré-conceitos! Aceitos!

Sistematizados e multiplicados

Pelas telas da TVs...

Nas ondas dos rádios

Preconceitos aceitos

E espraiados nas entranhas do poder!

Sou eu ovacionado

Em meio aos escombros

Da minha vida!

Que eu insisto! Que é minha,

Mas não é! São deles...

Que me chamam de inepto;

Fracassado e inútil...

Porque quero um mundo melhor!

Cheio de paz e sem medo

E que o velho negro

Outrora assassinado

Pare de sonhar

E que o sonho se torne realidade!

Uma realidade que ninguém entende

Mas eu! Como entendo!

Já não posso viver sem ela...

A Deusa de Ébano!

Linda como ela é,

Negra como a noite

Mas pura como o dia

Justo ela que me deu um filho

Que é negro!

Negro ilhado como ele só!

Está em meio ao preceito

Não aceito

Que todos somos iguais!

Mas não somos

Nós! Os negros! Os periféricos

Somos os últimos nas filas

Dos bancos oficiais ou não!

Somos os últimos...

Ah quem dera...

Tu ser tornar eu!

Negro como a noite...

Mas puro como dia!

Ser livre em meio a um mar

De água salgada

Perdido em um Brasil/África!

Pois sou negro/brasileiro

Que fujo da polícia

Assediado pela política

Que tem olhos verdes...

Que falam as línguas...

Que os Orixás não entendem!

Quem dera tu em dia em negro

Um dia na minha vida


Fragmento do livro: Uma flor chamada margarida. Texto de Samuel da Costa, contista, poeta e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

 

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