sexta-feira, 1 de março de 2024

O PESCADOR

Por N'Dom Calumbombo (Luanda, Angola)

 

Quando a noite caia, os ventos adormecidos sobre o esperançar de um pescado lento, ficava tudo um silêncio, um vazio enorme vendo o pairar das ondas entre marés equidistantes, quando se lançava os anzóis debaixo das águas do mar, onde o mistério falava da dor de todos os dias embarcar, mesmo quando o pôr-do-sol se fechava em tê-la despercebida.

Com os olhares longínquos sobre o resplandecer cintilantes pela manhã fria na Ilha de Luanda, ainda com a dor do corpo paisajado que se mantinha figurado à noite de pescado, Franscisco manteve calado, com os lábios entre as salinas nos seu rosto. Chegava à beira com a canoa vazia, sem se saber que, o pescador morto de fome, com as vistas inchadas e vermelhadas, por mais teimoso que foi, pescou numa noite de pranto, sozinho.

A chegada foi, de tal modo, que se conteve ao fixar-se sobre os olhos dos clientes, fora as preocupações exacerbadas de ir à casa vazio, viu-se intacto a esposa com um semblante amuado e sorriso disfarçado, mas, ainda assim, jorrava lágrimas de alegria, pois sentia-se no seu amor de aparição que ficava na foz das nascentes do seu barco sempre que ultrapassasse qualquer obstáculo numa noite no desvão, por mais que não trazia nada, vindo com o corpo de vestementa passado numa pesca disparido onde o silêncio brotava ao seu redor.

Maria  ficava nostálgica em choro debruado à fala, ao ver suas pernas levante à banheira de água morna para lhe poder lavar, aquando disso, em poucos minutos, meia à volta viram-se rodeados dos filhos que, se se abrissem à boca, ficariam logo tristes. Caóticos e enternecidos, um deles, com a língua afinada sobre questões de a vinda do pai, em pequenos gestos que, traduzia grito no silêncio, foi interrompido pela mãe, quando os outros oravam unanimemente para que, pela próxima, haja qualquer coisa em casa.

Francisco se levantou, já com intrudo na cabeça, falava-os levemente da dor, do sacrifício tenaz, tralados pelas ondas do fundo do mar, com seu coração que jorrava de júbilo fragmentado de discurso sob  curso relembrando dos momentos de travessia no mar, dentro dele, mostrava rio, daqueles dias de  difíceis embarques  mas com esperança a sombra culminante de cada madrugada.

Como se desconhecessem a escuridão dos ventos aventados, sacrifícios cajados sobre os braços remandos torcidas de velas fivava debaixo do seu consciente. Nestes momentos, ninguém sabe as razões que dura uma noite de pescado. Sentava-se aos pés duma tábua enquanto a mulher olhava suavemente nos seus lábios, às pressas, ainda lhe implorava para não soltar outros segredos do mar, porque do filho é sempre bom limitar o assustar.

Dali para frente, continha na sua memória, ainda que viesse de madrugada escura, clara ou cinzenta de pejo coitado avistado pelos filhos, saberia que; a família não sente o vazio que passa em escuridão, mesmo quando a sede esquecida pelos movimentos ondulados de calemas que fazem vai e vem na pretensão de vir a um embarque.

 


UMA BELA LIÇÃO DE VOLTAIRE

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)

  

Li numa antiga gramática de Claude Augé, esta curiosa história, que é excelente lição para todos os preguiçosos.

Voltaire tinha sido convidado para almoçar em casa de amigo, em dia chuvoso. Ao vestir-se verificou que os sapatos estavam sujos e enlameados.

Desgostoso, encrespou-se asperamente com o criado encarregado de os limpar, que respondeu muito ligeiro:

- "Limpar! Para quê?! Com o tempo que está, logo ficam cheios de lama! Vossa Mercê logo vê, que não vale a pena!"

Voltaire concordou, e saiu com os sapatos sujos até à fivela.

Já ia o amo na rua, muito açodado, quando assume à janela, o criado aflito, fazendo grandes gestos:

- " Ó Senhor Voltaire! Ó Senhor Voltaire! Vossa Mercê esqueceu-se de me deixar a chave da dispensa. Eu não tenho na cozinha o suficiente para confecionar o meu almoço!..."

Então, o autor de " Cândido" com sorriso escarninho, que lhe era peculiar e, usando as mesmíssimas palavras do criado madraço, ripostou todo lesto:

" A chave! A chave da dispensa para quê?! Com o decorrer das horas logo voltas a ter fome!... Deves ver, que não vale a pena!"

E assim Voltaire, seguindo calmamente seu caminho, deixou o criado embasbacado.

Deste modo o filosofo deu ao seu serviçal, bela lição; não só ao criado, mas a todos os que, por preguiça, deixam de cumprir suas obrigações, argumentando que em curto espaço de tempo, tudo fica emporcalhado, obrigando a novo trabalho.

A PEÇONHA DA TELENOVELA

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)

 

Conta D. Francisco Manuel de Melo, que caminhando, em frigidíssimo dia, por terras de Espanha, abrigou-se a estalagem, em que a dona e suas filhas escutavam a leitura de novela e, tão enredadas estavam que apesar dos rogos, não foram capazes de o atender, indo hospedar-se noutra pousada.

Vejamos o que diz o escritor do século XVII acerca das meninas embebidas na apaixonante novela: " Poucos dias depois as novelas foram tanto adiante, que cada uma das filhas daquela estalajadeira fizeram sua novela, fugindo com seu mancebo do lugar, como boas aprendizes da doutrina que tão bem estudaram" – " Carta de Guia"

Se simples leitura de novela de amor, causou tal desventura, o que pensar das telenovelas de certos canais de televisão, transmitidas em nobres horários, a cores, com cenas degradadas; com sexo quase explicito, excitando impulsos de mocinhas e mancebos; mostrando episódios promíscuos, abundantes de meninas de papá, a " transar" com o primeiro rapazinho que deparam, ou o namorado que mal conhecem?

Acérrimas críticas surgem, a cada passo, na imprensa, de educadores e pedagogos, principalmente no Brasil, censurando asperamente o desplante de projetarem cenas asquerosas, recheadas de diabólicas intrigas, e inauditos procedimentos.

Existem carradas de razão para tanta repulsa, mas, a meu ver, não são as cenas de nudez – que espevitam impulsos naturais, – o maior mal; já que as imagens são tão frequentes na mass-media, que quase não chocam; mas sim, a peçonha das ideias liberais que pretendem inculcar; os conceitos, as atitudes aviltantes; e, a linguagem de bordel, travada em íntimos encontros familiares, como se fosse o retrato, a imagem da vida atual da família brasileira.

Dir-me-ão: mostram a realidade. (Será?). Abordar temas que preocupam a coletividade, não é a missão da telenovela? Ser o espelho da sociedade?

Pergunto ao leitor atento: Não será o contrário – a sociedade o espelho da telenovela?

Porque, voluntariamente ou involuntariamente, difundem: a moda, a maneira de pensar, o comportamento e, a linguagem do povo, que tudo copia, abraça e imita.

Para finalizar, pergunto ainda: Não serão os meios de comunicação social, os principais responsáveis pelo – parecer, degradação dos costumes, desagregação da família, e ainda a ausência de pejo e decoro de muita juventude?

Creio que sim. Se o leitor costuma refletir, não deixará de ponderar sobre os enredos das telenovelas, que deviam e podiam ser excelentes meios de difusão de cultura e formação moral e cívica dos cidadãos; mas não são

O PAPEL DA RELIGIÃO NA REALEZA

Por Dom Augustus Bragança de Lucena (Rio de Janeiro, RJ)

A religião tem desempenhado um papel significativo na relação entre a realeza e a esfera espiritual ao longo da história. O papel da religião dentro da realeza pode variar dependendo do país, da cultura e da época em questão.

Em muitas sociedades, a religião desempenha um papel crucial na legitimação do poder real. A realeza frequentemente reivindica sua autoridade como uma concessão divina, sustentando que eles são escolhidos por Deus ou estão intimamente ligados a uma ordem divina.

 A coroação dos monarcas é tradicionalmente uma cerimônia religiosa, onde o soberano é ungido e consagrado em conformidade com os rituais e tradições da fé predominante em seu país. Essas cerimônias reforçam a conexão entre a realeza e a religião, enfatizando a sacralidade do papel do monarca.

Muitas monarquias historicamente assumiram o papel de patronos da religião oficial do país. Os monarcas apoiam as instituições religiosas, protegem os líderes religiosos e financiam a construção de templos, igrejas e outros locais de culto. Essa função de patronato real pode garantir a influência da realeza na esfera religiosa e a colaboração mútua entre a coroa e a hierarquia religiosa.

A realeza muitas vezes assume o papel de defensora da moralidade e dos valores éticos da sociedade, em linha com os princípios religiosos. Os monarcas frequentemente promovem causas religiosas, apoiam a caridade e desempenham um papel ativo na promoção de questões sociais e humanitárias de acordo com os ensinamentos religiosos.

 Em algumas monarquias, o soberano é considerado o líder espiritual da nação. Eles são vistos como um símbolo da unidade nacional, agindo como um elo entre o divino e o terreno. Nesse papel, a realeza pode desempenhar um papel importante na promoção da unidade religiosa e na representação dos interesses espirituais do povo.

É importante ressaltar que o papel da religião na realeza pode variar amplamente de acordo com o contexto histórico, cultural e político. Algumas monarquias modernas são mais seculares, com uma separação mais clara entre a religião e a governança, enquanto outras ainda mantêm uma forte ligação entre a realeza e a fé.

 

Sobre o autor: Dom Augustus Bragança de Lucena é presidente da Academia de Filosofia e Ciências Humanísticas Lucentina – AFCHL.

CONFLITOS ENTRE CASAS REAIS

Por Dom Augustus Bragança de Lucena (Rio de Janeiro, RJ)

Os conflitos entre Casas Reais em Exílio podem ocorrer por várias razões, mesmo que sejam independentes umas das outras. Aqui estão algumas das possíveis razões para esses conflitos:

1. Disputas de sucessão: Um dos principais motivos para os conflitos entre Casas Reais em Exílio é a disputa pela sucessão ao trono. Quando há diferentes reivindicações  de vários ramos da família, pode haver rivalidades e disputas pela legitimidade do direito ao trono.Essas disputas podem ser baseadas em interpretações divergentes das leis de sucessão ou em diferenças de opinião sobre quem possui o direito legítimo ao trono.

 2. Conflitos territoriais: Algumas Casas Reais em Exílio podem reivindicar territórios específicos como parte de seu domínio ancestral. Isso pode levar a conflitos com outras Casas Reais em Exílio que também reivindicam esses territórios ou com governos estabelecidos que ocupam  essas regiões. Disputas territoriais podem  ser motivo de tensões e rivalidades entre as Casas Reais.

 3. Questões financeiras: A falta de recursos financeiros pode gerar conflitos entre Casas Reais em Exílio. Muitas Casas Reais podem enfrentar dificuldades econômicas após a perda de poder político e podem competir por recursos limitados, incluindo financiamento, propriedades e heranças. Disputas financeiras podem agravar as tensões e criar conflitos entre as famílias reais.

 4. Diferenças ideológicas e políticas: Casas Reais em Exílio podem ter diferentes visões ideológicas e políticas em relação ao seu papel na sociedade ou aos princípios pelos quais eles representam. Isso pode levar a divergências e conflitos, especialmente quando diferentes ramos da família têm opiniões discordantes sobre questões políticas ou sociais.

5. Ambições pessoais: Conflitos também podem surgir devido a ambições pessoais de membros individuais das Casas Reais em Exílio. Pode haver rivalidades internas pelo poder, prestígio ou influência dentro da família, o que pode levar a conflitos entre os membros. É importante lembrar que cada caso de conflito entre Casas Reais em Exílio é único e pode ser influenciado por uma combinação de fatores. Além disso, nem todas as Casas Reais em Exílio estão envolvidas em conflitos ativos, e muitas delas podem buscar soluções pacíficas e colaborativas para lidar com questões complexas de sucessão e legado.

Sobre o autor: Dom Augustus Bragança de Lucena é presidente da Academia de Filosofia e Ciências Humanísticas Lucentina - AFCHL. 

EXPOSIÇÃO VIRTUAL DE POESIAS - MUSA

EXPOSIÇÃO VIRTUAL DE POESIAS - ANIVERSÁRIO DA ACADEMIA TAGUATINGUENSE DE LETRAS - ATL