Revista Cerrado Cultural
Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
quarta-feira, 1 de maio de 2024
O MÉTODO DE MONTESSORI
Por
Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Quando minha filha completou
cinco anos de idade, resolvi, na hora de almoço, com letras móveis, ensiná-la a
ler.
Peguei na Joana (sua boneca
preferida,) e comecei a ensiná-la.
A brincadeira despertou a
curiosidade da garota e logo quis participar, como "colega" da
bonequinha.
Na minha ausência, minha filha
entretinha-se a brincar - como professora, - a dar aulas à Joana.
Mais tarde, com cartilha,
iniciei – como antigamente se fazia, – a juntar as vogais às consoantes.
Assim, sempre a brincar,
aprendeu a ler, e quando entrou na escola, já tinha sólidas luzes.
Mal sabia, que Maria Montessori
já havia inventado esse método de ensino
Com cartolina colorida, rugosa,
para as mãos agarrarem bem, recortou alfabetos, que deu às crianças para
brincarem.
Naturalmente quiseram saber o
que era aquilo e ela ensinou., brincando, sem forçar, o nome de cada uma.
Pacientemente repetia – mas só
quando lhe perguntassem o nome de cada letra.
Depois, explicou que cada letra
correspondia a um som, e esses sons, formavam palavras.
Nada mais lhes disse. Passado
tempo um garotinho veio dizer-lhe que sabia escrever. Com efeito conseguiu
formar algumas palavras. Montessori gabou a descoberto, e outros pequenitos
quiseram imitar.
Mais tarde, outro lhe disse: - “Sei
escrever; e provou, indo ao quadro preto e gatafunhar palavras com giz”.
Estava lançado um novo método
para ensinar a escrever, como conta o Capítulo XXVI: " O Inicio da
Aprendizagem", em: " A Criança" - Editora
"Portugália".
Montessori inventou o método a
pedido de duas mães analfabetas, que pretendiam que seus filhos, de pouca idade,
aprendessem a ler e a escrever.
.
O CEGO SICILIANO
Por
Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
De vez enquanto é sempre bom
espairecer, lendo anedota ou engraçada historieta.
A que pretendo recontar, por
palavras minhas, é de autoria do Padre Manuel Bernardes.
Havia antigamente na ilha da
Sicília, na cidade de Agrigento, cego astuto e assaz inteligente, que sem se
perder, deambulava pelos caminhos tortuosos da ilha.
Como era poupado, aforrara
bastante, arrecadando preciosa quantia que ciosamente guardava entre a palha do
enxergão.
No correr do tempo, uma dúvida
se levantou:
Era cego e se ladrão a
quadrilha de malfeitores, suspeitando o pecúlio – e sempre há suspeitas, – o
extorquisse.
Após muito matutar, assentou
que melhor seria enterrá-lo em bom recato.
Assim pensou, melhor o fez.
Pela calada da madrugada, dissimulado pela ténue luz lunar, cavou profunda cova
depositando o púcaro com o precioso dinheiro.
Mas, sentindo estranho ruído,
pressentiu que o arteiro do vizinho o vigiava...
Na dúvida, manhã alta, procurou
o "amigo", para lhe pedir Conselho:
- Ó vizinho! Faça-me o favor de
me aconselhar! Enterrei em sítio azado, determinada quantia, que arrecadara, ainda
tenho o restante, que escondi no judeu. Como sou cego, não lhe parece que
melhor seria enterrá-lo junto do outro?
O "amigo" alegrou-se
e aconselhou-o:
- Faz bem... muito bem. Sempre
é mais garantido, do que tê-lo em casa.
Mas receoso, de ser descoberto,
apressou-se a restituir o que retirara do panelo.
No dia seguinte, o cego, foi
pelo despertar do dia, desenterrar, o púcaro, e com satisfação, verificou que o
dinheiro estava lá.
Com forçado sorriso, virou-se
para o lado onde supunha que o "amigo" estava observá-lo, e
sustentando o panelo, disse-lhe levantando a voz:
- " Amigo: vejo mais eu,
sendo cego. do que você com os dois olhos!... "
BIGODES DE GATO
Por
Humberto Pinho da Silva(Porto, Portugal)
Em " Falas Sem Fio",
Agostinho de Campos. Inclui belo conselho, que os países, ou melhor – os
Ministros da Guerra, deviam ponderar, antes de invadirem a nação vizinha.
Decerto, o leitor, que me lê
pachorrentamente, desconhece quem foi Agostinho de Campos. É natural, em
Portugal, esquecemo-nos facilmente as lustres figuras após seu desaparecimento;
e notáveis intelectuais, mesmo antes de falecerem, conheceram o desprezo, o
abandono dos contemporâneos. Escuso de os mencionar, porque são tantos, e
sobejamente conhecidos.
Agostinho de Campos foi notável
Professor Catedrático da Universidade de Coimbra e de Lisboa. Jornalista,
conferencista e articulista de: " O Comercio do Porto" e " O
Primeiro de Janeiro", com artigos que versavam pedagogia, linguista e
critica literária. Tem numerosos livros publicados pela Bertrand. Faleceu, em
Lisboa, no ano de 1944.
Ao reler " "Falas Sem
Fio", deparei com texto curioso, que pretendo dar a conhecer ao leitor:
" Segundo me afirmou
um naturalista, os bigodes de gato crescem na proposição que eles engordam, e a
sabia natureza não se engana a respeito das razões porque assim legislou:
Quando algum gato, por
motivos estratégicos, puramente defensivo, tem de enfiar-se por algum buraco, e
não lhe conhece as características e seguintes, entesa os bigodes, e enquanto o
couberem na largura do buraco, vai o gato seguindo sem medo, porque onde os
bigodes passarem sem dobrar, passará corpo do animal, e não há perigo de que
ele fique entalado, sem poder andar para trás ou para diante.
"Os países bem
governados, antes de declararem guerra aos outros, devem arranjar ministros da
guerra, com uns bigodes, assim sensíveis e previdentes, para saberem bem no que
se metem."
Acrescentaria ainda: devem,
igualmente, os que se dedicam à política, para se acautelarem das ciladas dos
antagonistas e, até... dos "amigos", terem bigodes gatorros.
O TRABALHO TRABALHA-TE
Por Valéria A Gurgel (Nova Lima, MG)
Trabalhar dá
trabalho, porque o trabalho trabalha-te!
Trabalha o ego, as
suas ilusões, a autoestima, a preguiça, o mau humor, trabalha o labor!
Trabalha o
pensamento, o caráter e a vaidade.
Trabalha a
paciência, a vontade, a coragem.
Trabalha a
capacidade, o medo, o sonho e a realidade.
O trabalho nos
edifica, nos constrói e nos aperfeiçoa como pessoa!
Trabalha-se a
pontualidade, a responsabilidade e a maturidade.
Trabalha-se a
própria dignidade!
“Sem o trabalho um
homem não tem honra e sem a sua honra, se morre, se mata”
Assim escreveu o
saudoso compositor e cantor brasileiro, Gonzaguinha!
O trabalho
trabalha a nossa personalidade.
Sabemos que
trabalho não é lazer, mas dignifica o ser!
Feliz é aquele que
vê no seu trabalho também sua forma de lazer!
Que trabalha
cantando, assoviando, dançando.
Que trabalha
alegre, sorrindo, agradecendo, ...
Seja pintando e
bordando, tricotando e costurando a vida.
Seja vendendo
escrevendo, ensinando, aprendendo.
Construindo a sua
vida e a de sua família.
Há trabalho que
evangeliza, que acolhe, edifica, orienta, exemplifica, cura, planta, colhe,
conserta os desconsertos do mundo.
Há trabalho que
defende que acusa, que julga, que absolve as mazelas, humanas.
Há quem limpa,
quem decora e embeleza os nossos olhos...
O trabalho que
informa, a informatização que globaliza. Há trabalho que humaniza.
E há ainda o
trabalho informal. Mas há infelizmente o trabalho que escraviza!
Há trabalhos que
nos adormecem, que nos ouvem, que nos traz paz e relaxa as tensões do dia a
dia. Proporcionando a calmaria.
Há o trabalho dos
artistas tão plenos de euforia. Contracenam, encenam, brincam, cantam, dançam,
contam histórias, tocam as almas tocando e encantando os corações... Muitos
desses, seguem no anonimato, sem nenhum valor. E mal sabe a humanidade que são
eles que salvam o mundo do próprio mundo!
Não importa o que
se faça! Se é honesto, o melhor trabalho é sempre aquele que nos dá prazer de
viver!
Trabalhador feliz
é aquele que gosta do que faz!
Foi-se o tempo em
que as pessoas trabalhavam, por amor! Hoje em dia isso anda cada vez mais raro!
Trabalha-se mais, exclusivamente pelo dinheiro, por vaidade, por status social.
O fazer por fazer.
Tantos são os trabalhos conquistados por propinas, que nem sempre são dados
para aquele que realmente é um profissional e merece seu reconhecimento de
fato.
Por isso
assistimos cada vez mais uma humanidade bastante emburrada, sem educação e
revoltada com o que faz. E tende a descontar a suas revoltas e insatisfações
pessoais em quem precisa de seus serviços.
O contrário
acontece quando temos um profissional feliz com o que faz! Ele exala carisma e
satisfação, educação e brilho no olhar! Seja ele um lixeiro ou um médico, um
coveiro, um pedreiro ou um palhaço, um milionário ou um assalariado!
Hoje, com a
evolução das indústrias, da tecnologia e da inteligência artificial, muitas
profissões dignificantes foram e estão sendo excluídas de nossa sociedade!
Como as empregadas
domésticas que não encontram mais seu valor e respeito e por isso a mão de obra
cada vez mais escassa. Os alfaiates, os barbeiros, os tipógrafos, os
jornaleiros, os ferreiros, as datilógrafas as costureiras de bolas e tantos são
os substituídos pelas máquinas!
Mas por mais que a
tecnologia chegue para desvalorizar o trabalho humano, jamais o homem será
inteligente o suficiente para substituir definitivamente a si mesmo!
Pois o dia em que
isso porventura, vier a acontecer, pode-se dizer que o homem será processado
pelo seu processo involutivo da santa ignorância!