quarta-feira, 1 de maio de 2024

EQM (CURTA-METRAGEM)

O MÉTODO DE MONTESSORI

 

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)

 

Quando minha filha completou cinco anos de idade, resolvi, na hora de almoço, com letras móveis, ensiná-la a ler.

Peguei na Joana (sua boneca preferida,) e comecei a ensiná-la.

A brincadeira despertou a curiosidade da garota e logo quis participar, como "colega" da bonequinha.

Na minha ausência, minha filha entretinha-se a brincar - como professora, - a dar aulas à Joana.

Mais tarde, com cartilha, iniciei – como antigamente se fazia, – a juntar as vogais às consoantes.

Assim, sempre a brincar, aprendeu a ler, e quando entrou na escola, já tinha sólidas luzes.

Mal sabia, que Maria Montessori já havia inventado esse método de ensino

Com cartolina colorida, rugosa, para as mãos agarrarem bem, recortou alfabetos, que deu às crianças para brincarem.

Naturalmente quiseram saber o que era aquilo e ela ensinou., brincando, sem forçar, o nome de cada uma.

Pacientemente repetia – mas só quando lhe perguntassem o nome de cada letra.

Depois, explicou que cada letra correspondia a um som, e esses sons, formavam palavras.

Nada mais lhes disse. Passado tempo um garotinho veio dizer-lhe que sabia escrever. Com efeito conseguiu formar algumas palavras. Montessori gabou a descoberto, e outros pequenitos quiseram imitar.

Mais tarde, outro lhe disse: - “Sei escrever; e provou, indo ao quadro preto e gatafunhar palavras com giz”.

Estava lançado um novo método para ensinar a escrever, como conta o Capítulo XXVI: " O Inicio da Aprendizagem", em: " A Criança" - Editora "Portugália".

Montessori inventou o método a pedido de duas mães analfabetas, que pretendiam que seus filhos, de pouca idade, aprendessem a ler e a escrever.

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O CEGO SICILIANO

 

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)

  

De vez enquanto é sempre bom espairecer, lendo anedota ou engraçada historieta.

A que pretendo recontar, por palavras minhas, é de autoria do Padre Manuel Bernardes.

Havia antigamente na ilha da Sicília, na cidade de Agrigento, cego astuto e assaz inteligente, que sem se perder, deambulava pelos caminhos tortuosos da ilha.

Como era poupado, aforrara bastante, arrecadando preciosa quantia que ciosamente guardava entre a palha do enxergão.

No correr do tempo, uma dúvida se levantou:

Era cego e se ladrão a quadrilha de malfeitores, suspeitando o pecúlio – e sempre há suspeitas, – o extorquisse.

Após muito matutar, assentou que melhor seria enterrá-lo em bom recato.

Assim pensou, melhor o fez. Pela calada da madrugada, dissimulado pela ténue luz lunar, cavou profunda cova depositando o púcaro com o precioso dinheiro.

Mas, sentindo estranho ruído, pressentiu que o arteiro do vizinho o vigiava...

Na dúvida, manhã alta, procurou o "amigo", para lhe pedir Conselho:

- Ó vizinho! Faça-me o favor de me aconselhar! Enterrei em sítio azado, determinada quantia, que arrecadara, ainda tenho o restante, que escondi no judeu. Como sou cego, não lhe parece que melhor seria enterrá-lo junto do outro?

O "amigo" alegrou-se e aconselhou-o:

- Faz bem... muito bem. Sempre é mais garantido, do que tê-lo em casa.

Mas receoso, de ser descoberto, apressou-se a restituir o que retirara do panelo.

No dia seguinte, o cego, foi pelo despertar do dia, desenterrar, o púcaro, e com satisfação, verificou que o dinheiro estava lá.

Com forçado sorriso, virou-se para o lado onde supunha que o "amigo" estava observá-lo, e sustentando o panelo, disse-lhe levantando a voz:

- " Amigo: vejo mais eu, sendo cego. do que você com os dois olhos!... "

 

 

BIGODES DE GATO

 

Por Humberto Pinho da Silva(Porto, Portugal)

 

Em " Falas Sem Fio", Agostinho de Campos. Inclui belo conselho, que os países, ou melhor – os Ministros da Guerra, deviam ponderar, antes de invadirem a nação vizinha.

Decerto, o leitor, que me lê pachorrentamente, desconhece quem foi Agostinho de Campos. É natural, em Portugal, esquecemo-nos facilmente as lustres figuras após seu desaparecimento; e notáveis intelectuais, mesmo antes de falecerem, conheceram o desprezo, o abandono dos contemporâneos. Escuso de os mencionar, porque são tantos, e sobejamente conhecidos.

Agostinho de Campos foi notável Professor Catedrático da Universidade de Coimbra e de Lisboa. Jornalista, conferencista e articulista de: " O Comercio do Porto" e " O Primeiro de Janeiro", com artigos que versavam pedagogia, linguista e critica literária. Tem numerosos livros publicados pela Bertrand. Faleceu, em Lisboa, no ano de 1944.

Ao reler " "Falas Sem Fio", deparei com texto curioso, que pretendo dar a conhecer ao leitor:

" Segundo me afirmou um naturalista, os bigodes de gato crescem na proposição que eles engordam, e a sabia natureza não se engana a respeito das razões porque assim legislou:

Quando algum gato, por motivos estratégicos, puramente defensivo, tem de enfiar-se por algum buraco, e não lhe conhece as características e seguintes, entesa os bigodes, e enquanto o couberem na largura do buraco, vai o gato seguindo sem medo, porque onde os bigodes passarem sem dobrar, passará corpo do animal, e não há perigo de que ele fique entalado, sem poder andar para trás ou para diante.

"Os países bem governados, antes de declararem guerra aos outros, devem arranjar ministros da guerra, com uns bigodes, assim sensíveis e previdentes, para saberem bem no que se metem."

Acrescentaria ainda: devem, igualmente, os que se dedicam à política, para se acautelarem das ciladas dos antagonistas e, até... dos "amigos", terem bigodes gatorros.

Uma lista de autores e obras para quem quer ler literatura brasileira

O TRABALHO TRABALHA-TE

Por Valéria A Gurgel (Nova Lima, MG)

 

Trabalhar dá trabalho, porque o trabalho trabalha-te!

Trabalha o ego, as suas ilusões, a autoestima, a preguiça, o mau humor, trabalha o labor!

Trabalha o pensamento, o caráter e a vaidade.

Trabalha a paciência, a vontade, a coragem.

Trabalha a capacidade, o medo, o sonho e a realidade.

O trabalho nos edifica, nos constrói e nos aperfeiçoa como pessoa!

Trabalha-se a pontualidade, a responsabilidade e a maturidade.

Trabalha-se a própria dignidade!

“Sem o trabalho um homem não tem honra e sem a sua honra, se morre, se mata”

Assim escreveu o saudoso compositor e cantor brasileiro, Gonzaguinha!

O trabalho trabalha a nossa personalidade.

Sabemos que trabalho não é lazer, mas dignifica o ser!

Feliz é aquele que vê no seu trabalho também sua forma de lazer!

Que trabalha cantando, assoviando, dançando.

Que trabalha alegre, sorrindo, agradecendo, ...

Seja pintando e bordando, tricotando e costurando a vida.

Seja vendendo escrevendo, ensinando, aprendendo.

Construindo a sua vida e a de sua família.

Há trabalho que evangeliza, que acolhe, edifica, orienta, exemplifica, cura, planta, colhe, conserta os desconsertos do mundo.

Há trabalho que defende que acusa, que julga, que absolve as mazelas, humanas.

Há quem limpa, quem decora e embeleza os nossos olhos...

O trabalho que informa, a informatização que globaliza. Há trabalho que humaniza.

E há ainda o trabalho informal. Mas há infelizmente o trabalho que escraviza!

Há trabalhos que nos adormecem, que nos ouvem, que nos traz paz e relaxa as tensões do dia a dia. Proporcionando a calmaria.

Há o trabalho dos artistas tão plenos de euforia. Contracenam, encenam, brincam, cantam, dançam, contam histórias, tocam as almas tocando e encantando os corações... Muitos desses, seguem no anonimato, sem nenhum valor. E mal sabe a humanidade que são eles que salvam o mundo do próprio mundo!

Não importa o que se faça! Se é honesto, o melhor trabalho é sempre aquele que nos dá prazer de viver!

Trabalhador feliz é aquele que gosta do que faz!

Foi-se o tempo em que as pessoas trabalhavam, por amor! Hoje em dia isso anda cada vez mais raro! Trabalha-se mais, exclusivamente pelo dinheiro, por vaidade, por status social.

O fazer por fazer. Tantos são os trabalhos conquistados por propinas, que nem sempre são dados para aquele que realmente é um profissional e merece seu reconhecimento de fato.

Por isso assistimos cada vez mais uma humanidade bastante emburrada, sem educação e revoltada com o que faz. E tende a descontar a suas revoltas e insatisfações pessoais em quem precisa de seus serviços.

O contrário acontece quando temos um profissional feliz com o que faz! Ele exala carisma e satisfação, educação e brilho no olhar! Seja ele um lixeiro ou um médico, um coveiro, um pedreiro ou um palhaço, um milionário ou um assalariado!

Hoje, com a evolução das indústrias, da tecnologia e da inteligência artificial, muitas profissões dignificantes foram e estão sendo excluídas de nossa sociedade!

Como as empregadas domésticas que não encontram mais seu valor e respeito e por isso a mão de obra cada vez mais escassa. Os alfaiates, os barbeiros, os tipógrafos, os jornaleiros, os ferreiros, as datilógrafas as costureiras de bolas e tantos são os substituídos pelas máquinas!

Mas por mais que a tecnologia chegue para desvalorizar o trabalho humano, jamais o homem será inteligente o suficiente para substituir definitivamente a si mesmo!

Pois o dia em que isso porventura, vier a acontecer, pode-se dizer que o homem será processado pelo seu processo involutivo da santa ignorância!

 

BRASÍLIA 6.4

Por Gustavo Dourado (Taguatinga, DF)