quinta-feira, 1 de maio de 2025

EDITORIAL

TRÊS MIL VOZES, UM SONHO

Por Paccelli José Maracci Zahler (editor)

Neste mês de maio, a Revista Cerrado Cultural escreve mais uma página gloriosa em sua trajetória: alcançamos a marca de três mil trabalhos publicados! São quatorze anos de dedicação à cultura, à arte e ao pensamento livre, construindo um espaço onde a diversidade floresce e os talentos encontram abrigo e voz.

Essa conquista é coletiva e profundamente significativa. Cada colaborador que compartilhou conosco seu olhar, seu talento e sua sensibilidade ajudou a erguer um verdadeiro monumento à criatividade. Celebrar três mil publicações é celebrar três mil encontros, três mil momentos de partilha e de inspiração que atravessam fronteiras e fortalecem a nossa identidade cultural.

Renovamos o nosso compromisso de ser o palco para as múltiplas expressões humanas. A Revista Cerrado Cultural é movida pela convicção de que a arte transforma, conecta e ilumina. E, por isso, continuamos de portas abertas, com sede de novas ideias, novos nomes, novos sonhos que desejem fazer parte desta história viva.

Se você sente que tem algo a dizer ao mundo, venha somar sua voz à nossa! Na Revista Cerrado Cultural, cada contribuição é uma centelha que acende o futuro. Que os próximos três mil trabalhos sejam ainda mais vibrantes, ousados e emocionantes — e que você esteja entre eles!

Expressamos nosso agradecimento a todos os colaboradores, leitores e incentivadores.

HOMILIAS ENFADONHAS E SONOLENTAS

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)

 

Julgam alguns sacerdotes, que homilias prolongadas, recheadas de preciosa erudição, em estilo obscuro, fascinam mormente com crentes de elevada cultura; puro engano.

Estando em Roma, tive oportunidade de prosear com franciscano, que tentou explicar o motivo da rápida expansão das Igrejas Evangélicas e seitas, no Brasil.

No parecer do erudito sacerdote, essa proliferação, deve-se o facto da maioria dos pastores utilizarem linguagem corrente e usarem termos que o povo facilmente compreende.

O padre tem formação superior, constrói a prática com frases e vocabulário, que as classes mais baixas da sociedade, em geral, desconhecem.

O resultado é irem buscar Igreja, que lhes fale ao coração, com palavras simples e corriqueiras.

Verdade se diga, que há quem frequenta o templo para saborear subtilezas, como santo Agostinho, assistia aos sermões de santo Ambrósio:

" Ardorosamente o ouvia, quando prega ao povo, não com o espírito que convinha, mas como que a sondar a sua eloquência, para ver se correspondia ou exagerava ou diminuía a sua reputação oratória

" Estava suspenso das suas palavras, extasiado do que ele dizia." - "Confissões" - V

Foi desse modo que o franciscano, homem culto, que temporariamente morava na Via Merulana, em Roma, explicou-me o motivo da proliferação de seitas, na América Latina.

Termino, levando ao leitor a opinião de Nicola Bux, Professor da Faculdade Teológica de Bari (Itália) – autor do livro: " Como Ir á Missa Sem Perder a Fé", " As homilias são por vezes: demoradas, incompreensíveis e maçadoras, que pouco dizem aos fieis e menos ainda ao assistente ocasional."

A propósito, recordo o soporífico sermão, proferido por pastor, prática que assisti na adolescência. Creio que os crentes, após o terem escutado, ficaram em jejum, com pouca vontade de voltarem a ouvi-lo.

Ouvi, igualmente, a homilia de bispo, residente em Luanda, que me cativou – era simples, proferida como estivesse a conversar á mesa de Café, com amigos.

Os fiéis saíram encantados, e com vontade de voltarem a ouvi-lo.

Em suma: a prática deve ser proferida com o coração, vivendo o que se diz; em estilo simples, para que as palavras entrem, rapidamente, no coração dos crentes e descrentes.

O CORÃO E OS DISCÍPULOS DE JESUS

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)


Sempre considerei absurdo contendas entre muçulmanos e cristãos. São execráveis. Ambos são crentes do mesmo Deus, e o Corão tem imensas afinidades com a Bíblia.

Mas, como muitos cristãos leem a Bíblia, mas não A cumprem, acontece - julgo eu,-  o mesmo com alguns islamitas.

 Suleiman Valy Mamede, Presidente do Conselho Diretivo do Centro Português de Estudos Islâmico, na introdução ao Corão – Ed. Europa América – assevera: o Corão " Não rejeita como revelados, os Livros Sagrados dos Profetas que antecederam Muhammad. Nele acham-se (...) repetidas alusões às Escrituras ((v.g.: Cap. II ,vers. 40,53,54,62,87; Cap. III, vers. 98,100,etc.), além de inúmeros passos paralelos.

O Corão quando se refere aos cristãos, afirma: (...) " Nos que dizem: "Nós somos cristãos", encontrarás os mais próximos em amor, para os que creem, e isso porque entre eles há sacerdotes e monges e não se enchem de orgulho" – Cap. V, vers.. 82.

E no Credo dos Fiéis (Cap. III, 84) o Corão assevera – que se deve dar crédito no que disse Jesus:

" Cremos em Deus, no que nos foi revelado e no que foi revelado a Abraão, a Ismael, a Isac, a Jacob e às doze tribos; cremos no que foi dado a Moisés, a Jesus e aos Profetas, proveniente do seu Senhor: não estabeleceremos diferenças entre eles, e a nós estamos submetidos a Ele, somos muçulmanos" – O termo muçulmano, significa: o que se submete, voluntariamente, á vontade de Deus.

Portanto, o bom muçulmano, temente a Deus, e que saibe interpretar o Corão, não pode querer mal aos cristãos.

Pois o Cap. II vers.62, diz " (...) Os que creem, os que praticam o judaísmo, os cristãos e os sabeus – os que creem em Deus e nos Ultimo Dia e praticam o bem – terão a recompensa junto do seu Senhor. Para eles não há temor."

Não se compreende, portanto, tanta hostilidade de alguns muçulmanos, aos cristãos e vice-versa.

Acrescento, para terminar, mais uma passagem semelhante ao Evangelho:

Quando Maria recebeu o anúncio que seria Mãe de Jesus, esta respondeu-lhe humildemente: que nenhum mortal lhe tinha tocado (conhecido). O anjo disse-lhe: "Assim será. Deus cria o que quer. Quando decreta alguma coisa, diz " seja", e” é. – Cap. III, Vers. 47.

Não creio que o bom muçulmano seja capaz do ato abominável de matar, porque o Corão avisa: o muçulmano, quando voluntariamente, tira a vida a um, que acredita em Deus:" (...) Terá por recompensa o Inferno; eternamente permanecerá nele. Agaste-se Deus contra ele e amaldiçoe-o! Prepara-lhe um enorme tormento! - Cap. IV, Vers. 93.

Daqui se conclui, que o crente muçulmano, não pode nem deve matar outro crente, porque se o fizer, receberá severo castigo divino.

É inacreditável, que crentes, do mesmo Deus, que acreditam – ou dizem acreditar – na vida além a morte, se pelejem e se matem mutuamente. Brada aos Céus, e não tem perdão.

A ARTE POÉTICA DE LEANDRO BERTOLDO SILVA (PADRE PARAÍSO, MG)








 




A ARTE POÉTICA DE VALÉRIA GURGEL (NOVA LIMA, MG)

 











O QUE SERÁ DOS OPOSTOS?

 Por Dias Campos (São Paulo, SP) 

          Como acontece todo o ano, Campos do Jordão, localizada no interior do Estado de São Paulo, fervilha no mês julho. Durante o dia, centenas de turistas querem aproveitar o clima da montanha, caminhar no Bosque do Silêncio, fazer piquenique no Horto Florestal, ou simplesmente sentar no Baden Baden – quando, por milagre, consegue-se um lugar –, pedir uma cerveja, comer uma porção de salsichas, e jogar conversa fora.

À noite, porque os parques fiquem fechados, não centenas, mas, sim, milhares de visitantes resolvem curtir as baixíssimas temperaturas que despencam sobre o centrinho, muito embora procurem esquentar-se com cremosos choconhaques, com calóricos fondues, e com os esquecidos casacos, cachecóis, gorros e botas de cano alto.

E como é desnecessário dizer que os restaurantes tornam-se ainda mais inacessíveis, o jeito é ficar passeando pelo calçadão, rindo a bom rir, vendo as vitrinas, e torcendo para que vague uma mesa no exato momento em que por ela se passe.

Pois foi numa dessas idas e vindas que duas almas no mínimo incompatíveis esbarraram-se...

Ao contrário do que recomenda o cavalheirismo, Paula foi a primeira a desculpar-se, fazendo com que André apenas representasse um “não foi nada” com um meneio de cabeça.

Ambos prosseguiram em seus passeios. Não se privaram, porém, de uma espiada para trás, o que causou um reencontro de olhares e dois sorrisos – o dele denunciava-se aventureiro; o dela confessava-se curioso.

Ocorre que, se duas pessoas caminharem em sentidos opostos naquele calçadão, mas dele não se afastarem, muito provavelmente irão reencontrar-se, já que isto equivalerá a uma volta completa no quarteirão.

Ademais, o interesse recíproco que brotou espontâneo, funcionando como um ímã poderoso, fatalmente transformaria esta probabilidade em certeza.

E é claro que os dois apostaram neste desfecho.

Arriscaram, e acertaram.

André tentou uma abordagem que para ele sempre dava certo. Paula limitou-se a não rir. E perguntou se ele gostava de comida japonesa, haja vista a fome que a incomodava.

Essa pergunta deixou o rapaz sem saber o que dizer. Afinal, o relógio da praça marcava nove graus, e essa temperatura definitivamente não combinava com peixe cru. Além do mais, saíra desprevenido, e, pelo que se lembrava, sua carteira só poderia bancar dois pastéis; e, mesmo assim, se não fossem muito além dos de queijo.

Paula, percebendo a saia justa, tratou de esclarecer:

- Sou eu que estou convidando. Sou eu que vou pagar. – E ofereceu o braço direito.

André levantou as sobrancelhas. Nunca passara por tal situação. Habituara-se aos meios por que ganhava as incautas, e se acostumara a rachar a conta ao final da investida. Mas essa mulher simplesmente o desarmava, deixando-o afônico e com cara de tonto.

Como Paula insistisse com o braço, André acabou aceitando. E lá se foram rumo ao restaurante japonês mais próximo.

Mesas disponíveis havia poucas. E optaram pela mais reservada.

E se é verdade que André perguntara onde Paula preferiria sentar-se, também é fato que seu cavalheirismo a isso se limitou. Daí que se sentou sem a menor cerimônia.

Só que ao notar que Paula ficara de pé, lembrou-se da palavra cortesia. E levantou-se rapidinho, pediu desculpas, e puxou-lhe a cadeira.

Depois que escolheram os pratos – ele, a sugestão do dia; ela, o combinado que raramente é pedido –, Paula, querendo conhecer o convidado, perguntou sobre sua vida, o que fazia, do que gostava.

André, achando que iria abafar, disse que trabalhava com informática em uma grande empresa; que vinha para Campos do Jordão pelo menos uma vez por ano, em feriado prolongado e para fazer compras; e que adorava televisão e cinema.

Este último ponto acentuou a curiosidade de Paula, já que ela também adorava algumas produções da sétima arte.

Mas quando perguntou o que ele mais assistia, André, enchendo a boca, respondeu que não perdia uma só das novelas, e que era apaixonado pelos filmes de super-heróis e de zumbis. E arrematou dizendo que se os vampiros e os lobisomens voltassem, ele não perderia nenhuma das pré-estreias.

Foi a vez de Paula falar de si. Disse que era espeleóloga, explicando, em seguida, que era especialista no estudo e na exploração de cavernas, grutas, fontes; que amava a Suíça Brasileira e a aproveitava com frequência; que detestava televisão, mas se rendia aos filmes franceses, argentinos e iranianos. – André tornou a levantar as sobrancelhas.

Com a chegada dos pratos, fez-se silêncio. Mas à medida que afastavam a fome, os olhares e os consequentes sorrisos aumentavam.

Foi quando André, buscando no horóscopo a explicação para o encontro que acontecia, disse que seu signo era o grande culpado, visto que, sendo de Peixes, acataria com prazer o que estava escrito nas estrelas.

A moça até que sorriu; menos pela crença do que pela cafonice da cantada. Mas foi logo esclarecendo que não acreditava em astrologia, destino ou almas gêmeas. E que se o convidou é porque sentia-se atraída; e nada mais.

          André vibrou de alegria. Ao que tudo indicava, a noite terminaria como ele imaginava.

Daí que a conversa fluía prazerosamente, as diferenças entre ambos eram cada vez mais evidentes, e os olhares e os sorrisos prolongavam-se.

Paula não teve dúvida: Pousou a mão direita sobre a esquerda de André.

Passava da meia-noite quando o casal saiu abraçado do restaurante.

E como tudo convergia para o romance, André convidou Paula para ir ao seu apartamento, onde os esperava uma garrafa de vinho tinto.

Paula sorriu, mas dispensou o convite. Queria voltar para casa, cair na cama, e acordar o mais cedo possível para aproveitar o céu azul e sem nuvens, uma vez que, mesmo no feriado, não era daquelas que trocava a manhã pela tarde.

Sendo assim, repassou o número do celular, demorou-se mais no último beijo, e partiu a passo firme, voltando o rosto apenas uma vez para despedir-se com um sorriso.

No dia seguinte, André ligava por volta das dez horas. Queria revê-la a qualquer custo.

Mas ao contrário do que sugeriu – de novo o centrinho –, o encontro aconteceria na cidade vizinha de Santo Antônio do Pinhal, no Pico Agudo, local onde se pratica voo livre.

O rapaz achou estranho, mas não se opôs.

Ao chegar ao topo, varreu o lugar com os olhos. Entreviu Paula conversando animadamente com amigos e para ela se dirigiu.

Ao se aproximar, notou que ela portava amarras e ganchos, segurava um capacete, e, como acabava de virar, ainda pôde ler em suas costas a palavra Instrutora.

André surpreendeu-se. Era a primeira vez que se relacionava com alguém que praticava esportes radicais.

Quando se viram, Paula o cumprimentou com um rápido beijo na boca, apresentou-o aos amigos, e, como o céu mantinha-se ideal, perguntou se ele gostaria de fazer um voo a dois ou se preferiria retornar sozinho para Campos do Jordão.

André estava acuado. Jamais confessaria publicamente ter medo de altura; sua macheza não admitiria. No entanto, como a Instrutora garantia que o parapente era seguro, e que voava há anos, considerou que esse convite seria uma excelente oportunidade para impressioná-la.

Assim, e como os olhares aguardassem uma resposta, raspou as forças que sobravam em seu espírito e aceitou o desafio com um sorriso amarelo.

 E lá se foram vastidão afora... Ele, gritando de pavor; ela, não se aguentando de tanto rir.

É claro que o medroso foi-se acalmando durante o voo, seja pelas palavras que ouvia, seja por sentir-se seguro e bem conduzido, seja, enfim, pelo esplendor que passou a desfrutar durante o voo.

Terminada a experiência, sobraram alegria, abraços e beijos. E que se intensificariam pelo resto do feriado.

André só não conseguia entender por que Paula não aceitava terminar as noites em seu apartamento. É verdade que alugara um cômodo na Abernéssia; bem diferente do condomínio luxuoso onde ela ficava, no coração do Capivari. Mesmo assim, não cria que essa diferença fosse a razão de suas recusas.

O feriado enfim terminou. E não com ele o relacionamento, que desceu a serra e estreitou-se pelas semanas que se seguiram.

E tanto se intensificaram, que ao término do terceiro mês, André teve uma baita surpresa ao ser intimado por Paula para que fosse conhecer seus pais. E mais espantado ficou ao ser apresentado a eles como seu namorado.

Depois de seis meses de relacionamento, André começou a questionar-se... Pelo que se lembrava, em nenhum dos seus casos – foram vários e sempre breves – a intimidade do casal deixou de acontecer. Aliás, em muitos deles, ele nem precisou tomar a iniciativa, visto que as garotas é que se ofereciam, e no primeiro encontro. Qual seria, então, a razão das negativas que ouvia?

É bem verdade que Paula estava longe de ser caracterizada como piriguete. Mas imaginar que sua namorada seria um ser à parte em plena São Paulo do século XXI, uma espécie de E.T. que só se entregaria ao seu homem na noite de núpcias, seria algo de surreal, e de inaceitável!

Assim, em um determinado sábado, tão logo terminou a sessão de cinema a que foram assistir, André, sem nenhum constrangimento, perguntou para namorada se ela tinha algum problema físico ou psíquico que a impedia de ser sua.

Paula respondeu, em voz pausada e firme, que só se entregaria a um homem depois de casada. Era assim que fora educada, e assim seria.

Um climão formou-se naquele momento.

E como a mudez permanecesse, Paula levantou-se, encarou-o de olhos marejados, e foi embora sem dizer palavra.

André ficou sem reação. Nunca topara com uma mulher cujo recato falasse mais alto! E essa postura remexia em seu espírito, ora agradando, ora revoltando.

Os dias passavam. E o afastamento perdurava.

Paula sofria muito, mas se recusava a ligar.

André até arriscou outros horizontes. Mas nas duas vezes em que saiu para se divertir só encontrou tipos conhecidos, bem distantes do que Paula representava.

E como a saudade o martirizava, acabou ligando.

Ao ver quem era, a jovem inspirou profundamente, elevou o pensamento, e atendeu o telefone.

André pediu milhões de desculpas. Tentou justificar, argumentar... e se enrolava cada vez mais. Terminou dizendo que, por ter descoberto o verdadeiro amor, tudo faria para não a perder, incluindo o de respeitá-la até as núpcias.

Noivaram no início do ano seguinte, e casaram-se no mês das noivas – maio foi um pedido (enfático) de sua sogra.

André retemperava-se dia a dia ao toque da esposa. Era ela quem arejava as suas ideias, aprimorava os seus gostos, e desconstruía os seus hábitos há muito enraizados.

Paula, por sua vez, sentia-se cada vez mais estimulada, grata e feliz, sentimentos esses que sempre idealizou em uma vida de casados.

Essa harmonia, contudo, sofreria grande abalo. Depois de muito tentarem, desconfiaram, investigaram e descobriram que André era estéril.

Diante desse infortúnio, Paula sugeriu o amoroso caminho da adoção.

Mas André, inconformado com a sua situação, revoltou-se de inopino, e sentenciou que jamais aceitaria tal hipótese! Preferia vivessem sem filhos a ser pai de alguém já nascido.

Ao que parecia, as transformações operadas em André não passavam de um castelo de cartas, que, submetidas às provas da vida, não aguentaram um sopro mais forte.

Diante de tamanho egoísmo, Paula caiu em depressão.

O relacionamento foi esfriando, esfriando... E acabou em divórcio amigável.

Paula conseguiu reerguer-se à custa de terapias alternativas. E por agora divide a sua atenção entre a pós-graduação e o novo namorado, seu orientador no mestrado e outro apaixonado por paraglider.

André foi promovido a gerente de TI e voltou a frequentar as baladas. Mas acaba sempre frustrado, pois as mulheres com quem fica pouco ou nada lhe acrescentam.

Bem que os opostos tentaram ficar juntos... Mas, para eles, isso era impossível. 

FRUSTRAÇÕES PROFISSIONAIS

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Dói, como dói.

Sentir que me formei

na área errada.

Lembrar dos desgastes.

 

Frustrações profissionais

dói é demais.

Será que um dia

vou me encontrar?

 

Será que feliz

eu vou ser.

Tudo que eu quero

é um emprego que me traga paz.

 

Frustações profissionais

isso é demais.

Dói a alma.

Dói o meu ser.