segunda-feira, 1 de setembro de 2025

EDITORIAL

 Quinze Anos da ALB/DF

Por Paccelli José Maracci Zahler (Brasília, DF)

Existem datas que não só marcam o tempo, mas também o transformam. O dia 23 de agosto de 2025 é um desses momentos, pois celebra os 15 anos da Academia de Letras do Brasil, Seccional Distrito Federal (ALB/DF).

Quinze anos não são apenas um número, são atividades tecidas com paixão, encontros que se transformaram em grandes ideias, e vozes que se imortalizaram nas palavras. A ALB/DF nasceu do desejo sincero de unir talentos e nutrir a criação literária em todas as suas formas. O que começou com idealismo, hoje é uma referência de produção intelectual, um abraço caloroso que se estende por todo o Brasil e além.

Ao longo de sua trajetória, a ALB/DF construiu pontes de afeto, conectando gerações, intelectuais, e artesãos das palavras. Abriu as portas para saraus que alimentam a alma, lançou livros que ecoam vozes, e acolheu escritores que davam seus primeiros passos em busca do reconhecimento.

Neste setembro, a Revista Cerrado Cultural celebra a ALB/DF com o coração cheio de gratidão. Comemorar os 15 anos dessa querida Academia, é celebrar o poder da palavra que nos une, a força da coletividade e a beleza de um Brasil que pensa, escreve e transforma.

A ALB/DF é a prova viva de que, em meio a um mundo turbulento, a literatura ainda é o mais puro e nobre dos silêncios — aquele que nos fala diretamente à alma.

Parabéns, ALB/DF! A Revista Cerrado Cultural te abraça e a Cultura te agradece!

ALB/DF, QUINZE ANOS

Por Paccelli José Maracci Zahler (Cadeira nº 9, ALB/DF)

 

À Vânia Moreira Diniz

 

Quinze anos se erguem, sob o céu do Planalto,

Como um templo de letras, sem mármore ou asfalto.

Não se fez de concreto, nem de pedra lavrada,

Mas de verbo e de sonho, em jornada encantada.

 

ALB/DF, farol que não se apaga,

É chama que arde, é rede que embala.

Por entre os Cerrados, sua voz resplandece,

E a alma do Brasil, em seus versos, enobrece.

 

Poetas, escritores, mestres da criação,

Tecem com arte a mais pura expressão.

Cada encontro é um rito, cada fala, um altar,

Onde o saber se ajoelha para o amor celebrar.

 

Quinze primaveras de flores em papel,

Outonos de ideias, sob o céu mais fiel.

A cultura germina, em silêncio profundo,

E a palavra semeia esperança no mundo.

 

São laços de afeto, de tinta e de tempo,

Que bordam memórias, um doce momento.

É o grito do verso, que rompe o vazio,

É o sopro da história, que nunca foi frio.

 

Ergamos a taça, com orgulho e paixão,

A este legado que afaga o coração.

Que venham mais anos, em rima e fulgor,

Pois a ALB/DF é jardim de esplendor.

 

E quando o futuro nos chamar a escrever,

Que a voz da Academia continue a florescer.

Pois no livro da vida, seu nome há de estar,

Como estrela que guia, sem nunca cessar.

 

TERRIM...TERRIM...TERRIM...

 Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal) 

 

O telefone toca. Quem será!?

Era a amiga de minha mulher, que queria combinar a visita a sua casa. Era assim outrora, no tempo em que a sociedade convivia e, conversar era uma arte.

Desmudaram-se os tempos.

Agora quando o ouço tilintar, quer seja o fixo ou o móvel, logo penso: " lá vem " injeção"...

Ainda não decorreram muitos anos – ao levantar o auscultador, ouvi deliciosa voz juvenil, tratando-me pelo nome. Disse-me que era responsável por Infantário, e queria levar os petizes à praia. Mas havia crianças, cujos pais não podiam pagar. Lembrou-se de me telefonar, porque certamente seria católico, e daria donativo para suprir essa despesa.

Respondi-lhe que se fosse dar a todos, que me pedem, teria que ir pedir à porta de igreja, como o Mendigo de Camargo.

Alterou-se a menina, argumentando que vinte euros não faziam falta a ninguém, e certamente não queria impedir que, meninos pobres, fossem divertir-se à praia.

 E como lhe dissesse que não; nem conhecia o Infantário. Levantando a voz, atirou-me a praga: " Deus queira que não tenha, um dia, ir pedir à porta de igreja", e desligou brutamente.

O telefone que é objeto útil, transformou-se numa praga:

Terrim ...terrim .... É a empresa telefónica que quer oferecer novo serviço, que não me interessa. Começa a batalha de palavras. Guerra que só termina quando lhe digo a conhecida expressão – " Não é não"

A cada passo telefonam-me: é a concorrente que me oferece melhores vantagens. E os enganos, que chegam do país e de fora, são às dúzias, ...

                  Chego a ouvir o terrim ...terrim..., mais de meia dúzia, por dia! mas agora, quando não conheço o número, desligo.

Teimosamente continua a tilintar: de: manhã, à hora e almoço, de tarde, à noite...até de madrugada!... São em regra confidenciais: incomodam... mas não querem ser incomodados...

O que hei-de fazer? Se a crise maior da sociedade, é de educação; esta, há muito se ausentou, mesmo a elite, que se orgulha de graus académicos ou de nobreza – republicana ou monárquica...

"ISSO É EM PORTUGAL E NA EUROPA!..."

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal) 

 

Estando na companhia amiga de meu cunhado, a almoçar suculenta feijoada brasileira, onde não faltava boa farofa, couve guisada e abundante carne, tudo bem regado com fresco e encorpado vinho gaúcho, este, volvendo-se afetuosamente, para mim, disparou:

- " Por que não obtêm Bilhete de Identidade brasileiro, como o avô de minha mulher, que era português?

Fiquei mudo de espanto.

Ele, risonho, prosseguiu:

 - " Eu ajudo... Casou com comunhão de bens, com paulistana, em Perdizes, perante Juiz de Paz. Foi abençoado na Bexiga. Tem muita família e amigos, no Brasil, e casa em Santa Catarina. Fala português. Tem documentos brasileiros. Não é jovem, em breve estará aposentado. Não vai tirar emprego a ninguém..."

Enquanto assim falava, pensava na alegria que daria a minha mulher de poder passar, em minha companhia, a velhice, no torrão natal.

Fomos à Polícia. Atendeu-nos jovem funcionário. Historiei a situação, apresentei certidão de casamento...

Alegrei-me, quando me disse:" Basta, sendo português, com casa no Brasil, não deve haver obstáculo”.

Gentilmente indicou o fotógrafo, que tirava retratos, com os requisitos necessários.

De fotografias na mão, dirigi-me de novo à Polícia. Mandaram-me preencher papelada...

Depressa se esvaneceram as minhas esperanças. O malfadado computador, teimava em não aceitar os documentos, perante a estupefação do amável empregado.

Então surgiu homem grandalhão, de voz meiga, lamentando o sucedido. "Que fosse á Polícia Federal...Que fosse á Federal..."

Receoso, penetrei no edifício da Federal. Expôs o pretendido. Encaminharam-me para gabinete sobriamente decorado, onde fui recebido por carrancudo guarda. Ao tomar conhecimento do pretendido, a fisionomia desnudou-se, abrindo-se em festivos sorrisos:

- " Para nós, os portugueses, são nossos irmãos. Infelizmente não o posso satisfazer. Mas consegue, direito de residência; mas, cuidado! se ausentar mais de seis meses, caduca! Naturalmente, se pedir, será de novo concedido”.

Respondi-lhe: o brasileiro, para obter a nacionalidade portuguesa, basta-lhe ter ascendência portuguesa, ou residir meia dúzia de anos em Portugal...

Com disfarçado risinho, bailando nos grossos lábios, afirmou:

- "Isso é em Portugal! e na Europa!...”

 

 

 

A ARTE DIGITAL DE CLARISSE DA COSTA

 Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)









Sobre a autora: Clarisse da Costa é designer gráfico, novelista, contista e cronista em Biguaçu, SC.

JOGOS DE RELAÇÃO

Mulher sorrindo pousando para foto

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto. 

Por Elisa Augusta de Andrade Farina (Teófilo Otoni, MG)

O século XXI caminha a passos largos, em seu bojo as tecnologias vão cada vez mais se aprimorando. A era da informação dos multimeios é a realidade que leva as pessoas a procurarem se informar a seu respeito. Por mais incrível que pareça, nunca tivemos uma situação tão caótica na comunicação interpessoal.                  

O que se falava “face a face”, hoje se clica na Internet, sem o famoso “olho no olho”, uma verdadeira simulação de sentimentos, ocultando a verdade que hoje é quimera dos “sentimentalóides” (aqueles que prezam a ética e a boa convivência).

Os relacionamentos vão de mal a pior entre homem e mulher, silêncio doloroso e persistente entre pais e filhos, clima pesado entre alunos e professores. Todos nós desastrados, ora tolhidos, ora dissimulados e, na maior parte do tempo, mentindo uns aos outros. Estamos assistindo impassíveis à agonia da verdade, deixando a falsidade campear livre, fazendo vítimas entre os inocentes e ingênuos. A civilização pós-moderna se firma cada vez mais no egoísmo, na vaidade numa total indiferença: tudo para mim, para a satisfação do meu ego e o próximo que se dane!

 O ser humano é incapaz de manter uma relação de amizade verdadeira. Em compensação a maior relação se dá em sua tela de computador, seu ciclo social resume-se no Facebook, Instagram, WhatsApp etc. As fofocas, o exibicionismo, a falta de privacidade, as imaturidades virtuais vilipendiam o tempo e as verdadeiras emoções do encontro face a face. A verdade, onde se encontra? Nesse mundo de faz de conta está cada vez mais marcada a dependência psicológica e afetiva, de ciúmes desvairados, de insegurança e traições virtuais, de promiscuidade e baladas regadas a bebidas, sexo, tirando a sanidade mental de todos. Nunca fomos tão frágeis, carentes e inseguros. A angústia é o marco das nossas relações inter e intrapessoais.

Cadê o olho no olho e a sabedoria de dizer: “errei”, “não quero”, “não posso”, “não sei”, “me perdoe”? Quanto mais roupas de grife, tatuagens, corpo sarado, imagem narcísica, maior a baixa autoestima, menos a paz de espírito, maior a nossa fragilidade. A espontaneidade faz parte de um passado, a nossa sociedade nos imputa uma “respeitabilidade” falsa, nos adestra como animais de circo para falar o que não pensamos, expressar o que não sentimos e fazermos o que não desejamos.

Vivemos em contraposição, uma era conflituosa nas nossas relações matrimoniais, na criação e no cuidado dos nossos filhos, nas escolas, no trabalho e entre as demais nações.

Dia virá em que as pessoas buscarão de fato a capacidade de descomplicar os atos que as impedem de pensar, amar, sentir e agir, tendo a aptidão de na maior parte do tempo, falarem o que pensam, expressarem o que sentem e de fazerem o que desejam, resgatando desta forma a busca da verdade.

O sonho de um tempo em que a energia do pensamento seja transmissível, nos tornando mais honestos, habita o recôndito do nosso ser nos impulsionando a viver em paz, sem dissimulações, simplificando a nossa vida e as nossas relações de fato.

Você já pensou nisso? Se não…


Sobre a autora: Elisa Augusta de Andrade Farina é escritora, presidente da Academia de Letras de Teófilo Otoni – ALTO, colaboradora e integrante da turma Manoel de Barros, da Árvore das Letras.

 

MEUS LINDOS SONHOS

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Meus lindos sonhos nas

nuvens de algodão.

Floresce com a primavera

florida ao luar.

Meus lindos sonhos de amor.

 

Encantado jardim de amor.

Canta os seus sonhos,

viva cada sonho.

Inspira mais amor.

Espalha flor.

 

Meus lindos sonhos

de primavera.

Me deixaram doce

e singela.

Sonhos belos de amor.