Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)
‘’Preciso respirar profundamente, pois detesto
ficar em casa.
Hoje vou me esbanjar, conhecer lugares novos.
Ficar presa ao passado, não dá.
Fabiane Braga Lima
O negro amor
Temporário e vago
Mas eviterno, voraz e veloz
Segure-o com as minhas delicadas mãos
De uma segura mulher dona de si
Mesmo assim ele foge de mim
***
Sinta-o como uma onda bravia
Que vai quedar na expandida orla Atlântica
Ao longe vejo
Uma pequena e frágil embarcação
Imóvel e nervosa
***
Ergo-me e recupero o fôlego
Então mergulho no vazio
De ser eu mesma
Uma jovem mulher afro
Cheia das necessidades
Que a natureza me impõe
Caçada pelos desejos de um homem ideal
Que nunca vi
Eu não conheço
Sinto-me sufocada
Desapareço em mim
***
Os meus ancestrais me ensinaram
A navegar por águas turbulentas e tranquilas
Uma fugitiva insana
De realidade que me rodeia
***
Não tenha pressa de viver
Medito entre brancas nuvens opacas
Neste estranho universo quasímodo
Que teimo em desvendar
***
Magnânima
Retorno aos meus estros canhestros
Emprego pensamentos nada originais
E às vezes palavras furtivas me escapam
Despidos textos livres e amalgamados
Que cristalinos e leves
Flutuam no hiper-texto
***
Gosto de pensar
Que a minha negra alma gêmea
Deve estar por aí
A se esconder de mim
Procurando um outro alguém
Que não lhe pertença
Que não lhe deseja
***
Faça o que posso por hora
Pois no amanhã as cores mudaram
Em um tempo emprestado
Porque não é meu
É de uma outra pessoa
Que não conheço pessoalmente
Ser que eu não quero conhecer pessoalmente
***
Eu continuo e continuo vagando
Entre ruas que não são ruas
São números apenas
São Cidades! São estados e são nações
Em uma inodora cidade verticalizada
Fragmento
do livro, Sustentada no ar por negras asas fracas, de Clarisse Cristal,
poetisa, cronista, contista, novelista e bibliotecária de Balneário Camboriú,
Santa Catarina.
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