domingo, 1 de junho de 2025

A ODE AO DIVINO NEGRO AMOR!

Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)

 

‘’Preciso respirar profundamente, pois detesto ficar em casa.

Hoje vou me esbanjar, conhecer lugares novos.

 Ficar presa ao passado, não dá.

Fabiane Braga Lima

O negro amor

Temporário e vago

Mas eviterno, voraz e veloz

Segure-o com as minhas delicadas mãos

De uma segura mulher dona de si

Mesmo assim ele foge de mim

***

Sinta-o como uma onda bravia  

Que vai quedar na expandida orla Atlântica

Ao longe vejo

Uma pequena e frágil embarcação

 Imóvel e nervosa

***

Ergo-me e recupero o fôlego

Então mergulho no vazio

De ser eu mesma

Uma jovem mulher afro

Cheia das necessidades

Que a natureza me impõe

Caçada pelos desejos de um homem ideal  

Que nunca vi

 Eu não conheço

Sinto-me sufocada

Desapareço em mim

***

Os meus ancestrais me ensinaram

A navegar por águas turbulentas e tranquilas

Uma fugitiva insana

 De realidade que me rodeia

***

Não tenha pressa de viver

Medito entre brancas nuvens opacas

Neste estranho universo quasímodo

Que teimo em desvendar

***

Magnânima

Retorno aos meus estros canhestros

Emprego pensamentos nada originais

E às vezes palavras furtivas me escapam  

Despidos textos livres e amalgamados

 Que cristalinos e leves

 Flutuam no hiper-texto

***

Gosto de pensar

Que a minha negra alma gêmea

Deve estar por aí

A se esconder de mim

Procurando um outro alguém

Que não lhe pertença

Que não lhe deseja

***

 Faça o que posso por hora

Pois no amanhã as cores mudaram

Em um tempo emprestado

Porque não é meu

É de uma outra pessoa

Que não conheço pessoalmente

Ser que eu não quero conhecer pessoalmente

***

Eu continuo e continuo vagando

Entre ruas que não são ruas

São números apenas

São Cidades! São estados e são nações

Em uma inodora cidade verticalizada


Fragmento do livro, Sustentada no ar por negras asas fracas, de Clarisse Cristal, poetisa, cronista, contista, novelista e bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa Catarina.

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