domingo, 1 de junho de 2025

LIA

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

— Que garotinha birrenta. — Pensei comigo mesma, naquele começo de primavera, pela manhã! Os dias passavam lentos, e eu sempre cuidando de Samanta, a filha única do senhor Norton! Eu praticamente morava naquele serviço, ajudando a criar aquela rebelde garotinha, depois da tragédia, desde que a mãe dela, havia falecido no parto. Bom! Acho que já tinha me apegado a menina, até dormíamos juntas, como se fossemos mãe e filha. Até participava das festas familiares e das reuniões da escola preparatória que a pequena Samanta frequentava.

Tinha também o pai do senhor Norton! Sempre sentado em sua poltrona favorita, sempre lendo e sempre calado. De olhar sereno e sedento, ao mesmo tempo, o velho senhor procurava disfarçar sempre quando me olhava com os profundos olhos azuis piscina.

Já o dono da casa, eu o observava na distância, mais que segura, e com certa curiosidade, ver aquele homem de meia idade, que pouco dizia e que eu conhecia quase nada. Ele fechado em si mesmo, e sempre sentado em seu escritório. Ele sempre trabalhando em casa, fechado no escritório, debruçado no computador, fazendo e refazendo balancetes, revendo planejamentos, revisando relatórios. E o observava, pela porta aberta, dando telefonema, fazendo reuniões virtuais e assinando ordens de serviço e memorandos.

Nas agitações diárias da burocracia, que o senhor Norton, lidava, ele dava conta de contratar diferentes buffets, para as pequenas festas e recepções, que ele dava em casa, mas não se envolvia em assuntos domésticos da casa. O dono da casa, só se comportava como um anfitrião atento, nos vários eventos reservados, para seletos clientes, poucos amigos e diretores da empresa que ele administrava.

Norton trabalhava em casa, dando a impressão de quem queria, evitar perguntas embaraçosas, para se desvincular de dolorosas lembranças. De quando cedo, saía para trabalhar e voltava tarde da noite. E muitas das vezes, Norton via a esposa dormindo no sofá, à espera dele. Em suma, ele se culpava pelo fato da falecida esposa não estar ao lado dele, ele se culpava pela morte da esposa. Pelas muitas ausências, que ele submeteu a família.   

Certa noite, depois de colocar a pequena Samantha, na cama para dormir, escuto o senhor Norton, a poucos passos atrás de mim. Virei-me assustada com o inusitado.  

— Poderia arrumar o nó da minha gravata!? — Perguntou de forma seca e formal.

— É claro que sim senhor Norton, é um prazer! — Respondi um tanto nervosa.

E ele, me devolveu com um olhar calmo e atrevido ao mesmo tempo! O executivo estava seguro de si, como sempre.   

— Sabe Lia, nunca te agradeci por estes anos de dedicação conosco.

Dei um nó de gravata Windsor, ele ergueu os braços e delicadamente com as costas das mãos, acariciou minha nuca com leves toques. Fixei o meu olhar nos olhos castanhos misteriosos, então eu não pude resistir ao toque, Norton me envolveu intensamente. Segurando forte em minha cintura, colocando contra parede e puxando os meus cabelos com força.

— Quero muito te fazer mulher...deixa...! — As palavras se perderam no ar. Dominados pelo desejo, abraçados, subimos as escadas sem nada dizer. No quarto vendou meus olhos, tirou as minhas roupas, me pegou no colo e jogou e me amarrou na cama! Rendi-me completamente.

Nós permitimos tudo, desde os mais profundos atos de desejos, um amor que reprimimos há anos. Nossos corpos cada vez mais febris, e a insanidade de nossa mente. Ele sussurrava em meu ouvido, que me amava, me entorpeceu com infindos prazeres. Fui a serva submissa, amante fiel, mulher e ele o meu homem, me tomava com força.  Havia muita paixão e o saboroso gosto do pecado. Luxúria!

E assim foram nossas noites de intensa paixão e muito amor! Ele me abraçava, não conseguia descrever o que sentia. Era uma viagem sem volta, ao paraíso, um eterno aconchego de amor. Noites abraçadas e corpos colados! Daquela noite em diante, só tinha olhos para ele. E quanto a garotinha Samanta, foi ficando menos rebelde e atenciosa com o pai.

Após as festas e recepções na casa de Norton... O dono da casa me chamava.

— Lia arrume o nó da minha gravata?!

—Sempre, meu amor!

Acariciando o meu corpo despido e excitado, me arrastou, ao seu quarto novamente... Nós amamos...

 

Fragmento do livro: Duas lágrimas, duas vidas e dois sorrisosTexto e argumento de Fabiane Braga Lima, novelista, poetisa e contista em Rio Claro, São Paulo.

Texto e revisão de Samuel da Costa, novelista, poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina. 

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