domingo, 1 de junho de 2025

ELIZA

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

 Eliza, mulher alegre e carinhosa, com sua beleza exuberante, chamava a atenção de todos à sua volta. Mulher simples, sempre muito integra, repudiava qualquer tipo de maldade e preconceito. Com um sentimento bem comum, de quem sai dos interiores afastados, rumo aos grandes e médios centros urbanos, ela acreditava que um dia, poderia melhorar de vida e ajudar a família!

Ela trabalhava no turno da manhã na recepção de um hotel requintado, onde passava seus dias e noites, quase sem folgas e toda sorridente a receber passantes ocasionais e acidentais turistas de veraneio. O público, que muitas das vezes, falava um o idioma que ela sequer compreendia.

Eliza cursava turismo e hotelaria na parte da tarde, com uma bolsa de estudos integral, pois boa parte do parco salário, que recebia, mandava para a família. Eliza sentia muitas saudades das simplicidades afetivas, da sua terra natal. Mas prometeu para si mesmo e, para aos seus pais, voltar um dia para onde nasceu, para dar uma vida mais digna para os seus, longe da miséria.

A recepcionista nutria uma paixão idílica por Ezequiel, sócio e gerente do Hotel que ele trabalhava. Ezequiel, era um homem de meia idade e de posses, vivia rodeado de atraentes e jovens mulheres, que simplesmente gravitavam ao seu redor. Ele, imerso nas idas e vindas de hóspedes sempre exigentes, mal dava pela mera existência opaca de Eliza, quanto mais da idílica paixão da moça por ele.         

Certo dia ao fim da tarde, Eliza chegou a pé da universidade, que não era muito distante do hotel em que trabalhava. Ela encharcada e passando frio, pela forte e repentina chuva de verão, que caia torrencialmente. Ela em um rompante, autopreservação, decidiu usar o hall de entrada do hotel, ao invés da entrada lateral de serviço. A recepcionista, decidiu ignorar todo o treinamento que lhe passavam e repassavam, por várias e várias vezes, a entrada principal era somente para hóspedes e o público afim. Eliza, a recepcionista, pretendia subir rapidamente para a dependência dos empregados do hotel às pressas e passar incólume, para evitar embaraços e constrangimentos com quem quer que seja.             

E lá estava ele, o gerente Ezequiel, postado no hall de entrada do hotel, recebendo uma leva de turistas, que falavam uma língua estrangeira, um idioma que Eliza não compreendia. E como sempre, o elegante e jovial gerente, estava rodeado de uma gama variada de mulheres, enquanto os homens, estavam debruçados no balcão de recepção. Eles, confirmando as reservas dos quartos, eles às voltas, com as muitas bagagens, que estavam no meio do hall do hotel, ladeados dos carregadores de bagagens.

Então aconteceu, em instante apenas, os olhares da recepcionista Eliza e do gerente Ezequiel se cruzaram, como se os dois mundos, avessos e alheios um do outro, se chocassem de forma explosiva. Parecia que ambos nunca tinham se visto anteriormente. Enquanto lá fora, um relâmpago cruzou o céu cinzento e atingiu o chão, um forte estrondo foi ouvido, assustaram a todos e a todas sem distinções. E as luzes se apagaram por instantes, até que o gerador auxiliar do hotel, entrou rapidamente em funcionamento e reestabelecendo às luzes. Ezequiel, correu intempestivo até a preocupada Eliza, pois o que ela não sabia, nem mesmo o próprio Ezequiel, se dava conta do fato em si. Ele sempre esperava a jovem recepcionista retornar da universidade ao fim da tarde. Eliza passava, sempre no mesmo horário, pela frente do hall de entrada do hotel e ela rumava para a entrada lateral, a entrada de serviço. 

— Eliza o que aconteceu contigo?! — disse Ezequiel, não disfarçando a preocupação, pois a respiração ofegante, o denunciava o gerente, estava a poucos centímetros da jovem funcionária do hotel. Ansiava por abraçá-la.

— Nada senhor! Apenas peguei chuva no caminho! — Respondeu a recepcionista de forma cautelosa, trazendo ambos a realidade que os rodeava.

— Então suba e vá se trocar! — A ordem que era geralmente seca agora tinha um certo tom leve e suave.

A cena passou despercebida por muitos, que estavam ocupados demais com a forte chuva, os relâmpagos e com a repentina queda de energia.

Eliza, ficou um pouco assustada, com a coisa toda, por uns instantes, mas retomou a realidade e partiu com presa rumo a ala dos empregados. Mas não demorou muito e Ezequiel bateu de leve, na porta do modesto quarto de Eliza. A recepcionista, ainda estava encharcada e com frio, em um misto de hesitação e normalidade abriu a porta pois ela já sabia quem era no outro lado da porta.  

— Estava preocupado...

Eliza, bateu com força a porta, sem nada dizer, na cara do seu chefe e patrão. Não muito tempo depois do ocorrido, a recepcionista recomposta e devidamente uniformizada, ela arrependia do como tinha agido, com Ezequiel foi procurá-lo. Eliza saiu à procura do gerente, pelos corredores do hotel. Foi encontrá-lo olhando profundamente para o teto, ele estava deitado no sofá no vestuário, reservado aos empregados do hotel, ele parecia muito cansado. Eliza confusa ficou parada a poucos metros dele, decidiu voltar à realidade cotidiana e ocupar o seu posto de trabalho no turno da noite. No outro dia ela pretendia pedir desculpas para Ezequiel!

No dia seguinte pela manhã, ao retomar a rotina diária, ambos não se encontraram, não se falaram e não se olharam. A agenda das atividades do dia chegou pelas mãos de um dos subgerentes, em invés das mãos do gerente do hotel. Pois Ezequiel, perfeccionista que era, fazia questão de pessoalmente acompanhar toda a funcionalidade do hotel, que ele gerenciava, a cada passo a cada detalhe. E o dia se passou sem atribulações maiores.

 Ao final do dia, ao retorno de Eliza da universidade, ela passou pela frente do hotel, virou à esquerda e passou pela entrada de serviços. Cruzou o pequeno corredor, ignorou as muitas portas de acessos, subiu a escadaria, subiu para o segundo andar. E ao divisar o final do corredor, viu Ezequiel, parado e esperando por ela no limiar da porta do quarto da recepcionista. Eliza não se conteve e correu até Ezequiel. Ofegante e nervosa ficou a poucos centímetros dele.  

 — Dê-me a tua mão e venha sem medo! — disse Ezequiel que olhava para os olhos delas. A paixão crescia cada vez mais entre os dois.

Ezequiel levou delicadamente Eliza até a suíte particular reservada para os donos do hotel!  Lá chegando a recepcionista sequer notou o deslumbrante da decoração do quarto. Ezequiel, vendou os olhos da jovem, a beijou na boca, correu em sua cama para saciar seus prazeres. Madrugada a fora e lhe serviu com a luxúria mais requintada! Ezequiel era um homem maduro, e lhe ensinou os prazeres mais profundos! Insaciados de amor!

E, assim as noites foram ficando cada vez mais excitantes, ele a torturava, e acalentava em seus corpos, despidos livres, era dominada por aquele homem.

Mas Ezequiel, já não vivia sem ela. Eram dois corpos e um só destino.

— Eu sempre cuidarei de você! — Disse Ezequiel, então pegando na mão de Eliza. E tirou de seu bolso um presente, era um anel de noivado...

— Elizabety aceite?!

— Sou sua!...

Fragmento do livro: Duas lágrimas, duas vidas e dois sorrisos. Texto e argumento de Fabiane Braga Lima, novelista, poetisa e contista em Rio Claro, São Paulo.

Texto e revisão de Samuel da Costa, novelista, poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina. 

 

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