domingo, 1 de junho de 2025

UM MOMENTO NADA IMPROVISADO NO QUINTAL DO REINO DA AFRA-RAINHA

Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)

 

A beleza nasce nas subjetivas

De olhares desejos

De leve sorrisos maliciosos

E depois vai para muito além

Das aparências físicas

***

Muitas das vezes ser mulher

É uma das melhores das sensações

Que a vida por proporcionar

Pelo menos para mim

***

És elegante, divertida e muito atrevida

Disse-me um desconhecido

Ao pé do meu ouvido

Corei e depois fomos para a cama

Nos divertimos muito

Depois eu disse para o desconhecido

E não brinco com o amor

Dei-lhe um ardente beijo na boca

E o dispensei! E nunca mais o vi!

***

Disseram-me que o burlesco

É uma arte sensual e sexual

E não é então somente

Dançar seminua e sexy em um palco

Em um obscuro clube noturno da marginal leste

Ouvindo efusivos aplausos

E estrondosos assobios

Advindos de uma pequena massa disforme

De pessoas desconhecidas

***

Gostaria de dizer que ganhei

De mamãe! Os meus salamaleques

E leques de penas sintécticas

Mas não é verdade

Eu as comprei na rua 1520

***

O burlesco é uma arte para poucos

É técnica! É ter postura de palco

E a graça divinamente sedutora

***

A imagem dantesca

De eu ficar paralisada no palco

Somente para alguns momentos

Parece-me assustador

A princípio

***

Então decidi cultivar o meu amor próprio

E parar valorizar as pessoas

Que me detestam

E começar a compor

Um novo opúsculo digital

Um alfarrábio com as suas algaravias

Que ninguém lerá

***

Uma vez no palco

Não consegui parar de dançar

E quando desço do palco

Canto... sensualizo... seduzo

Ganho a audácia

E a excitação do início fica no passado

Mas eu não tenho amor pelos fãs

No amanhã não voltarei aos palcos

Sou livre

 

Fragmento do livro, Sustentada no ar por negras asas fracas, de Clarisse Cristal, poetisa, cronista, contista, novelista e bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa Catarina.

 

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