domingo, 1 de junho de 2025

ALLANA

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

         O tempo estava nublado, haviam muitas nuvens escuras no céu e o marido de Allana, dissimulado que era, estava horas na rua. A bem da verdade, ela já havia se acostumada, eram dias e noites de completa ausência, sem ao menos um telefonema sequer. E ela não fazia muita questão, que ele voltasse para casa, pois sempre que ele chegava, mal a olhava e logo pegava o seu celular.

          Em casa, o esposo de Allana ficava horas a fio atendendo os seus clientes de forma virtual. Era sócio de uma grande imobiliária, em uma cidade em plena expansão, se urbanizando e verticalizando de forma acelerada. Noah era um homem, ainda jovem e bem sucedido na profissão, que escolheu! Sempre muito ocupado, não raro, dormia no sofá do escritório, que mantinha em casa. O jovem empresário passava boa parte do seu tempo, organizando a agenda, fazendo e refazendo cálculos, revisando contratos e respondendo correspondências eletrônicas. Ele, checando anúncios de vendas, compras e aluguéis de imóveis, em várias mídias eletrônicas e físicas, como de costume.

        Sozinha no quarto de madrugada, Allana, ouvia as gargalhadas do marido, era ele comemorando sozinho, um feito qualquer, geralmente quando as contas bancárias se movimentavam. Nessas horas Allana, chorava implorando por um pouco de atenção do marido. Mas Noah, era egoísta, como se não bastasse era intolerante e machista. E tinha o hábito de gritar em casa.

     — Allana, venha logo aqui! — Aos berros chamava a companheira.

    —Sim, Noah...

    — Vou sair e não sei quando volto! Fala pro inútil do Davi, aquele jardineiro ordinário, tomar conta do jardim direito! — Disse Noah com nervosismo na voz.

     — Mas Noah... — Suplicava Allana entre soluços e lágrimas

     — Cale a boca, mulher inútil! E vá procurar algo pra fazer. — Vociferava ao interromper a jovem esposa. O agente imobiliário, a tratava como se fosse um animal doméstico a ser adestrado. Allana repudiava no que aquele homem tinha se tornado, no qual tinha se casado a poucos anos, mas ao mesmo tempo parecia gostar, estranho!

          Assim, que Noah partia, ela se via sozinha mais uma vez.

      — Como posso ficar com um homem frio e tão repugnante!? — Falava como se alguém estivesse ao lado dela e continuo! — Asqueroso, nunca quis ao menos ter filhos, pois não quer arcar com responsabilidades financeiras.

        Cansada de tudo aquilo, entrou lânguida e sonolenta em seu quarto conjugal, olhou bem os porta-retratos, no criado-mudo de seu casamento, eram dias felizes de recém casados, que ficaram no passado não muito distante. E Allana os atirou ao chão com força e os quebrou um por um. Ninguém poderia supor ou perceber o que passava pela cabeça dela, o que falta de afeto poderia fazer no coração e na cabeça de uma mulher!

        De repente, Allana se aproximou e olhou pela janela semiaberta, e lá estava ele, o jardineiro, que seu esposo havia contratado a pouco tempo. O contratava por tempo integral, para cuidar do jardim externo e do jardim de inverno. Recoberto de terra preta, dos pés até a cabeça, o homem foi se banhar com a mangueira do jardim externo, estava seminu, com o dorso à mostra. Naquele momento Allana não se conteve e em disparada saiu do quarto, desceu as escadas trôpega e em um ímpeto alcançou o jardim aos fundos da casa foi ter com o trabalhador.

        — Suma daqui agora... agora! O senhor está nu! — A dona da casa gritava e bem alto.

         — Me perdoe, senhora! — Disse o jardineiro, envergonhado com os olhos castanhos escuros cravados nos olhos castanhos amendoados de Allana.

         A jovem dona da casa, se retirou enfurecida e sem olhar para trás. Se ela se virasse e olhasse, Allana poderia ver o homem simples e trabalhador, ainda segurando a mangueira que jorrava águas, o jardineiro a olhava dos pés até a cabeça, com certa curiosidade. 

          Nos dias que se sucederam ao doméstico confronto no jardim, Allana incorporou o hábito, de olhar todos os dias pelas janelas, em horários variados! Percebeu por fim que estava perdidamente e completamente apaixonada pelo jardineiro. Havia um certo mistério no olhar daquele homem de poucas palavras! Um completo mistério que ela tentava desvendar, nem que fosse a última coisa que faria em vida. 

         Certa noite na ausência do marido, ela foi até a casa dos fundos, um aposento reservado para os empregados da casa!

        — Não vou fazer nada que não queira, mas vou lhe provocar até não querer mais! — Disse a dona da casa para o homem deita na cama do pequeno cômodo

            E sem nada dizer se entregou a Davi, o jardineiro, sem remorsos nem ou mesmo culpas. Ela saciou todas suas vontades carnais, que seu esposo jamais havia saciado. Davi tinha seus mistérios, suas seduções e insanas paixões. Descobrirão a sintonia perfeita, o encaixe mais que perfeito e gozo etéreo dos deuses. A devoção e entrega, entre ambos os corpos insaciados, o desejo carnal e a devassidão e a obsessão. Não foi só um encontro de corpos, foi um encontro de almas, foi, suores misturados e uma total entrega, que os dominavam.

         Depois do amor, Allana só pensava em si e em mais ninguém. Quanto ao seu esposo frio e calculista de Allana!? Há anos nutria várias amantes...!

 

Fragmento do livro: Duas lágrimas, duas vidas e dois sorrisosTexto e argumento de Fabiane Braga Lima, novelista, poetisa e contista em Rio Claro, São Paulo.

Texto e revisão de Samuel da Costa, novelista, poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina. 

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