Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)
O tempo estava nublado, haviam muitas
nuvens escuras no céu e o marido de Allana, dissimulado que era, estava horas
na rua. A bem da verdade, ela já havia se acostumada, eram dias e noites de
completa ausência, sem ao menos um telefonema sequer. E ela não fazia muita
questão, que ele voltasse para casa, pois sempre que ele chegava, mal a olhava
e logo pegava o seu celular.
Em casa, o esposo de Allana ficava horas a fio atendendo os seus clientes de
forma virtual. Era sócio de uma grande imobiliária, em uma cidade em plena
expansão, se urbanizando e verticalizando de forma acelerada. Noah era um
homem, ainda jovem e bem sucedido na profissão, que escolheu! Sempre muito
ocupado, não raro, dormia no sofá do escritório, que mantinha em casa. O jovem
empresário passava boa parte do seu tempo, organizando a agenda, fazendo e
refazendo cálculos, revisando contratos e respondendo correspondências
eletrônicas. Ele, checando anúncios de vendas, compras e aluguéis de imóveis,
em várias mídias eletrônicas e físicas, como de costume.
Sozinha no quarto de madrugada, Allana, ouvia as gargalhadas do marido, era ele
comemorando sozinho, um feito qualquer, geralmente quando as contas bancárias
se movimentavam. Nessas horas Allana, chorava implorando por um pouco de
atenção do marido. Mas Noah, era egoísta, como se não bastasse era intolerante
e machista. E tinha o hábito de gritar em casa.
— Allana, venha logo aqui! — Aos berros chamava a companheira.
—Sim, Noah...
— Vou sair e não sei quando volto! Fala pro inútil do Davi, aquele jardineiro
ordinário, tomar conta do jardim direito! — Disse Noah com nervosismo na voz.
— Mas Noah... — Suplicava Allana entre soluços e lágrimas
— Cale a boca, mulher inútil! E vá procurar algo pra fazer. — Vociferava ao
interromper a jovem esposa. O agente imobiliário, a tratava como se fosse um
animal doméstico a ser adestrado. Allana repudiava no que aquele homem tinha se
tornado, no qual tinha se casado a poucos anos, mas ao mesmo tempo parecia
gostar, estranho!
Assim, que Noah partia, ela se via sozinha mais uma vez.
— Como posso ficar com um homem frio e tão repugnante!? — Falava como se alguém
estivesse ao lado dela e continuo! — Asqueroso, nunca quis ao menos ter filhos,
pois não quer arcar com responsabilidades financeiras.
Cansada de tudo aquilo, entrou lânguida e sonolenta em seu quarto conjugal,
olhou bem os porta-retratos, no criado-mudo de seu casamento, eram dias felizes
de recém casados, que ficaram no passado não muito distante. E Allana os atirou
ao chão com força e os quebrou um por um. Ninguém poderia supor ou perceber o
que passava pela cabeça dela, o que falta de afeto poderia fazer no coração e
na cabeça de uma mulher!
De repente, Allana se aproximou e olhou pela janela semiaberta, e lá estava
ele, o jardineiro, que seu esposo havia contratado a pouco tempo. O contratava
por tempo integral, para cuidar do jardim externo e do jardim de inverno.
Recoberto de terra preta, dos pés até a cabeça, o homem foi se banhar com a
mangueira do jardim externo, estava seminu, com o dorso à mostra. Naquele
momento Allana não se conteve e em disparada saiu do quarto, desceu as escadas
trôpega e em um ímpeto alcançou o jardim aos fundos da casa foi ter com o
trabalhador.
— Suma daqui agora... agora! O senhor está nu! — A dona da casa gritava e bem
alto.
— Me perdoe, senhora! — Disse o jardineiro, envergonhado com os olhos castanhos
escuros cravados nos olhos castanhos amendoados de Allana.
A jovem dona da casa, se retirou
enfurecida e sem olhar para trás. Se ela se virasse e olhasse, Allana poderia
ver o homem simples e trabalhador, ainda segurando a mangueira que jorrava
águas, o jardineiro a olhava dos pés até a cabeça, com certa curiosidade.
Nos dias que se sucederam ao doméstico confronto no jardim, Allana incorporou o
hábito, de olhar todos os dias pelas janelas, em horários variados! Percebeu
por fim que estava perdidamente e completamente apaixonada pelo jardineiro.
Havia um certo mistério no olhar daquele homem de poucas palavras! Um completo
mistério que ela tentava desvendar, nem que fosse a última coisa que faria em
vida.
Certa noite na ausência do marido, ela
foi até a casa dos fundos, um aposento reservado para os empregados da casa!
— Não vou fazer nada que não queira, mas vou lhe provocar até não querer mais!
— Disse a dona da casa para o homem deita na cama do pequeno cômodo
E sem nada dizer se entregou a Davi, o jardineiro, sem remorsos nem ou mesmo
culpas. Ela saciou todas suas vontades carnais, que seu esposo jamais havia
saciado. Davi tinha seus mistérios, suas seduções e insanas paixões.
Descobrirão a sintonia perfeita, o encaixe mais que perfeito e gozo etéreo dos
deuses. A devoção e entrega, entre ambos os corpos insaciados, o desejo carnal
e a devassidão e a obsessão. Não foi só um encontro de corpos, foi um encontro
de almas, foi, suores misturados e uma total entrega, que os dominavam.
Depois do amor, Allana só pensava em si e em mais ninguém. Quanto ao seu esposo
frio e calculista de Allana!? Há anos nutria várias amantes...!
Fragmento do livro: Duas lágrimas, duas vidas e
dois sorrisos. Texto
e argumento de Fabiane Braga Lima, novelista, poetisa e contista em Rio Claro,
São Paulo.
Texto
e revisão de Samuel da Costa, novelista, poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina.
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