sábado, 1 de julho de 2023

FLOR DO MATO (DOS NOSSOS DIAS FELIZES)

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)

 

Tomás se levantou da cama, usando apenas de andador para se locomover, eu não quis ajudá-lo. Notei que havia emagrecido uns 60 quilos pelo menos, ele estava se esforçando, logo, logo, poderia realizar a cirurgia bariátrica.  Impaciente, pois não queria esperar pela consulta agendada para os próximos dias, e liguei para o médico de Tomás, eu queria saber do diagnóstico. Fui para o escritório de Tomás e tranquei a porta, disquei o número da clínica que atendia Tomás, eu aí me dei conta que tinha memorizado o número da clínica. A recepcionista sonolenta me passou para o consultório de médico de Tomás, ela fez isso depois de muita insistência minha.  

— Dona Valentina Tomás teve uma melhora sim! — Respondeu o médico a minha pergunta e ponderou — Eu não posso passar as informações pelo telefone.  

— Tomás se esforçou e um guerreiro! — Falei tentando abrir caminho para agendar a cirurgia.  

— Eu vou ter que falar com o marido da senhora o mais rápido possível.

Não posso dizer que é cem por cento de certeza, pois depende também do humor do paciente. Mas creio que na próxima semana elaboraremos a cirurgia bariátrica.

       Fomos consultar o médico no dia seguinte. E tudo correu bem, o humor de Tomás estava muito excelente. O médico nos passou o estado de Tomás, os riscos da cirurgia e pós-operatório. Peguei na mão de Tomás e ele me olhou com firmeza, assentiu com a cabeça e consentimos com a cirurgia. Parecia um sonho bom, assinamos os formulários sem resignar e a cirurgia foi agendada. Ao voltarmos para casa fui ter com nosso enfermeiro, ele fadigado, se aliviou, pois construímos uma boa relação.

        Estávamos extremamente felizes, naquele dia, então resolvemos dispensar o enfermeiro, e passar o dia inteiro com Tomás. Liguei para os nossos filhos, quem sabe, poderiam se alegrar. Infelizmente, não foi o caso!

     Mas a vida me felicitou, ao lado do meu amor. No dia seguinte acordamos bem cedo, pela primeira vez em meses nos sentamos à mesa e tomamos o nosso café da manhã juntos. Eram torradas e um café forte, logo, com cautela Tomás se levantou e pegou o andador para se exercitar, o meu marido se sentia bem melhor. Este era meu Tomás, valente.

      Olhei pela janela, o jardineiro estava com mudas de plantas em um saco. Resolvi ir até lá.

       — Parece que vai plantar novamente! Eu disse esperançosa  

      — Sim, dessa vez o jardim da senhora ficará mais belo, a geada está acabando.

       Calei-me! Afinal, ele era o jardineiro e bem mais qualificado que eu. Preciso ver a flor do mato. Pequenina, mas valente, viva e saudável.

        — Adorando a flor do mato, senhora Valentina? — Disse feliz Isaac.   

        — Sim, Isaac! — Respondi efusiva.  

        — Dona Valentina, essa flor é valente, nasce e cresce, até em esgoto! — Falou espontaneamente o jardineiro.  

        — Preciso ir! — Disse me despedindo de Isaac. Eu tenho pavor de lidar com flores, preciso ser mais audaciosa com ele.


Texto de Fabiane Braga Lima, poetisa, contista e novelista em Rio Claro, São Paulo.

Contato: debragafabiane1@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário