Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
Tomás se levantou da cama,
usando apenas de andador para se locomover, eu não quis ajudá-lo. Notei que
havia emagrecido uns 60 quilos pelo menos, ele estava se esforçando, logo,
logo, poderia realizar a cirurgia bariátrica. Impaciente, pois não queria
esperar pela consulta agendada para os próximos dias, e liguei para o médico de
Tomás, eu queria saber do diagnóstico. Fui para o escritório de Tomás e tranquei
a porta, disquei o número da clínica que atendia Tomás, eu aí me dei conta que
tinha memorizado o número da clínica. A recepcionista sonolenta me passou para
o consultório de médico de Tomás, ela fez isso depois de muita insistência
minha.
— Dona Valentina Tomás teve
uma melhora sim! — Respondeu o médico a minha pergunta e ponderou — Eu não
posso passar as informações pelo telefone.
— Tomás se esforçou e um
guerreiro! — Falei tentando abrir caminho para agendar a cirurgia.
— Eu vou ter que falar com o
marido da senhora o mais rápido possível.
Não posso dizer que é cem por
cento de certeza, pois depende também do humor do paciente. Mas creio que na
próxima semana elaboraremos a cirurgia bariátrica.
Fomos consultar o médico no dia seguinte. E tudo correu
bem, o humor de Tomás estava muito excelente. O médico nos passou o estado de
Tomás, os riscos da cirurgia e pós-operatório. Peguei na mão de Tomás e ele me
olhou com firmeza, assentiu com a cabeça e consentimos com a cirurgia. Parecia
um sonho bom, assinamos os formulários sem resignar e a cirurgia foi agendada.
Ao voltarmos para casa fui ter com nosso enfermeiro, ele fadigado, se aliviou,
pois construímos uma boa relação.
Estávamos extremamente felizes, naquele dia, então resolvemos dispensar o
enfermeiro, e passar o dia inteiro com Tomás. Liguei para os nossos filhos,
quem sabe, poderiam se alegrar. Infelizmente, não foi o caso!
Mas a
vida me felicitou, ao lado do meu amor. No dia seguinte acordamos bem cedo,
pela primeira vez em meses nos sentamos à mesa e tomamos o nosso café da manhã
juntos. Eram torradas e um café forte, logo, com cautela Tomás se levantou e
pegou o andador para se exercitar, o meu marido se sentia bem melhor. Este era
meu Tomás, valente.
Olhei
pela janela, o jardineiro estava com mudas de plantas em um saco. Resolvi ir
até lá.
—
Parece que vai plantar novamente! Eu disse esperançosa
—
Sim, dessa vez o jardim da senhora ficará mais belo, a geada está acabando.
Calei-me!
Afinal, ele era o jardineiro e bem mais qualificado que eu. Preciso ver a flor
do mato. Pequenina, mas valente, viva e saudável.
—
Adorando a flor do mato, senhora Valentina? — Disse feliz
Isaac.
—
Sim, Isaac! — Respondi efusiva.
—
Dona Valentina, essa flor é valente, nasce e cresce, até em esgoto! — Falou
espontaneamente o jardineiro.
—
Preciso ir! — Disse me despedindo de Isaac. Eu tenho pavor de lidar com flores,
preciso ser mais audaciosa com ele.
Texto de Fabiane Braga Lima,
poetisa, contista e novelista em Rio Claro, São Paulo.
Contato:
debragafabiane1@gmail.com
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