Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
A velha e revelha história do:
" Rei Vai Nu", está sempre atual. Foi recontada genialmente por
Ramalho, e por outros conhecidos escritores:
Um dia apareceu ao Rei, não sei
se era do Oriente ou Ocidente, alfaiate espertalhão, que tinha um tecido precioso.
Tão especial, que só os inteligentes podiam ver.
O Rei e os cortesãos não
queriam passar por ineptos, e não se cansavam, copiosamente, louvar a fazenda.
Sua Majestade mandou-lhe,
então, confecionar vestidura, para deslumbrar a plebe.
Mas certa vez, quando o monarca
andava a passear, um rapazinho inocente, vendo o rei em trajos menores, clamou:
"O Rei vai Nu!..."
Por encanto, como S. Paulo, em
Damasco, caíram as escamas dos olhos, que não deixavam o rei ver a verdade, por
estupidez ou vaidade.
Envergonhado, recolheu-se ao
palácio e vestiu-se dignamente.
Francisco Rodrigues Lobo, na
" Corte na Aldeia", conta caso semelhante:
Foi contactado El-rei D. João
III por importante mercador, que lhe disse – que na sua loja tinha tecido
precioso, e que lho daria de graça, se lhe desse a honra de o aceitar.
El-rei recebeu o presente e
mandou fazer vestimenta. Logo que apareceu em publico, todos correram ao
estabelecimento do mercador, em busca de igual fazenda.
O referido pano era um mono, e
não havia quem o comprasse.
Quantas vezes não se vê
senhores carregados de condecorações ou de elevado grau académico, pasmados
diante mamarracho, com a boca e. "Oh!" – " Que maravilha!...Que
talento!...Que genial!..."
No íntimo todos sabem que nada
vale, mas não têm a coragem de o afirmar, em publico, para não passarem por
néscios, perante os "entendidos".
Assim acontece na Literatura, e
em tudo. Ninguém quer ser o garotinho que bradou: " O Rei Vai Nu!..."
E não o diz, porque a coletividade
pensaria, com soberba: "Como é estúpido!...Ignorante!...Néscio!..."
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