Por Paulo Cezar S Ventura (Nova Lima, MG)
Sabemos que o corpo cresce, encolhe, se fortalece, se
enfraquece, se enruga, e desaparece.
Na escola primária (nome
antigo do Ensino Fundamental I) aprendíamos que o corpo humano tem três partes:
cabeça, tronco e membros. Por mais didática que seja essa divisão, espero que
as crianças de hoje aprendam de forma diferente, pois o corpo não tem partes, é
uno: corpo humano.
Enquanto vivos estamos, esta
entidade à qual podemos dar o nome de sujeito, ser humano, ou outro, conforme
informações culturais e espirituais de cada povo, usamos esse corpo como agente
de conexão com o universo.
Entre o corpo e o universo,
coisas, artefatos, objetos,
energia, técnica, tecnologia, ciência, cultura, outros corpos.
Corpo-sujeito, corpo-artefato.
Depois de nossa morte, esse
corpo se degenera e o que permanece é fruto de especulação desde que o homem
existe e não temos, até hoje, uma resposta categórica do legado de nossa
existência.
Cada povo, cada cultura, cada
comunidade tem suas teorias e crenças. Mas o que sabemos mesmo é que, desde que
nascemos, esse corpo se modifica: cresce, encolhe, se fortalece, se enfraquece,
se enruga, e desaparece.
Então, o que temos, à primeira
vista, é nosso corpo. Nosso corpo, feio ou bonito, é nosso maior patrimônio. É
ele que nos conduz por esta vida lapidada, ao longo dela, por nossos
pensamentos, aprendizados e atitudes. Por isso, todo cuidado e atenção com ele
é pouco.
Os profissionais que
trabalham, estudam e pesquisam o envelhecimento são maioria, talvez unânime, em
afirmar que se o corpo para a mente também declina. Darei um exemplo, de pessoa
de meus relacionamentos, que corrobora a informação.
Jordelina era uma atriz, muito
ativa, que foi envelhecendo junto com os colegas de seu grupo de teatro. Apesar
da idade, eles ensaiavam e atuavam em teatros, escolas, hospitais e até em
presídios. Jordelina foi ficando surda e mesmo assim não perdia as cenas nem
seus momentos de nelas entrar.
Com o tempo o grupo foi
diminuindo porque vários dos atores e atrizes foram saindo de cena, até que a
instituição financiadora desistiu e extinguiu o grupo. Jordelina entrou em
depressão e, beirando os noventa anos, quietou-se em casa. Perdeu a motivação.
A morte do marido e a pandemia
de covid-19 a paralisaram de vez. Foi obrigada a ficar quieta em casa e sem a
presença constante de filhos e netos. A artrose tomou conta de suas
articulações e ela caminha muito pouco e devagar, com a ajuda de um andador. A
cabeça, evidentemente, também parou no tempo. Não reconhece as pessoas, suas
intermináveis histórias deixaram de ser contadas.
O que aconteceu com ela
confirma as previsões, confirma uma frase que ela mesma, Jordelina, sempre
dizia a suas amigas de mesma idade:
“Velho
que não anda, desanda.”
(Jordelina)
Diante do que venho
presenciando em todos esses anos de convivência com Jordelina, comecei a
estudar um pouco mais a relação entre corpo são e mente saudável. Sempre fui
adepto e praticante de atividade física e de alguns esportes em particular.
Joguei futebol durante mais de quarenta anos, pratiquei remo em canoa e
individual, durante alguns anos, corrida de rua e, claro, pedalei desde bem
moço. Minha maior aventura na bicicleta foi pedalar de Londres a Paris em sete
dias.
Viver
é como andar de bicicleta,
se você para se desequilibra.
(Paulo C. S. Ventura)
Diante das evidências
científicas e dos relatos dos profissionais do envelhecimento, continuo com
minhas caminhadas, pequenas corridas, musculação. Já que pernas fortes e
músculos rijos são requisitos para uma longevidade plena de memórias, pratico
todos os dias, seguindo o lema: “força na panturrilha” e “quanto mais
serotonina, menos Neosaldina.”
Além disso, as caminhadas são
ótimas para a prática da meditação ativa, em que a gente se conscientiza das
dores do corpo e da alma e trabalha para eliminá-las. Tudo acontece nos
movimentos, mas a gente mesmo tem que ser a força motriz do movimento.
A sabedoria está em saber o
que se faz com a dura realidade: abrigar-se de temporais, modificar
o curso das coisas, lidar bem com os maus resultados e com o inesperado. E
a chave é saber olhar adiante, como o enxadrista que pensa no movimento imediato
em função daqueles que se seguirão.
Tempo
que se eterniza no movimento,
que se sincroniza,
e se desmancha nesse corpo que dança.
(Paulo C. S. Ventura)
Paulo Cezar S Ventura
Graduado (UFMG) e Mestre (USP)
em Física, e Doutor em Ciências da Comunicação e da Informação, pela Université
de Bougogne, em Dijon, França. Exerceu a profissão de professor, no CEFET-MG,
onde dirigiu o LACTEA – Laboratório Aberto de Ciência, Tecnologia, Educação e
Arte. Hoje se dedica à literatura e se identifica como poeta, cronista,
contista e editor da Rolimã Editora Ltda. Autor de diversos livros. Participa
do Movimento Vidas Idosas Importam e é membro da Academia Novalimense de
Letras. pcventura@gmail.com - @paulocezarsventura
O que o Paulo descreveu, é verdade, todos nós vamos declinar com a idade, porque o tempo é implacável.
ResponderExcluirManoel Ianzer