domingo, 1 de outubro de 2023

CRISTO PRETO (II)

Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

 

Nessa povoada de gente excluída

Temos o Cristo,

O Pai da nossa liberdade,

Das orações africanas,

Dos nossos cantos aos orixás,

Das diretrizes da nossa caminhada.

O Cristo das nossas tormentas,

Dos encontros das águas

Com a terra,

Da plenitude de ser Pai de todos.

O Cristo preto que

Carrega consigo o peso da opressão.

Açoitado na cruz

Pela sociedade desumana

Não encontra resposta

Para as suas crueldades.

Amando a todos

Na sua igualdade e respeito,

Sem raça, sem cor, sem etnia

Enfrenta uma forte tirania.

Apenas sendo o amor que acolhe

Na sua sabedoria

Abre os braços para acolher

O inimigo.

Pois no seu coração

Não existe espaço para odiar.

Ele na sua essência só sabe amar.

Nos seus olhos têm

O brilho da esperança

De Zumbi

Por uma liberdade justa;

Na sua voz

Entoa o canto de Dandara

Em oração e luta

Pelos seus irmãos;

Rompe as correntes da submissão

E dá voz aos excluídos

Atados por uma democracia desigual!

Para ele entrego meu bordado de fé,

Rendado de cores e esperança.

Deixo que as tuas águas lavem

A minha alma e o meu coração,

Trazendo pôr fim à bonança.

Deixo também que se encarregue

Do meu destino.

Nessa povoada

Sou mais um peregrino

Buscando o meu caminho

De resistência e luta.


Clarisse da Costa é poetisa, contista, cronista e designer gráfico em Biguaçu, Santa Catarina.

Contato: clarissedacosta81@gmail.com

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário