domingo, 1 de outubro de 2023

O DIÁRIO DE KIRA (2ª PARTE)

Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

 

            No filme conta a história de que ela o conheceu ao comprar rosas numa floricultura. Eu também adoro rosas, inclusive recebi algumas rosas com um cartão perfumado com os seguintes dizeres: - Você me traz as recordações mais lindas quando pela manhã você surge com o seu lindo sorriso!

        Confesso que fiquei balançada, qual mulher não ficaria? Porém eu não poderia me deixar levar por aquelas palavras. Sou romântica, mas não idiota. Ele é um tanto misterioso, mas não conseguia esconder o seu nervosismo ao me aproximar da porta daquele quarto. Por várias vezes a trancou com cadeado. Tem um retrato que ele esconde por lá, eu sei. Peguei ele debruçado, chorando sobre o retrato. Infelizmente não consegui ver quem era. Teve uma hora que ele olhou para trás, a sorte que eu saí correndo antes que me visse.

             É assustador às vezes estar diante de um homem que você só o conhece pela metade. Ele me arredou no seu sorriso, na pessoa que eu pensei que o conhecia. Mas parece que ele morreu por dentro e nem percebeu a sua inexistência. Perde a chance de se encontrar com tantas coisas que lhe fazem mal.

             Apaga a luz do quarto e mal consegue dormir. Acorda e não vê a oportunidade de viver. A ideia do ser inútil, incapacitado sempre lhe passou pela cabeça. Um ser frágil como tantos mortais. Abrir a janela, entrar por uma porta era como um abismo dentro de si, o medo e a frustração que sempre escondeu.

           Ele ficou preso nesse medo e era visível o afastamento das pessoas. A sua frieza, o seu olhar triste e a sua cara fechada, como conviver com uma pessoa assim?

 

Clarisse da Costa é poetisa, contista, cronista e designer gráfico em Biguaçu, Santa Catarina.

Contato: clarissedacosta81@gmail.com

 

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