Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Faço aqui, algumas
considerações sobre os anos de lutas no movimento cultural, na pequena cidade
onde eu vivo. Uma pequena cidade portuária e um grande porto pesqueiro,
cosmopolita como as cidades portuárias são. Onde o vai e vem de grandes navios
do mundo todo e barcos pesqueiros do sul e sudeste, que aqui descarregarem as
suas produções.
E indo ao ponto, confesso
aqui, que embarquei no mundo das belas-letras não por, saudade, aptidão ou
talento para compor. Como eu sou um clichê ambulante, comecei a escrever por
obrigação, já que era e sou um leitor contumaz. Comecei a escrever, quando eu
entrei tardiamente na faculdade, para ser mais exato, na cadeira de comunicação
social em habilitação em Publicidade & Propaganda, PP para os íntimos do
mundo acadêmico.
Pois bem, eu o marxista de
muita prática, pois cai cedo na luta de classes, e com conhecimento mediano do
mundo marxista. Pois bem lá estava eu, dando a sequência de eu ser um clichê,
eu o funcionário público de baixo escalão, acadêmico de PP, levei um baita
tombo do grupo político, que eu era membro. Trato aqui de um processo de
cizânia deste grupo, que quero tratar mais tarde, e bem mais tarde. Pois é mais
um clichê, do universo que vivencio.
Lancei-me ao mundo das
belas-letras, primeiro no curso de comunicação social, produzindo informativos
fotocopiados, xerocados no popular, os ditos fanzines. Um pouco mais tarde, deu
um passo à frente, ao me ligar a um mestre poeta que trabalhava no mesmo
aparato repressivo que eu trabalhava há época e ainda trabalho no momento que
componho este texto. Fui fazer a comunicação social, deste meu amigo e
companheiro de fardas. Os detalhes conto mais tarde, pois juntos percorremos os
labirintos subterrâneos do mundo das belas-letras e belas-artes da nossa cidade
e região. Uma aventura cheia de altos e baixos.
Mas, o que quero mesmo relatar
aqui, é um choque em específico, na microfísica do poder, na sociedade estratificada,
dois, a bem da verdade. O primeiro choque, foi entre mim e o meu amigo poeta,
de lado, o nosso produtor cultural na outra ponta e no meio o detentor do
capital. Um pouco de contexto aqui, lá no meio do primeiro decênio da primeira
década do início do século XXI, eu e o meu amigo poeta, estávamos em processo
de editarmos os nossos respectivos primeiros livros. Livros que seriam e foram
editados, via lei de incentivo à cultura da nossa cidade.
E nada de novo no front, até o
produtor cultural querer puxar o freio de mão, dos nossos projetos, sabe-se lá por
quê. Pois bem, lá estávamos nós, com os respectivos projetos aprovados,
burocracia em dia, uma grande empresa patrocinadora e uma conta aberta para
receber os cobres. E o nosso produtor cultural, que mantinha o contato com o
patrocinador, ficou de informar quando a empresa iria depositar os valores nas
nossas contas, nas contas dos projetos. E assim passaram-se os dias, semanas e
meses, até eu e o meu parceiro, mais eu que ele, decidimos bater na porta da
empresa patrocinadora. Isso depois que escutar do nosso produtor cultural mais
uma vez, que os valores não foram depositados. Na ânsia de termos respostas,
descobrimos que existiam três escritórios da empresa na nossa cidade, e batemos
na primeira porta que encontramos. Sem marcar horário, encaramos uma secretária
chique, que olhou desconfiada para nós dois, dois pobretões mal-vestidos,
informando quem éramos e que queríamos ter um dedo de prosa, com o gerente
financeiro da empresa, uma das maiores empresas da região.
Claro que a trabalhadora ficou
assustada, e claro que informei que só queríamos saber de quando os valores dos
nossos projetos seriam depositados, é claro que a trabalhadora passou a batata
quente para frente. Ela, interfonou para o executivo, que cuidava das finanças
da empresa, que por sua vez informou, que os valores estariam depositados nas
respectivas contas, na segunda-feira, estávamos na sexta-feira. Ouvimos o
relato tecnocrata, pois a secretária colocou na viva voz.
Para os muitos ridículos da
vida, desta vida e outras possíveis vidas, a história poderia terminar aqui.
Mas não acabou, depois da informação dada pelo diretor financeiro, partimos em
direção ao escritório/casa do nosso produtor em comum. Era um início de tarde,
e o produtor cultural chocado com a informação, nos disse que era impossível,
que não era verdade.
E lá fomos eu e o meu amigo de
profissão de fé, de novo ter um bate-papo com o figurão e ao bater na porta da
empresa. A secretária encarou nos dois, na frente dela e com o mesmo pedido de
informação, ela com cara de enterro. E mais uma vez, ela interfonou para o
figurão e ela fez a mesma pergunta, e escutamos os berros do figurão, dizendo
que a grana já estava depositada e cairia na conta na segunda-feira. Cutuquei o
meu parceiro de belas-letras e partimos dali bem rápido e fomos para o
escritório/casa do nosso produtor cultural. Fomos avisar que a grana estaria na
conta na segunda-feira. Quanto ao segundo ato ridículo? Fica para depois.
(Fragmento do livro Dos
ridículos da vida,de Samuel Costa, contista, poeta e novelista em
Itajaí, Santa Catarina)
Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br
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