terça-feira, 1 de agosto de 2023

À FLOR DA PELE: UMA BALADA PARA CACILDA E UMA CANÇÃO PARA CAMILLA

Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)

 

You slipped between

My feeble crystal fingers

You hyaline and vaporous

To seek safe shelter

In the farthest corners of my palace

Of the lost memories

 

          Eu vivo em uma sazonal pequena cidade praiana, de veraneio, que funciona somente três meses por ano. Cidade cheia de pequenas e grandes armadilhas para turistas. Balneário onde a gente conhece todo mundo e ao mesmo tempo não se conhece ninguém. Cidades assim, são perfeitas para breves romances e aventuras passageiras de férias de verão, entre desconhecidos, de quem se esbarram em encontrões desavisados e nunca mais se verão. Fora o mercado livre de sexo, mercado ambulante ao ar livre em plena luz do dia e outros com endereços fixos em horas marcadas via anunciados, em mídias analógicas e digitais.

         Na baixa temporada, eu trabalho como entregador avulso, para uma cidade plana e congestionada, mesmo na baixa temporada, com duas ruas principais. Eu uso uma leve bicicleta de alumínio, como ferramenta de trabalho, bom para quem quer economizar, a grana curta, em caras academias de musculação, principalmente para quem é ferrado como eu.

         Neste pequeno paraíso terrestre à beira mar, eu conheci as misteriosas e sedutoras irmãs Cacilda e Camilla, as vi de longe, no efusivo Pianos bar do China, que reúne a nata maldita do mundo as artes local e da região, lá no beco de Beco do Brooklyn. Naquela noite estava Madalena Azumi, ela dava o seu espetáculo muito particular ao piano de cauda. Mas, isto fica para outra hora, o segundo encontro de fato, com as irmãs, foi no inferninho Hell fire Club, longe da beira mar e longe das afetações e pretensões do Bar do China. As conheci no famoso local de troca de casais, um clube de swing, assim por dizer.

     Lá na escuridão do Hell fire Club, aqueles dois corpos celestes, dois sois negros, aqueles dois seres astrais negros, brilhavam em seus respectivos esplendores absolutos. Cacilda, a irmã mais velha, creio eu, estava absoluta sentada à mesa ao lado da minha, ela plena com uma fina e delicada taça de champagne na mão. Cacilda, me olhou com os seus olhos negros abissais, as suas vaporosas e sedutoras vestes, com a boca pequena com leve Batom Matte rosa, me encheram de desejos. Camilla, a irmã mais nova, que estava à frente da irmã mais velha, que estava com um cálice de vinho do porto na mão, não se deu conta da minha presença, com Batom carmesim os seus lábios carnudos com ela vestida com pesadas vestes negras.   

           Por Deus, naquela hora, eu ouvi o sibilino Bel canto da Kianda sagrada, era um dueto de duas afras sereias, ouvi gemidos de prazer, e um eufônico som, era um fino chicote que subia e descia e estalava nas costas que alguém. E o gosto champagne, inundou a minha boca e desceu até o meu estômago. Camilla me olhou profundamente e as minhas costas sentiram a sensação de algo gelado descendo nas minhas costas, que ardiam e o olor do vinho tomou conta das minhas narinas.

        Cacilda e Camilla, se levantaram e caminharam até onde eu estava, eu ouvi breves sussurros, em algum lugar muito distante e ouvi alguém sussurrando no meu ouvido, era uma sedutora voz de mulher, me chamando de tola criatura. As irmãs ladeadas, sem nada dizerem, ergueram as mãos, em um convite. Eu sem nada dizer, me levantei e peguei nas mãos geladas das duas irmãs. O eflúvio de flor, da noite, inundou os meus paladares, aceitei o convite não dito e elas me conduziram para um dos exclusivos quartos escuros. 

         Ao percorremos o corredor na semiescuridão, na minha mente se projetou uma imagem sólida, um corpo nu, eu reconheci as tatuagens naquele corpo, era eu vendado, preso por algemas, pelas mãos e pés em uma grade. Com as costas vermelhas violentamente laceradas. Sussurros, estalidos de chicotes, gemidos de prazer e risos histéricos inundavam o ambiente escuro. Ao percorrer aquele corredor, parecia não ter fim. Até que paramos na porta do quarto escuro e nós três, somos tragados pela escuridão do ambiente.

 

Clarisse Cristal, poetisa, contista, novelista e bibliotecária em Balneário Camboriú, Santa Catarina.

 

 

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