Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Quem não conhece a famosa
caricatura de Eça, que no início do século XX foi apelidada de: "
Estatueta Célebre"?
Por certo já a viram em
revistas de arte ou na capa das obras de Eça, editadas pelos: " Livros do
Brasil".
Mas aposto que poucos são os
que conhecem, como e porquê, Gouveia, a modelou.
A estatueta permaneceu, durante
semanas, recoberta por pano preto, no atelier de Francisco da Silva Gouveia, em
Paris.
Qual a razão de tanto recato?
Por ser a genial caricatura do nosso embaixador, em Paris. Ridicularizar o
representante de Portugal, sendo ele Eça, não era nada fácil, para singelo
plebeu, filho de armazenista da Rua de S. João, no Porto.
Eça era muito conhecido e
respeitado, figura de destaque na literatura do nosso país, bem aparentado, e
amigo de gente ilustre.
Conta-se a verídica história,
em duas palavras:
A embaixada de Portugal ia dar receção,
em Paris. Foram convidados artistas lusos, residentes na capital da Luz, e
entre eles, Gouveia.
Desconhecendo que era receção
de gala, Gouveia apresentou-se de rabona.
Eça, quando o viu rodeado de
"senhores de casaca", acercou-se, e disse em alta e bom-tom: "
Quem é este gigante que parece ter engolido um touro e deixado os cornos de
fora?"
Fraseado nada elegante para um
escritor, e menos ainda para político educado.
Ouve-se gargalhada escangalhada,
e sussurros chocantes.
Humilhado, Gouveia, regressa ao
atelier e nervosamente modela o Eça, na mesmíssima posição ridícula, quanto
pronunciou o chiste.
Depois, receoso, escondeu o
gesso. Decorrido dias, mostrou-o a compatriotas seus que o aconselharam a
partir a estatueta. Prometeu..., mas não o fez.
A obra chegou ao conhecimento
do Conde Paçô – Vieira, através de Caetano Pinho da Silva, tio de Gouveia.
Depois, a nova foi conhecida
pelo Conde de Sousa Rosa. A Duquesa de Palmela, quis adquirir um exemplar, e
por aí adiante, chegou aos reais ouvidos de D. Carlos…
Esperem; ainda não cheguei ao
fim:
Ao visitar Dona Emília Cabral,
neta do Eça, para a entrevistar, vi pousado numa mesinha, a Célebre Estatueta.
Virando-se para ela, disse-me: " Nunca conheci o avô, mas ao
perguntarmos, eu e minha mana, à avó: Como era o avô? Apontava e dizia-nos:
" Olhem para esta estatueta, era tal qual assim."
Junto, não foto da estatueta,
mas precioso desenho (quase desconhecido,) feito pelo Gouveia.
Por ele, pode-se avaliar,
perfeitamente, como é a " Estatueta Célebre".
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