Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)
O pequeno palco agora vazio, tendo à frente os convidados bebendo, fumando e conversando animadamente. E de repente, o alarme de Fá Rodrigues Butler estava ligado ao máximo, ela olhou para o portal e imaginou se Mefistófeles iria passar por ali a qualquer momento. Mas, era algo bem pior que Mefistófeles que iria passar pelo portal.
Uma garçonete apareceu com uma bandeja de prata, era uma jovem oriental, estava usando um robe lingerie quimono cereja vermelha, de três pontos e biquíni roupão, nos pés um tamanco japonês. Fá pegou a fina taça de cristal de champanhe, com as pontas dos dedos e olhou bem para a jovem diante dela, quando levou a taça de cristal à boca, não era a timidez, nem a docilidade, tão típica dos orientais que viu somente naqueles olhos pequenos e rasgados puros mistérios.
— Aprecei bem o seu Memento mori madame! — Sussurrou a jovem garçonete para a dona da festa.
Fá Rodrigues Butler, jogou a fina e delicada taça de um fino cristal, no chão com força, o barulho do fino cristal se estilhaçando no frio chão de mármore chamou a atenção dos convidados. Porém, alguns nem se importaram com o pequeno estardalhaço latino da dona da festa. O pintor, que estava defronte ao trono vazio da imperatriz Sibelly Lopez, o cavalete, a palheta no braço esquerdo, o fino pincel, a pequena bancada de tintas e por fim uma pequena tina com água na bancada. Ela trabalhava como se fosse a única pessoa no recinto. Dois operários estavam trabalhando, um preparava uma tela de projeção e o outro ajustava os alto-falantes. Os convidados estavam olhando para a dona da festa estática, olhando para ela no centro do salão de festas sozinha. E ela nem percebeu quando uma leve brisa outonal invadiu o ambiente e um militar trajado de um uniforme de gala chegou bem perto. Fá, só percebeu quando era tarde demais, e ela olhou bem nos olhos do major e viu toda a fúria do mundo, nos olhos daquele homem de meia idade e então ela desmaiou. Todos na festa, não se importaram com a queda da mulher elegantemente que foi ao chão frio.
A madame Rodrigues Butler acordou aturdida e não demorou muito para perceber onde estava, estava no terraço da torre onde morava e notou o homem que estava de costas a poucos metros dela. Ela pensou se era o próprio Mefistófeles ali materializado, vindo capturar a alma imortal condenada dela.
— Não sou um demônio minha senhora, nem vim cobrar um pacto qualquer, não um pacto feito comigo é claro, a tua alma imortal não me pertence, não a mim. — Falou o militar de média patente, sem olhar para trás, era lento e duro o tom de voz do militar, era como um juiz proferindo uma sentença.
— Então uma saída honrosa? E Agnes? O que vai ser dela?
— Perguntou a condessa Fá Rodrigues Butler.
Então o major se voltou para a mulher aflita, sorriu, caminhou até a senhora e se projetou até o ouvido dela.
— Ela nos pertence e a senhora
bem sabe disto! Agora só tem uma única saída, senhora, somente uma! — E apontou
para a beira do abismo, para amurada do edifício a poucos metros deles.
Fragmento do livro: Em dias de
sol e calor, em noite de tempestades e frio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário