Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
E lá estava eu, em mais um dia
no paraíso, eu um mero membro do aparato repressivo do estado. Eu orgulhoso, eu
devidamente uniformizado, eu hirto montando guarda no primeiro piso de um
prédio, em uma remota repartição pública, eu diante da lei, comumente chamado
de subsolo da máquina pública. Não raro, querubins e querubinas, quedavam de
lá, das tensas alturas, paravam e conversavam comigo, seja para me dar
instruções básicas ou dar simples bons dias e boas tardes, o mais comum, era
mesmo me ignorar por completo.
Eles e elas, estes seres
mitológicos, que vez ou outra por motivos variados, quedavam de lá, das densas
alturas e desciam até o subsolo da máquina pública local. E eu fui apanhado,
não com muita surpresa, por um querubim. E eu, um mero habitante do subsolo,
como eu poderia conversar com um superior? Resposta é: Olhando para cima é
claro! E para a minha surpresa, o querubim em questão, um
ítalo-teuto-brasileiro, ele me alertou com gravidade, para a vinda de outro
querubim. E pela descrição do querubim ítalo-teuto-brasileiro, não era um ser
celeste apenas e sim um poderoso titã, uma sumidade. Assim disse o
ítalo-teuto-brasileiro, era um querubim titânico, um colosso era muito mais inteligente
que eu. E eu logo, pensei e depois falei para o meu superior hierárquico, o
querubim ítalo-teuto-brasileiro, eu disse que eu estava mais que feliz, porque
alguém seria muito melhor do que eu. Coisa que não muito difícil, aliás.
Dias se passaram e viraram
semanas, e logo o titânico querubim, com seus dois metros de altura, adentrou
na repartição pública, com um nome de um peruano que vivia na Bolívia. Sim,
mantive uma boa distância da sumidade em questão. E como não poderia ser
diferente, haviam os tilintares das chaves suspensas no ar, uma boa lição que
aprendi da outra celeste querubina. O que é uma chave e porque ela serve. Então
uma chave, de um dos veículos da repartição, sumiu, desapareceu no ar, assim
anunciou o titânico querubim.
E ele, o titânico querubim, muito mais inteligente do que eu, promoveu uma desesperada diligência, por toda a repartição, no vale dos querubins e querubinas! Uma busca para encontrar a dita chave, que teve como resultado zero, não encontraram a dita cuja, da chave do portentoso veículo oficial. Os querubins e querubinas não encontraram a chave.
Eu orgulhoso, eu devidamente
uniformizado, eu membro do aparelho repressivo do estado, uma figura menor, do
subsolo, fiz a minha própria diligência. Fui até lá nas densas alturas, fui até
a pequena caixa de metal embutida na parede, instalada em um dos cômodos da
repartição pública. A caixa de metal, onde ficavam as chaves, dos veículos da
repartição pública. E para a minha surpresa, lá estava ela, a chave
desaparecida então desaparecida. Firme e forte, a chave do veículo, estava
firme forte na caixa de chaves. Lembrei de máxima que diz que, se tu procura
algo ou alguma coisa e não a encontrou é porque tu é estás com ela.
Fragmento do livro: Dos
ridículos da vida, de Samuel da Costa
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