terça-feira, 1 de agosto de 2023

DOS RIDÍCULOS DA VIDA: OS TILINTARES DAS CHAVES SUSPENSAS NO AR E A SOCIEDADE ESTRATIFICADA

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)


Já apresentei o meu trauma, dos tilintares de chaves suspensas no ar e como estes objetos são figuras centrais na microfísica do poder, pelo menos no subsolo da máquina pública. Mas como disse o filósofo Karl Marx, que a história se apresenta: ‘’a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa. ‘’

O eu como elemento do subsolo da máquina pública local, e o membro efetivo do aparelho repressivo do estado, fui convocado para guardar por poucos dias, o parlamento local, nas festas de final de ano e nos primeiros dias do ano seguinte. Dirias que seria uma grande oportunidade, ficar bem perto do poder, dirias que seria uma grande honra, dirias isso com mais força se soubesses do meu exílio imposto.

Assim eu fui, cuidar do hall de entrada, do moderno prédio envidraçado, como disse e escreveu um dia um advogado tcheco: ‘’Ficar diante da lei. ’’ E digo que foi sim um alívio a priori, mas depois de breves brisas hialinas vem a tempestade. Eu no meu âmago mais que fundo, eu sabia que problemas me esperavam. 

E nos subsolos, são comuns corredores frios e escuros, salas restritas. E lá estava eu em uma sala restrita, vigiando o prédio na sala de monitoramentos via câmeras eletrônicas. E lá estava eu lendo o quadro de avisos, dando conta que quem viria pôr a TV no ar, nomes, RGs e CPFs, dias e horas marcadas, dos funcionários do departamento de comunicação social do parlamento. Eles e elas viriam dar cliques tecnológicos em microcomputadores, para pôr o veículo de comunicação parlamentar no ar.

Mais um dia no paraíso, caso não fosse os tilintares de chaves de novo, vi a minha matinal tutora acidental que me apresentou o que eram chaves para que elas serviam, ela a minha superiora hierárquica do meu antigo posto de trabalho. A vi pela tela de vigilância, vi o que para mim seria o próprio Mefistófeles, que veio me cobrar uma graça atendida. Era um presságio, me dizendo que tilintares de chaves não tardariam, elas sempre elas, as chaves suspensas no ar.

Passaram alguns dias, lá estava eu guardando o parlamento local, e alguém bateu à porta envidraçada, era uma zeladora, que me disse trabalhava no banco que funciona no parlamento local. A dispensei, dizendo que o parlamento estava em recesso e o prédio ficaria fechado. Não tardou e aparece um guarda patrimonial terceirizado do banco, ele batendo na porta envidraçada. O dispensei dizendo que o parlamento estava em recesso e o prédio ficaria fechado. Não tardou e apareceu o fiscal do guarda patrimonial, batendo na porta envidraçada, ele agindo para entrar no prédio. O dispensei dizendo que o parlamento estava em recesso e o prédio ficaria fechado. Depois os caixas do banco, chegaram juntos como um ataque coordenado. Os dispensei dizendo que o parlamento estava em recesso e o prédio ficaria fechado.

Nos tilintares das chaves, na sociedade estratificada, o último a aparecer foi o gerente do banco, era visível o desespero do homem, tentou dialogar comigo. O dispensei dizendo que o parlamento estava em recesso e o prédio ficaria fechado. Mas o gerente levantou no ar um molho chaves, sim o gerente do banco, possuía as chaves do parlamento local, coisa que eu não tinha, na microfísica do poder, eu tinha somente a chave das portas dos fundos. O homem entrou no parlamento local, mal-humorado, eu não o porquê, e foi tragado pelo interior da agência bancária

 

Fragmento do livro: Dos ridículos da vida, de Samuel Costa.

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

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