Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Já apresentei o meu trauma,
dos tilintares de chaves suspensas no ar e como estes objetos são figuras
centrais na microfísica do poder, pelo menos no subsolo da máquina pública. Mas
como disse o filósofo Karl Marx, que a história se apresenta: ‘’a primeira vez
como tragédia, a segunda como farsa. ‘’
O eu como elemento do subsolo
da máquina pública local, e o membro efetivo do aparelho repressivo do estado,
fui convocado para guardar por poucos dias, o parlamento local, nas festas de
final de ano e nos primeiros dias do ano seguinte. Dirias que seria uma grande
oportunidade, ficar bem perto do poder, dirias que seria uma grande honra,
dirias isso com mais força se soubesses do meu exílio imposto.
Assim eu fui, cuidar do hall
de entrada, do moderno prédio envidraçado, como disse e escreveu um dia um
advogado tcheco: ‘’Ficar diante da lei. ’’ E digo que foi sim um alívio a
priori, mas depois de breves brisas hialinas vem a tempestade. Eu no meu âmago
mais que fundo, eu sabia que problemas me esperavam.
E nos subsolos, são comuns
corredores frios e escuros, salas restritas. E lá estava eu em uma sala
restrita, vigiando o prédio na sala de monitoramentos via câmeras eletrônicas.
E lá estava eu lendo o quadro de avisos, dando conta que quem viria pôr a TV no
ar, nomes, RGs e CPFs, dias e horas marcadas, dos funcionários do departamento
de comunicação social do parlamento. Eles e elas viriam dar cliques
tecnológicos em microcomputadores, para pôr o veículo de comunicação
parlamentar no ar.
Mais um dia no paraíso, caso
não fosse os tilintares de chaves de novo, vi a minha matinal tutora acidental
que me apresentou o que eram chaves para que elas serviam, ela a minha
superiora hierárquica do meu antigo posto de trabalho. A vi pela tela de
vigilância, vi o que para mim seria o próprio Mefistófeles, que veio me cobrar
uma graça atendida. Era um presságio, me dizendo que tilintares de chaves não
tardariam, elas sempre elas, as chaves suspensas no ar.
Passaram alguns dias, lá
estava eu guardando o parlamento local, e alguém bateu à porta envidraçada, era
uma zeladora, que me disse trabalhava no banco que funciona no parlamento
local. A dispensei, dizendo que o parlamento estava em recesso e o prédio
ficaria fechado. Não tardou e aparece um guarda patrimonial terceirizado do
banco, ele batendo na porta envidraçada. O dispensei dizendo que o parlamento
estava em recesso e o prédio ficaria fechado. Não tardou e apareceu o fiscal do
guarda patrimonial, batendo na porta envidraçada, ele agindo para entrar no
prédio. O dispensei dizendo que o parlamento estava em recesso e o prédio
ficaria fechado. Depois os caixas do banco, chegaram juntos como um ataque
coordenado. Os dispensei dizendo que o parlamento estava em recesso e o prédio
ficaria fechado.
Nos tilintares das chaves, na
sociedade estratificada, o último a aparecer foi o gerente do banco, era
visível o desespero do homem, tentou dialogar comigo. O dispensei dizendo que o
parlamento estava em recesso e o prédio ficaria fechado. Mas o gerente levantou
no ar um molho chaves, sim o gerente do banco, possuía as chaves do parlamento
local, coisa que eu não tinha, na microfísica do poder, eu tinha somente a
chave das portas dos fundos. O homem entrou no parlamento local, mal-humorado,
eu não o porquê, e foi tragado pelo interior da agência bancária
Fragmento do livro: Dos
ridículos da vida, de Samuel Costa.
Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário