Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Ofereço-te
negra fada
Da
floresta negra
Todo
o meu etéreo amor
Em
tempos de guerras
De
atrozes desesperos
E
dores atrozes
Dórian sempre pensou no enlace que
tinha com Luen, não como se fosse o simples os opostos se atraem, para Dórian
era os opostos se complementam. Se o homem da relação e mesmo assim ser o elo
fraco, como dizem muitos, dele ser o mais introspectivo, resguardado e quieto
do casamento. Já Luen era uma usina de força, uma fortaleza inabalável nos
piores e nos melhores momentos.
A vida impos Luen para
Dórian e a vida impôs Dórian para Luen, em um acordo tácito, onde Luen seria um
resplendor uma líder nata e Dórian seria o exemplo da continuidade de uma
rotina certa como o amanhecer depois uma noite escura.
Dórian acordava cedo e
organizava a casa para Luen, verificar se faltava algo na geladeira, fazer o
café, verificar que as roupas deixadas na máquina de lavar, na noite anterior
estavam lavadas. Colocar as roupas no cesto para as secretaria passar e as
guardar mais tarde, subir no quarto do casal e acordar Luen com um beijo leve
nos lábios. Verificar a agenda da esposa e separar roupas que ela iria usar no
dia. Preparar o banho da esposa e por fim descer e verificar a própria
agenda.
Dórian foi até a cozinha e verificou
os bilhetes presos na porta da geladeira por imam, eram lembretes de contas a
pagar e a vencer, comprar domésticas por fazer a agenda da diarista da semana.
Dórian tirou uma a uma da porta da geladeira de duas portas, memorizou tudo e
jogou os bilhetes no triturador de papel. Dórian foi até a sala comum de
estudos e biblioteca, verificou a agenda física em cima, separou os livros para
preparar a aula da noite e memorizou os telefonemas que tinha dar, as mensagens
eletrônicas que tinha que dar e os livros e revistas que tinha que consultar. E
por fim foi até o próprio escritório, que ficava ao lado da sala de estudo e
biblioteca. Iria preparar os apetrechos de trabalho, papel e caneta nanquim,
olhar as anotações do dia anterior e ver onde tinha parado no planejamento.
Para depois ir preparar a mesa para tomar o café da manhã junto a esposa
Luen.
Mas ao tentar abrir a porta, ela
não se abriu, Dórian levou a mão no bolso e procurou a chave no bolso do robe
de seda azul de dormir, tentou abrir a porta com dificuldades e descobriu que a
velha máquina de escrever continental estava em cima da mesa de trabalho.
Dórian olhou para o velho objeto reformado e o professor universitário e
revisor de textos científicos sentiu um ódio animalesco vindo da máquina. Foi
Luen que a escolheu, era para ser um presente para Dórian, uma peça decorativa,
escolhida em uma loja virtual.
Peça decorativa comprada,
embalada e enviada, para depois Luen a achar combalida e que deveria ser
reformada e Dórian não soube como, mas Luen encontrou um especialista em
consertos de máquinas de escrever. Luen não deixou que o senhor de ascendência
teuta levar a peça para o ateliê, Luen queria que ele restaurasse a peça em
casa.
Dórian não soube os motivos, mas tudo
era estranho, como a coisa se dava, Luen sempre foi, toda trabalho, mergulhada
e afogada em trabalho, assuntos domésticos, ficavam fora do radar de Luen. Dar
e receber presentes surpresas não faziam parte do universo da esposa de Dórian.
O professor, então fez o que de melhor fazia, deixou que as coisas se
resolvessem por si só.
E não muito tempo depois,
em um intervalo de aulas a noite, na sala dos professores, com as fofocas
correndo solta, Dórian que as evitava, mas não estava unine as fofocas,
descobriu a última e mais quente fofoca no mundo acadêmico. O mundo das
ciências humanas e sociais, que um velho e conhecido antiquário de ascendência
teuta, o senhor distinto tinha recebido uma encomenda, um restauro de uma velha
máquina de escrever alemã. E que o antiquário reconheceu uma peça sendo do
ditador alemão, a peça era usada pela secretária pessoal do Führer, o líder
máximo do Terceiro Reich.
Fragmento do livro Sono
Paradoxal, de Samuel da Costa, poeta, contista e novelista em Itajaí, Santa
Catarina.
Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br
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