Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Tentei
construir uma ponte,
Para
chegar até ele, o vulto,
Mas
seria um caminho sem volta.
Bom!
A ponte poderia desabar e cair!
Então
seria eu apenas um corpo morto
Caído
no chão, por incoerência.
Fabiane
Braga Lima
Depois de vagar pelo vale perdido da
morte e adentrar a luz, Luen pensou que teria um pouco de sossego. Pois as
sombras nas negras noites são análogas à morte e a luz do dia tem fortes laços
com a vitalidade. A primeira secretária da câmara alta, se recompôs, depois da
ofensa não dita, mas escutada em alto e bom som.
As duas secretarias executivas, atrás
dela, estavam apreensivas, pois Luen, a temida, a admirada e sempre distante,
sempre passava pelos subalternos como se eles não existissem. Evellyn, a mais
velha de idade e tempo de trabalho, congelou de medo, pois internamente chamou
a chefe de preta velha e bruxa velha! Corria pelos subsolos frequentado pelos
subalternos que a implacável primeira secretária da câmara alta lia pensamentos.
Luen alçou voos altos, sem sequer querer de fato, subir as escadas da sociedade
estratificada, em séculos ela, a primeira mulher e a primeira negra, a ocupar
um cargo tão alto na estrutura de poder no parlamento. Luen foi além, pois
ocupou um cargo meramente decorativo, feito para ser ocupado por estetas
insignificantes, pessoas nada funcionais. Luen ocupou o cargo executivo e dali
emanou puro poder, construiu pontes, abriu janelas, modernizou as relações e
fez tudo isso sem mudar em nada a estrutura de poder. Se a câmara alta, tinha
se modernizado em sua funcionalidade, a estrutura secular em nada mudou e Luen
fez tudo isso de forma natural. O fez sem erguer bandeiras, como uma militante
utópica e se houveram resistências? É claro que houveram e Luen venceu uma a
uma, como se fosse uma pessoa com sede de poder. O que ajudou na mística no
entorno dela, pois sem uma tropa leal, uma tropa de choque, Luen alocou e
realocou as pessoas como se fossem peças em um tabuleiro de xadrez.
Mas
agora, as coisas tinham mudado, uma chama cósmica, tinha acendido dentro dela.
Como uma explosão de uma supernova que se expande e explode. Foi assim que a
primeira secretária da câmara alta, se virou e andou lentamente até Evellyn
vestida de forma funcional e elegante. Ela sentado à mesa, brincando nervosa
com uma caneta, rabiscando na mesa digital e ela olhando apavorada para a
superiora hierárquica. No lado oposto, a poucos metros, a novata jovem Alika,
vestida com um uniforme mais colorido e mesmo assim discreto, Alika estava
curiosa com o inusitado.
Os olhos rasgados e delineados da
primeira secretária encaravam os olhos azuis, frios e aterrados de Evellyn que
tentou se levantar. Luen, ergueu a mão direita com a palma aberta, subiu até a
altura do peito e baixou. Evellyn voltou a se sentar como se a gravidade a
ordenasse. Luen enojado com o perfume barato que se misturou com o olor do
batom de quinta categoria que Evellyn usava.
— Sente-se minha querida, não vai
demorar muito, a bem da verdade já acabou! — Disse Luen, sem abrir a boca, a
voz glacial apavorou a subalterna.
— Senhora...
— Não Evelyn, terás somente sete dias,
para o teu luto! — Luen falou aos sussurros, irrompendo a subalterna.
— Sete dias de luto? — Rebateu Alika um
tanto assustada.
— Vá! Depois passe nos recursos humanos
— Ordenou a primeira secretária.
Evelyn, pegou bolsa falsificada, estava
chorando muito, tentou se erguer, mas não conseguia aos poucos foi se
libertando enquanto Luen a observava. Alika sorriu de nervoso, pois poderia ser
a próxima. As duas mulheres olharam a teuta correndo em disparada pelo
corredor.
Ainda no corredor, nervosa, Evelyn
recebeu uma mensagem, no receptor auricular bluetooth, um correio de voz, dando
conta da morte da mãe, internada em uma casa de repouso barata a poucos
quilômetros da capital. A mãe de Evelyn, mulher negra idosa, doente, foi
despejada no lugar insalubre pela única filha.
Fragmento do livro Sono Paradoxal de Samuel da Costa, poeta, contista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.
Contato:
samueldeitajai@yahoo.com.br
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