quarta-feira, 1 de novembro de 2023

LUEN E DÓRIAN: NO NEGRO AMANHECER DE UM NOVO DIA

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

                                                                                 

                                                                                                                                                                                        Ofereço-te

                                                                                     Excelsa Negra Valquíria

                                                                                        Hialinos lírios celestes

                                                                                       E brumosas heléboras

                                                                                          Diáfanas orquídeas

                                                                                   E a astral ignota vastidão

                                                                                Do meu fecundo universo

                                                                                         Imaginativo sem fim

 

 

            Dórian incrédulo, olhava para Luen, que estava na frente dele, aquela pessoa não era a sua amada esposa, era uma outra pessoa. Mas, não era uma pessoa estranha, era uma pessoa que se esbarra nos corredores da vida, pessoas de que se diz bom dia, boa tarde e boa noite e não se sabe sequer o nome. Sim, os olhos castanhos rasgados estavam, com a empáfia de uma mulher, uma mulher negra, uma líder, uma corajosa chefe de seção, que tem lidar com homens poderosos todos os dias.   

          Os cabelos lisos, longos e trigais estavam ali, estavam intactos, mas Luen estava usando um delicado quimono de seda azul japonês, um leve primaveril olor de rosas matinais, exalava dos cabelos de Luen. No pescoço um pingente, uma pequena e delicada joia amarela, o exótico designer Dórian não conhecia, para o professor lembrava não um designer, asiático, primitivo-moderno, tribal, tribal moderno ou ancestral, mas parecia alienígena. Luen, não usava perfumarias e adereços exuberantes, ela usava perfumarias, essências e joias discretas e conservadoras. 

          A imponente esposa de Dórian, estava lendo um jornal impresso, em formato tabloide, lia enquanto bebia uma xícara de café preto. A moderada, bem alinhada Luen, pronta e decidida pela manhã, de fala moderada, que entre um degustar de um morango orgânico e outro, ela falava de assuntos da casa, discutia assuntos banais do trabalho, de ambos e uma fofoca aqui, outra ali e outra acolá. O mutismo glacial, da mulher da frente de Dórian, dizia que ali era uma outra pessoa. Lembrava um alguém perdido no passado de Dórian.             

         — Querida! Meu amor! O que é que, aquele trambolho está fazendo, em cima da minha mesa de trabalho? — Falou o dono da casa, misturando um discurso informal e um academista, entre a candura e a aspereza. Começou manso e elevou o tom em seguida. Dórian estava pisando em ovos naquela hora.         

          — Trambolho? Bem me lembro, do vi o brilho no teu olhar, quando comprei a máquina de escrever! Um presente, uma raridade, para um escritor obscuro! — Falou Luen gélida e continuou — Vou precisar sim e vou usar o nosso ateliê!              

          — Meu amor! Não vais trabalhar hoje? — Disse Dórian em desespero.

          — Tenho umas horas extras acumuladas! Vou passar umas horinhas em casa! E o trabalho? Não se preocupe, já alinhei a minha tropa por hoje. — Falou complacente a dona casa para o marido.          

          De fato, Luen, deu as suas ordens unidas, para os seus subordinados e subordinadas. Ela mandou mensagens de voz e escritas para a equipe, que ela comandava. E ignorou por completo, os seus superiores ou as outras seções correlatas e parceiras. Ela passou a ordem do dia, como se fosse uma generala em batalha, Luen usou vários aplicativos eletrônicos e telefonou para o seu chefe de gabinete. Passou e repassou todo o cerimonial, e não deixou claro para o chefe de gabinete que não iria trabalhar ou chegaria atrasada naquele dia. Fez tudo isso, depois de acordar e sem sair da cama. Luen bem sabia que, sem presença titânica dela, na câmara alta as coisas não funcionaram a contento. Todos e todas trabalhariam com afinco, na iminência de Luen aparecer a qualquer momento.       

          De volta a sala de estar, Luen voltou a ler o pequeno jornal que estava lendo depois o colóquio, que teve com o marido. Dórian, olhou bem para o jornal, notou que era um obscuro informativo cultural, de circulação restrita, de poucos e para poucos das subculturas da localidade. E na sala de trabalho, um tétrico e glacial grito surdo ecoou, soou pelas paredes da casa, chegou na sala de estar e adentrou na mente de Dórian, o professor de literatura comparada se encolhe de medo. Enquanto Luen, olhou para o marido e esboçou um sorriso sarcástico, para depois sorver o seu café.

 

Fragmento do livro Sono Paradoxal, de Samuel da Costa, poeta, contista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

 

 

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