Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Ofereço-te
Excelsa Negra Valquíria
Hialinos lírios celestes
E
brumosas heléboras
Diáfanas orquídeas
E a astral ignota
vastidão
Do meu fecundo universo
Imaginativo sem fim
Dórian incrédulo, olhava para Luen, que
estava na frente dele, aquela pessoa não era a sua amada esposa, era uma outra
pessoa. Mas, não era uma pessoa estranha, era uma pessoa que se esbarra nos
corredores da vida, pessoas de que se diz bom dia, boa tarde e boa noite e não
se sabe sequer o nome. Sim, os olhos castanhos rasgados estavam, com a empáfia
de uma mulher, uma mulher negra, uma líder, uma corajosa chefe de seção, que
tem lidar com homens poderosos todos os dias.
Os cabelos lisos, longos e trigais
estavam ali, estavam intactos, mas Luen estava usando um delicado quimono de
seda azul japonês, um leve primaveril olor de rosas matinais, exalava dos
cabelos de Luen. No pescoço um pingente, uma pequena e delicada joia amarela, o
exótico designer Dórian não conhecia, para o professor lembrava não um
designer, asiático, primitivo-moderno, tribal, tribal moderno ou ancestral, mas
parecia alienígena. Luen, não usava perfumarias e adereços exuberantes, ela
usava perfumarias, essências e joias discretas e conservadoras.
A imponente esposa de Dórian, estava
lendo um jornal impresso, em formato tabloide, lia enquanto bebia uma xícara de
café preto. A moderada, bem alinhada Luen, pronta e decidida pela manhã, de
fala moderada, que entre um degustar de um morango orgânico e outro, ela falava
de assuntos da casa, discutia assuntos banais do trabalho, de ambos e uma
fofoca aqui, outra ali e outra acolá. O mutismo glacial, da mulher da frente de
Dórian, dizia que ali era uma outra pessoa. Lembrava um alguém perdido no
passado de Dórian.
— Querida! Meu amor! O que é que,
aquele trambolho está fazendo, em cima da minha mesa de trabalho? — Falou o
dono da casa, misturando um discurso informal e um academista, entre a candura
e a aspereza. Começou manso e elevou o tom em seguida. Dórian estava pisando em
ovos naquela hora.
— Trambolho? Bem me lembro, do vi o
brilho no teu olhar, quando comprei a máquina de escrever! Um presente, uma
raridade, para um escritor obscuro! — Falou Luen gélida e continuou — Vou
precisar sim e vou usar o nosso ateliê!
— Meu amor! Não vais trabalhar hoje?
— Disse Dórian em desespero.
— Tenho umas horas extras acumuladas!
Vou passar umas horinhas em casa! E o trabalho? Não se preocupe, já alinhei a
minha tropa por hoje. — Falou complacente a dona casa para o marido.
De fato, Luen, deu as suas ordens
unidas, para os seus subordinados e subordinadas. Ela mandou mensagens de voz e
escritas para a equipe, que ela comandava. E ignorou por completo, os seus
superiores ou as outras seções correlatas e parceiras. Ela passou a ordem do
dia, como se fosse uma generala em batalha, Luen usou vários aplicativos
eletrônicos e telefonou para o seu chefe de gabinete. Passou e repassou todo o
cerimonial, e não deixou claro para o chefe de gabinete que não iria trabalhar
ou chegaria atrasada naquele dia. Fez tudo isso, depois de acordar e sem sair
da cama. Luen bem sabia que, sem presença titânica dela, na câmara alta as
coisas não funcionaram a contento. Todos e todas trabalhariam com afinco, na
iminência de Luen aparecer a qualquer momento.
De volta a sala de estar, Luen voltou
a ler o pequeno jornal que estava lendo depois o colóquio, que teve com o
marido. Dórian, olhou bem para o jornal, notou que era um obscuro informativo
cultural, de circulação restrita, de poucos e para poucos das subculturas da
localidade. E na sala de trabalho, um tétrico e glacial grito surdo ecoou, soou
pelas paredes da casa, chegou na sala de estar e adentrou na mente de Dórian, o
professor de literatura comparada se encolhe de medo. Enquanto Luen, olhou para
o marido e esboçou um sorriso sarcástico, para depois sorver o seu café.
Fragmento do livro Sono Paradoxal, de Samuel da
Costa, poeta, contista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.
Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br
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