Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Ofereço-te
afra deidade
Um
negro arco-íris
E
todas as minhas abissais
E
augustas e infinitas dores
Depois de se retorceu, ele sentado de frente de Luen,
o zunido na mente de Dórian evanesceu lentamente, deixando como vestígio uma
leve dor de cabeça. E o professor de literatura comparada, buscou forças, sabe
se lá de onde, ergueu a cabeça, abriu os olhos esverdeados e olhou para a
esposa. E o que ele viu, não foi a esposa, era uma mulher e desconhecida, ela
usava uma interiorana veste negra, de uma nobre europeia do século XXlll, de
longos cabelos negros reluzentes, e olhos amarelados e cheios de ódios. A
desconhecida, se levantou da cadeira, andou até Dórian, que tentou mexer, mas
não conseguiu.
—
Deixa, eu te ajudar, meu querido! — Disse a mulher em francês provençal, o
arpitano, de repente Dórian se lembrou da infância longínqua, de quando a mãe
contratou uma corpulenta e entediada professora de francês. O então pequeno
Dórian detestava o francês, mas tinha medo da mãe. Foi assim que o pequeno
Dórian, resolveu aprender o francês sozinho e então a mãe de Dórian dispensou a
sonolenta esposa do cônsul francês. Dórian lembrou do sotaque franco-provençal
da velha professora, dos tempos idos da infância.
Chegando ao lado de Dórian, a estranha mulher ergueu a mão impondo um
delicado lenço de linho egípcio. A dama levou a peça ebúrnea, até a boca de
Dórian, ela limpou o lábio do dono da casa. O aterrado doutor professor de
literatura comparada, viu sangue no lenço e ouviu a mesma dama, falando em um
dialeto Italiano. Ela falava lentamente e com um carinho forçado.
Os olhos de Dórian ficaram turvos, um forte zunido
deixou o doutor professor tonto. Ao abrir os olhos, olhou para o lado, a mulher
europeia tinha sumido, com a mente mais clara e olhar para a esposa defronte a
ele, Dórian não se conteve e foi ao ataque.
— O
que você está fazendo comigo, sua bruxa maldita? — Disse o marido de Luen, ele
com os dentes tremendo.
— Eu?
Nada meu amor! Só sei que vou ficar em casa hoje! Tenho projetos meu querido
esposo, vou voltar a escrever, a compor novamente! — O tom casual e calmo de
Luen, enfureceram Dórian. Ver a esposa, pegando um garfo de mesa dourado de
bambu natural, uma peça que o dono da casa nunca tinha visto antes. Luen garfou
um morango orgânico, a poucos centímetros dela, levou-a um pouco mais distante
e mergulhou a fruta vermelha, em uma pequena e delicada taça de cristal. E ela,
chafurdou o morango, em iogurte natural e lentamente levou até a boca, fez isso
olhando para o marido de forma sedutora. Dórian, nunca tinha visto esse
aparelho de café da manhã, o dono da casa, sem saber o motivo, ficou furioso
com o gotejar de iogurte na mesa.
—
Diga-me, minha querida, que pingente é este aí, no teu pescoço? — Falou Dórian
com candura para a esposa.
— Um
presente de aniversário, ganhei faz um bom tempo! E nem sei de quem! —
Respondeu mentiu Luen, com candura adolescente.
—
Conheço o designer, estudei faz tempo, em um grupo de estudos, é um emblema
amarelo! — Falou Dórian em bom professoral.
Luen
se levantou, caminhou até Dórian, beijo rosto do marido e não disse nada. Saiu
da sala de estar, com graça, o ploc, ploc, ploc do tradicional chinelo japonês
de madeira, de salto duplo, o som chegou aos ouvidos de Dórian, como um pesado
martelo, o sobe e desce, marchetando um malho de aço.
Luen cruzou a casa, adentrou no pequeno aconchegante ateliê de Dórian, ela bateu a porta com força. E ela tinha consciência do que estava em curso.
Dórian absorto
em si mesmo, sentado na sala de estar, ele queria morrer naquela hora e a
imagem de esplendoroso jardim primaveril encheu os olhos do doutor professor.
Em um lugar à beira mar, que ele nunca tinha visto na vida ou estado antes.
Fragmento do livro Sono paradoxal de Samuel da Costa, poeta, contista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.
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