sexta-feira, 1 de setembro de 2023

BRIAN: ADEUS, MEU QUERIDO!

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)

 

Jane sentiu uma vontade enorme de fumar um cigarro e beber um champanhe gelado, a executiva sênior nunca suportou o hábito de homens do mundo dos negócios, celebrarem suas conquistas com charutos e uísque. Jane preferia um bom champanhe rosé gelado e uma tragada de um cigarro aromático.

Jane procurou no bolso e encontrou seu maço de cigarros, puxou um até a boca, sacou de um isqueiro e pensou da visita que daqui a pouco chegaria. Mas antes, ela saiu do confortável escritório e andou poucos passos. Jane olhou para a concessionária do terceiro piso. A gerente executiva e sócia proprietária, olhou a sua equipe trabalhando, as mudanças que ela fez estavam funcionando bem.

— Berta! Não sensualize tanto! — Falou Jane no rádio comunicador, para a jovem vendedora, que estava atendendo um rico empresário. Brian tinha contratado meia dúzia de modelos, para atender os ricos clientes, como não entendiam nada de carros e motores. Jane contratou uma equipe especializada em vendas de carros e entendida de mecânica básica. E treinou os que vendedores que já trabalhavam na prática de vendas de carros de luxo.

Jane olhou o recém espaço para veículos esportivos, motocicletas e bicicletas motorizadas, os vendedores, que antes usavam rígidos uniformes impecáveis brancos. Jane trocou os uniformes por confortáveis roupas informais, para atender famosos surfistas, esqueitistas e jovens empresários ricos. Até o departamento de veículos elétricos e de carros populares e usados estava indo bem, apostar nas diversidades deu novos ares à concessionária.

No outro lado na rua a loja de bicicletas, não demoraria seria inaugurada, em suma a vida profissional estava indo bem. E Jane olhou para o relógio e pensou que não faltava muito.

— Andreas! Na escuta? Deixe-o passar, assim que ele chegar! Entendido? — Falou Jane no rádio ao seu chefe de segurança. Jane não esperou a resposta e desligou o rádio.

Jane voltou para o seu escritório e sentou na confortável cadeira, a executiva, de meia idade, olhou no relógio de pulso. E ele entrou pela porta que dava acesso ao terceiro andar e ele estava vestido com um uniforme de zelador. O homem estava nervoso e Jane apertou um botão embaixo da mesa ao vê-lo parado na frente da porta da gerência da concessionária.

— Como vai? Brian, meu querido! — Falou Jane de forma calma e levou um cigarro até a boca, tragou e aspirou a fumaça no ar. Os olhos de lince de Jane apavoraram Brian. — Já que tenho um bom cargo, aqui na empresa. Posso te ajudar?

— Serei breve! — Falou o desesperado Brian.

— Brian, esqueci de lhe contar algo. — Disse Jane com um tom glacial na voz

— Então me diga a verdade! Somente a verdade mulher ordinária! — Falou Brian como se sussurrar um segredo bem guardado ao pé do ouvido de um confidente.

— Tu esqueceste de desligar as câmaras do escritório, no nosso último encontro! Pobre da Susan, que viu tantas e tantas traições.

— Mulher falsa e repugnante és. Maldita sejas! — Esbravejou Brian a plenos pulmões. A pretensão acústica do escritório trancafiou ali o brado do antigo dono da concessionária.

Jane se levantou da cadeira e andou lentamente até Brian, Jane deu-lhe um beijo no rosto e colocou em seu bolso o anel de noivado com sua resposta.

— Jamais me casaria com um homem imundo do teu tipo! — Jane sussurrou no ouvido de Brian e continuou — Sorte que Susan descobriu sua verdadeira identidade. Espere, que aceite a vaga de faxineiro que te propus, terá muitos vasos sanitários para limpar! E gostei que tenha vindo me visitar a caráter. Vejo que te caiu bem. Apesar da minha proposta, deixe o teu currículo na portaria, eu entrarei em contato assim que possível. — Jane voltou lentamente para a mesa de trabalho, apertou um botão embaixo da mesa e dois corpulentos seguranças com seus ternos pretos, apareceram para escoltar o ex-patrão porta a fora.

Em um último ato Jane prendeu os cabelos, sem ao menos se despedir olhou para Brian com um misto de ódio e desprezo. Ela se considerava vítima de muita mentira e traição. Hoje, apesar da pouca idade todos a respeitam na empresa e fora dela, em o mercado de automobilísticos. Jane aprendeu a se valorizar.

Uma vez sozinha, ela lembrou dos passos que a levaram até ali, primeiro foi a colega de trabalho, outra vítima de Brian. Ela era uma excelente executiva que se perdeu de amores por Brian e ele a seduziu, a usou por um bom tempo e a descartou, sem aviso prévio. E foi ela que confidenciou sobre os negócios escusos de Brian, com suspeitos senhores italianos, espanhóis, franceses, gregos, colombianos e mexicanos. E foi ela que alertou Jane sobre as práticas de Brian, do diário íntimo de cada conquista, de cada caso que teve ao longo dos anos. A colega de trabalho, deu detalhes de cada reunião que Brian tivera com os senhores estrangeiros. E Jane, sem perder tempo, partiu para vasculhar os labirintos contábeis da concessionária. E tudo estava lá, a arrogância e certeza da impunidade, Brian deixará vestígios claros de seus negócios escusos com o mundo latino e mediterrâneo.

E do diário íntimo, a ex-amante de Brian, calculou que estava bem guardado em um cofre particular em um banco. Não o estúpido do Brian, pensou Jane e não precisou muito para encontrar o diário de Brian em uma gaveta no escritório do próprio Brian.

Brian sempre desligava as câmeras de segurança, todas as vezes que recebia uma amante. Jane recuperou as imagens do último encontro entre eles e Jane cobrou o próprio rosto nas imagens.

Provas reunidas, Jane teve uma longa conversa com Susan uma senhora de idade avançada, ela na época era a esposa de Brian. Jane confirmou um boato que rondava a pessoa de Brian, que ele tinha um sócio que era o real dono da concessionária e toda a fortuna dele. Susan e Jane se entenderam bem. E fechar a lavanderia de dinheiro de Brian não foi difícil, assim como denunciá-lo para as autoridades. Brian desapareceu, nunca mais foi visto depois da visita a sala de Jane. Jane soube tempos depois que os ex-parceiros de negócios de Brian estavam à procura dele.

 

Fabiane Braga Lima, contista, poetisa e novelista em Rio Claro, São Paulo.

Contato: debragafabiane1@gmail.com

 

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