sexta-feira, 1 de setembro de 2023

O PODER DOS BRADOS

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)

 

Naquele tempo Jesus andava por terras de Israel, e o povo maravilhava-se com Suas palavras, e dizia: " Fala com autoridade e não como os escribas." – Mt.7:29

Muitos eram os milagres: os surdos ouviam; os cegos viam; os paralíticos andavam; os leprosos curavam-se...; e até os espíritos malignos obedeciam. – Lc.7:22

Mas uma noite, quando repousavam os discípulos, chegou a desgraça. - A Escritura avisara, mas os sacerdotes e os sábios, não sabiam interpretá-Las – M.14:43,46

E o príncipe dos sacerdotes e o conselho, no sinédrio, condenaram Jesus, levando-O à presença do procurador romano. – Mt. 26:57,68

Pilatos tentou inocentá-Lo; mas os brados da massa humana, que dias antes O aclamavam, queriam, agora, condená-Lo. -Mt.27:11,26

O procurador de Roma receou prejudicar a sua carreira política. O cargo valia mais do que a morte de um justo!...

Levaram-No para o pretório e os soldados escarneceram-No

Pilatos convocou os sacerdotes, os magistrados e o povo, na intenção de O soltar – Jo.18:38,40

Mas os gritos, os brados, cresceram, com eles a ameaça temida de não ser amigo de César. – Jo.19:12,13

No nosso conturbado tempo, também, os brados atordoam os ouvidos do Poder.

Basta clamar, gritar, para que se tenha razão, mesmo que não se tenha. Basta a mass-media dizer em parangonas, isto ou aquilo, para o vulgo acreditar, e o Poder ceder, se não encontrar força para o calar.

Aquilino, em " Um Escritor Confessa-se", referindo-se ao seu País, baseado na experiência de vida e de político, declara:" Na nossa terra basta esbracejar, dar murros na mesa, romper contra a corrente do bom senso, armar em teso, para ganhar fama de valente ou de superioridade e fama, que não é fácil de estripar com duas razões no bestunto do nosso próximo."

Assim faz o sindicalista papagaio, o político populista, e o presidente do clube desportivo, para entusiasmar os adeptos, e até o trabalhador espertalhão, quando pretende passar por inteligente.

Tentam convencerem – e quase sempre convencem, – que a ideia, a razão, o Projeto que apresentam, é o melhor.

O vulgo, que os ouve assim falar de cátedra, acredita ou teme, e "democraticamente", escancara a boca e diz: - " Como é inteligente!..."

Assim como os brados condenaram Jesus, no nosso século, os brados fazem calar os educados, e quem quer pensar pela própria cabeça.


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