sexta-feira, 1 de setembro de 2023

QUANDO TUDO TERMINAR (PRIMEIRA PARTE)

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

Ah se o tempo parasse

Então nada seria como antes

Já não te deixaria, jogada entre as feras

Desprotegida e sozinha

 

 

 

Otto Meisel sempre preferiu viver em regiões fronteiriças, vivia como seus antepassados. O clã, a qual Otto pertencia, vivia e morria, entre legalidades e ilegalidades, entre um oceano e outro, entre uma nação e outra, entre uma guerra e outra e entre um continente e outro. Em uma marcha sem fim, indo e vindo, aos sabores das conveniências das ocasiões.

Os Meisel, viviam e morriam entre: lealdades e traições, migrações e imigrações forçadas e voluntárias. E Otto Meisel, tomou para si esse peculiar legado familiar, por isso, ele escolheu viver suas aventuras e desventuras, em uma cidade portuária. Cidade com os seus inúmeros e infindáveis, vai e vem de navios, caminhões, contêineres, mercadorias legais e ilegais e gente de todos os naipes, de todas as matizes, estirpes, raças, índoles e credos. E para morar escolheu um bairro distante da zona portuária, que não se decidia se queria ser uma zona rural ou uma zona urbana. Bairro, repleto de draconianas olarias, que importunavam a todos e todas, com seus fornos arcaicos e enfumaçados. Um bairro, recortado por uma movimentada rodovia, que ligava o litoral informal, sazonal e quente, com o vale europeu frio, sisudo e formal.

Otto, foi encontrar trabalho um pouco longe de onde morava, no Bar-café Garibaldi, que se localizava próximo à orla da praia, na via de acesso rápido entre cidades. Otto, também dividia a sua vida em duas partes distintas, e bem demarcadas, uma clandestina à noite e outra, aparentemente normal e de dia.

Viver entre os mais variados riscos e desventuras da fronteira da ilegalidade com a legalidade. O ar puro da orla da beira-mar de dia, o clima carregado da noite da beira do cais portuário e por fim entre traições e lealdades, o clima ameno do bairro semirrural e o clima soturno e viciado da zona portuária.

Um equilíbrio que nem sempre repousava nas mãos de Otto. Os choques entre mundos eram inevitáveis, constantes e cada vez mais violentos e cada mundo lhe cobraria, à sua maneira, seu preço e uma definição em definitivo.

 

Fragmento da novela A Casa de Teto Verde, de Samuel da Costa, poeta, novelista e contista em Itajaí, Santa Catarina.

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

 

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