sexta-feira, 1 de setembro de 2023

EU NO MORRO (SEGUNDA PARTE)

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)


Havia algo devorando a minha mente, algo ou alguma coisa me angustiava. Criei coragem e desci o morro, precisava conversar com a minha mãe. Chegando na casa da minha mãe, entrei sem bater na porta pois eu tinha a chave. Ao passar pela porta, fiquei intacta, como subitamente, em poucos minutos, tudo parecia estranho, a casa, os móveis, e até mesmo o cheiro. Naquele exato momento, faleci, mesmo estando viva. Mamãe desceu as escadas e olhou para mim.

— O Téo está aqui? — Questionou-me, muito preocupada.

— Está no serviço! Ele é um homem trabalhador e honesto! — Falei desolada.

— Querida, conheço Téo, realmente é um grande homem, sou muito grata a ele estar casado contigo! — Falou a minha mamãe cheia de entusiasmo.

Estava me sentindo mal, o perfume da casa me impregnava, o cheiro do incenso. Precisa voltar para casa, mesmo sem falar com a mamãe.

— Tenho que ir, voltar para casa!

— Já está de partida, posso saber o motivo?

— Tenho lembranças estranhas aqui. Adeus mãe! — Sussurrei sem olhar para ela. Dei meia volta e parti, deixando a minha outra vida para trás.

Apesar da beleza do bairro, tudo parecia ser um suplício. Voltei para casa às pressas, e como sempre, me arrastava, andava com pressa tentando me afastar dos moradores do morro. Via não querendo ver andando pelas mulheres seminuas, andando felizes, com as suas crianças de colo e os bares lotados. Precisava estar com Téo, somente ele me faz sentir protegida.

— Téo! Cheguei! — Falei alto ao chegar em casa.

— Ótimo, precisamos ter uma conversa! — Téo me interpelou ao me ver na porta.

— Fale, meu querido! — Falou forçando uma felicidade que eu não tinha e não sentia.

— Escute bem! Você precisa aprender a tolerar as pessoas, relembre sua história. — Disse Téo para mim sem eu não entender nada.

— Não, não, eu não me lembro de nada! — Falei desesperada.

— Então tente, tens pouco tempo, para se lembrar, ou eu irei embora. Lembre-se, querida.

 

Fabiane Braga Lima, é poetisa, contista e cronista em Rio Claro, São Paulo.

Contato: debragafabiane1@gmail.com

 

 

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