Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
A belíssima querubina* de ébano um dia me disse que: ‘’Tem duas coisas que são infinitas, o universo e a ignorância humana! ’’ É claro que eu tenho de discordar, pois sou adepto do marxismo, não, o universo tem limites sim, segundo a cosmologia moderna aponta e sim e ignorância humana se limita quando se esbarra com a realidade. Simples assim meus amigos e amigas!
Pois bem, como sou funcionário público efetivo de baixa escalão, sou agente de segurança, eu sou do aparelho do estado e não do governo. E ressalto aqui, quando um ente permanente se choca com um ente temporário, quando um agente do estado, se choca com um agente do governo um indicado ou mesmo eleito pelo voto direto.
Para ser mais simples e direto, lá estava eu, cumprindo o meu plantão em pleno carnaval. Em uma parte remota da cidade, eu estava na completa solidão e tarde da noite, guardando e resguardando um aparelho turístico de dez por dez metros quadrados, bem próximo a uma movimentada rodovia federal. O aparelho turístico localizado, em uma longa e importante avenida, que em tempos idos os populares apelidaram de Transilvânia, por ser desolada e escura.
O lugar em si, ficava em um deserto, pois no entorno somente havia, vários terrenos baldios e galpões de cargas, ladeado por favelas, ops, desculpe, um lugar com moradias de pessoas de baixa renda, um bairro periférico onde vivo alias. E ao cair da noite, ficava eu em meio ao comércio ilícito de produtos orgânicos e artificiais recreativos e diversões adultas.
E lá estava na beira da madrugada, no meu posto de trabalho, devidamente desuniformizado, e cabe ressaltar mais uma vez que, em pleno carnaval, eu macambúzio, esperando o meu chefe imediato. Até que ele surge e não estava sozinho, estava acompanhado, estava com o chefe do meu departamento. E de todos os muitos ridículos da vida, o querubim, um cargo indicado pelo alcaide local, o sujeito estava vestido a caráter, usava uma roupa carnavalesca, um traje de folião. O querubim usava short, sandálias romanas, camisa florida, um chapéu de tirolês de papelão e um adereço improvisado no pescoço um colar havaiano. Sim a cidade estava em festa, era carnaval.
Fora o ridículo das roupas de carnavalesco, do meu chefe de departamento, o que se segue foi ele ao me ver sem o meu empoeirado uniforme de trabalho, o querubim-mor me inquiriu, com o poder que o cargo que assim o conferia, ele perguntou porque estava sem o meu uniforme. Pois bem, no alto da minha pequenez, informei o querubim-mor, que o meu uniforme foi embora, as águas levaram junto com o meu guarda-roupas, máquina de lavar, a minha cama e as minhas outras coisas pessoais.
Explico, que há poucos meses a
minha cidade tinha sofrido um enorme alagamento. Se o querubim tivesse olhado
para o lado, ele veria o meu chefe imediato rindo, pois ele mesmo também tinha
sofrido com a cheia e tinha perdido quase tudo que tinha com a cheia.
Fragmento do livro Dos Ridículos da Vida, de Samuel Costa, contista, poeta e novelista em Itajaí, Santa Catarina.
Contato:
samueldeitajai@yahoo.com.br
*Nota do editor: consideramos o termo "querubina" como uma licença poética, uma vez que o substantivo masculino "querubim" é comum de dois gêneros, segundo os dicionários.
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