sexta-feira, 1 de setembro de 2023

OPERA MUNDI (OITAVA PARTE): EPÍLOGO (TERCEIRA PARTE)

Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

 

 

‘’Eu, ousei adentrar...

Em mundos desconhecidos, da minha vida cotidiana,

Como se houvesse uma vida, com algo,

Ou alguém que ao longe clamava por mim. ’’

 

Fabiane Braga Lima

 

 

Antes de adentrar na câmara ardente, a almirante Bartira teve poucos nanosegundos, mas o tempo foi o suficiente para tecer algumas considerações sobre a afra rainha Luna. E os passos tortuosos que a milady celestial deixou após deixar a terra dos sonhos, depois que ela deixou o Dirigível Mare Crisium e adentro a turris ebúrnea. O que houve dentro da turba ebúrnea, a almirante não sabia, mas teve uma ideia, do que se desenrolou ali, pois a imprudência de abandonar o exílio imposto por Hastur. A sensação de vazio e abandono, ao perceber que o vate Yendel ali não se encontrava mais.

O passeio em si da aristocrata, membro da corte de Hastur, no reino de Calibor tinha tudo para dar errado. E a militar de alta patente deve ter noção exata da tragédia em si, quando a afra rainha voltou ao mundo em vigília e incorporou o avatar que tinha deixado para trás. Foram horas na terra dos sonhos e poucos segundos na terra em vigília, Luna produziu uma onda magnética devastadora, a afra rainha Luna, fez ruir o elevado de três pistas. Além de sair ilesa e gerar muitas mortes e a onda magnética promoveu distúrbios por quilômetros.

Como uma das poucas sobreviventes, a afra rainha Luna teve que se reinventar por longos anos e depois de um longo tratamento psiquiátrico. Bartira foi informada que a Luna tinha se reinventado e a assumira em um cargo menor em um parlamento. Na verdade, na câmara alta e logo no primeiro dia a aristocrata quase matou uma mulher e nos dias seguintes a milady exilada da corte negra de Hastur começou a burilar o ambiente usando a telecinese. E não demorou muito para Calibor descobrir que a afra rainha Luna tinha levado, junto a si, o palácio das memórias de Yendel. O bibliotecário-mor de Calibor, se encontrava desativado, o cyborgue fiel depositário de todas as aquisições e saques afetados em civilizações e planetas, que o deus cósmico Calibor, promoveu durante incontáveis eras.

O final deste imbróglio não poderia ser outro, o funeral Lavívi, as exéquias imperiais fúnebres deveriam ser executadas, mesmo a afra rainha e Yendel não serem casados. Pois a afra rainha Luna como uma semi-deusa imortal e Yendel como um cyborgue nascido de uma supernova também não poderia morrer. Lança-los ao astro rei foi a solução, era o assim o funeral Lavívi que raramente era usado.

A almirante Bartira, recém promovida, teve esta incumbência, pois o funeral imperial Lavívi somente poderia ser executado por um almirante. Mas, Bartira teve outra ideia, estapafúrdia a princípio, pois heréticos sussurros aqui e ali, vozes veladas davam conta de um mito. A união de máquinas e seres vivos, não que isto seria uma novidade, pois Yendel era um cyborgue, a novidade era unir dois seres celestes, detentores de poderes inimagináveis. E o Bartira pesquisou a fundo e descobriu a existência de um rumor, que algo próximo disso já tinha ocorrido e que o segredo estava no palácio da memória de Yendel.

Ao adentrar na câmara ardente, feita de energia quântica, a almirante se conecta ao cyborgue Yendel, que estava encapsulado na sala da proa do Dirigível Mare Crisium. A almirante Bartira adentra na finitude do palácio das memórias do Vate, ela se multiplica e se multiplica e se multiplica e se multiplica em um ciclo infinito. Os pergaminhos digitais foram vasculhados, bancos de imagens foram assistidos, arquivos de áudios foram ouvidos, hologramas projetados, antigos alfarrábios e proibidos primórdios foram consultados, sigilo místico foram invocados, cânticos sagrados foram entoados, poemas e cânticos foram bradados e virtuais computadores quânticos foram ligados. E, por fim, a almirante encontrou o que procurava, a câmara ardente se desfez e a almirante Bartira foi lançada ao chão exausta. Na mente do militar surgiu um nome: O protocolo Lavívi.

 

Fragmento do livro Sustentada no Ar por Asas Fracas, de Clarisse Cristal, poetisa, contista, novelista e bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa Catarina; e Samuel da Costa poeta, contista e novelista em Itajaí, Santa Catarina. 

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

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