Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Como o longo título academicista, do texto já entrega, vamos tratar aqui destes três atores sociais, vamos tratar de um caso específico, que ocorreu na minha pequena cidade portuária e praiana. Para além de eu ser um pequeno funcionário público, há época eu trabalhava em um aparelho de segurança pública local, sou o guardinha ali da esquina, como dizem por aí. E como eu trabalhava, guardando e resguardando um aparelho estatal, em um local isolado, como o local era cheio de terrenos baldios, os ciganos ali acampavam. E convivi na distância segura para ambos os lados, pois se aproximar, muito de homens e mulheres uniformizados queima mesmo o filme.
Indo direto ao ponto chegou aos meus ouvidos, na repartição pública, que um foca, um jornalista em início de carreira, foi fazer uma reportagem com o povo cigano acampado próximo da repartição que eu trabalhava. Diziam nos corredores, lá nas densas alturas, no segundo andar da repartição em que eu trabalhava. E como o prédio tinha somente dois andares, logo o caso ganhou o subsolo que eu trabalhava. O tal foca foi expulso a chutes e pontapés pelo povo nômade, diziam nos corredores que o sujeito sacou de uma máquina fotográfica, não aquelas pequenas de pessoas normais e sim aqueles enormes trambolhos.
Fofocas são fofocas e não devem ser levadas a sério. Até o jornal, um jornal diário de certa relevância na região, publicou o ocorrido, tintim por tintim, como se diz no popular. E para os muitos ridículos da vida, no meio da matéria para baixo, o jornal começa a fazer ataques gratuitos ao povo nômade. Ataques racistas.
Diante ao silêncio sepulcral dos ditos progressistas, e lá vai eu chamar a atenção, como sou militante do movimento negro e mandei uma missiva ao jornal. Ande chamei a atenção para o fato que o lixo jogado nos terrenos baldios, não eram os ciganos que produziam, também chamei a atenção do povo nômade milenar tinham o direito de usar os locais. Explico, o meu país assinou um tratado, na ONU, Organização das Nações Unidas, reconhecendo a nação cigana como autônoma. Isso ocorreu no segundo decênio do século XXI.
E para os ridículos da vida, o
jornal acabou publicando a minha missiva, a onda proto-fascista, que nos anos
seguintes teve lá seus presságios, seus pequenos avisos.
Fragmento do livro Dos Ridículos da Vida, de Samuel da Costa, contista, poeta e novelista em Itajaí, Santa Catarina.
Contato:
samueldeitajai@yahoo.com.br
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