Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Clarisse Cristal, olhou para a
tela do computador, fechou os olhos e tirou as mãos do teclado e suspirou
profundamente. E antes mesmo que pensasse em qualquer coisa, ela levou a mão
até o mouse e levou a seta, até o ícone da impressora e clicou. Enquanto a
máquina imprimia a obra, Clarisse Cristal procurou pôr as ideias em ordem. E a
primeira coisa, foi olhar para trás e admirar Muteia, deitado na cama de bruços
a dormir, ele completamente nu e um turbilhão de ideias e sentimentos, tomaram
conta dela naquele momento.
— Saboreei bem, este breve e
doce momento, anjo negro. A primeira vez é sempre assim mesmo, o excelso, o que
há de melhor neste mundo e o que é de pessimamente ruim, se misturando em uma
confluência negra e atroz! — As confusas palavras de Agnes chegaram diretamente
na cabeça de Clarisse Cristal como leves eufônicos sussurros suspensos no ar. —
Depois as palavras jorram na cadência da escrita automática, minha querida.
— Não me diga minha cara e vai
ser assim mesmo? Você abstrata e incorpóreo flanando na minha cabeça, ditando o
que eu tenho ou deveria escrever? — Perguntou Clarisse Cristal em completa
angústia.
— Não mesmo, meu anjo negro,
olhe para trás e serás que sou bem real, a bem da verdade um pouco mais que
real, pois estamos para além de qualquer realidade projetada ou mesmo
imaginada, pela raça humana. Somos superiores a tudo e a todos! — Falou Agnes
em triunfo.
Agnes andou até a impressora e
viu as páginas sendo despejadas na bandeja de saída. Espera até a última página
ser impressa e paga o manuscrito, lê a primeira página e coloca em uma pasta de
couro marrom. Levanta o olhar para Clarisse que não tirou os olhos da tela do
computador como se estivesse em um profundo transe.
— Podes olhar para mim e mesmo
assim manter a sanidade, anjo negro! — Falou Agnes.
E assim que a jovem escritora
levantou os olhos para a mulher a poucos metros dela, Clarisse sentiu uma leve
dor de cabeça.
— E agora? — Perguntou
Clarisse Cristal.
— Agora é fumar um cigarro e
beber algo forte! — Respondeu Agnes
— E agora? — Perguntou
novamente Clarisse Cristal.
— Calma, meu anjo negro! O
fim, é o começo de algo melhor e grandioso. — Agnes levantou a mão e ergueu a
pasta com o manuscrito — Cru é verdade é o seu manuscrito, mas um grande fim e
o prelúdio de um grande começo!
Fragmento do livro: Em dias de sol e calor, em noite de tempestades e frio, de Samuel da Costa, contista, poeta e novelista em Itajaí, Santa Catarina.
Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br
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