sexta-feira, 1 de setembro de 2023

DEPOIS DO FIM

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

Clarisse Cristal, olhou para a tela do computador, fechou os olhos e tirou as mãos do teclado e suspirou profundamente. E antes mesmo que pensasse em qualquer coisa, ela levou a mão até o mouse e levou a seta, até o ícone da impressora e clicou. Enquanto a máquina imprimia a obra, Clarisse Cristal procurou pôr as ideias em ordem. E a primeira coisa, foi olhar para trás e admirar Muteia, deitado na cama de bruços a dormir, ele completamente nu e um turbilhão de ideias e sentimentos, tomaram conta dela naquele momento.

— Saboreei bem, este breve e doce momento, anjo negro. A primeira vez é sempre assim mesmo, o excelso, o que há de melhor neste mundo e o que é de pessimamente ruim, se misturando em uma confluência negra e atroz! — As confusas palavras de Agnes chegaram diretamente na cabeça de Clarisse Cristal como leves eufônicos sussurros suspensos no ar. — Depois as palavras jorram na cadência da escrita automática, minha querida.

— Não me diga minha cara e vai ser assim mesmo? Você abstrata e incorpóreo flanando na minha cabeça, ditando o que eu tenho ou deveria escrever? — Perguntou Clarisse Cristal em completa angústia.

— Não mesmo, meu anjo negro, olhe para trás e serás que sou bem real, a bem da verdade um pouco mais que real, pois estamos para além de qualquer realidade projetada ou mesmo imaginada, pela raça humana. Somos superiores a tudo e a todos! — Falou Agnes em triunfo.

Agnes andou até a impressora e viu as páginas sendo despejadas na bandeja de saída. Espera até a última página ser impressa e paga o manuscrito, lê a primeira página e coloca em uma pasta de couro marrom. Levanta o olhar para Clarisse que não tirou os olhos da tela do computador como se estivesse em um profundo transe.

— Podes olhar para mim e mesmo assim manter a sanidade, anjo negro! — Falou Agnes.

E assim que a jovem escritora levantou os olhos para a mulher a poucos metros dela, Clarisse sentiu uma leve dor de cabeça.

— E agora? — Perguntou Clarisse Cristal.

— Agora é fumar um cigarro e beber algo forte! — Respondeu Agnes

— E agora? — Perguntou novamente Clarisse Cristal.

— Calma, meu anjo negro! O fim, é o começo de algo melhor e grandioso. — Agnes levantou a mão e ergueu a pasta com o manuscrito — Cru é verdade é o seu manuscrito, mas um grande fim e o prelúdio de um grande começo!


Fragmento do livro: Em dias de sol e calor, em noite de tempestades e frio, de Samuel da Costa, contista, poeta e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

 Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

 

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