sábado, 1 de março de 2014

A IGREJA PRECISA DOS IDOSOS

Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

Eu tenho um amigo, daqueles que sempre estão presente nas horas amargas, que era catequista.
Semanalmente, nos fins-de-semana, abalava para o “ interior”, deixando a família, para participar na preparação da catequese.
Certa vez confessou-me: “ Quando for aposentado vou-me dedicar às atividades da Igreja da minha terra e à agricultura. Tenho um campinho na retaguarda da casa que ergui na aldeia e vou cuidar das árvores de fruta e da hortinha.
O tempo passou e ele sempre a sonhar com a reforma que lhe permitiria organizar melhor a catequese da paróquia, já que era o coordenador.
Um dia atingiu a idade necessária para se retirar. Despediu-se de olhos marejados dos colegas; pela derradeira vez visitou a banca de trabalho, testemunha de horas alegres e de muitas e muitas angústias; e definitivamente partiu para a terra natal.
Não deixou, porém, de passar pela livraria católica em busca de material para as aulas da catequese. Como as verbas para a evangelização dos jovens eram escassas, despendeu muito de seu bolso.
Era um sonho há muito idealizado.
Mal chegou foi prestes à reunião da catequese. Admirou-se, porém, que o abade, velho companheiro nas lidas religiosas, estivesse presente.
Aberta a reunião, o padre urdiu eloquente palestra entremeada de rasgados elogios ao meu amigo. Apoiavam enternecidos os presentes as palavras do sacerdote. Ao concluir ofertaram bonita bíblia, de folhas doiradas, encadernada a pele.
No ato da entrega, disse o abade:” Chegou o momento de descansar. É justo que o libertem das árduas canseiras que lhe roubaram horas de recreação. É mister sangue novo. Já indigitei novo coordenador, e faço votos que ao aposentar-se, tenha finalmente o merecido repouso, junto dos que lhe querem bem.”
Escusado será descrever a desilusão que sofreu o meu amigo. Mesmo assim teve ânimo para agradecer, lembrando que não se sentia velho, e muito podia dar à Igreja.
Este caso verídico faz-me refletir na perda que a Igreja tem ao desprezar o trabalho dos idosos.
Há muito que lembro – mas poucos escutam, – que muitos professores, homens de valor, ilustres catedráticos, após aposentação, podem ser excelentes sacerdotes (diáconos e padres), consoante os casos, com reduzido estudo no Seminário Maior.
O aposentado, em regra, tem tempo disponível; não carece de trabalhar para sobreviver; e pode perfeitamente dispor, graciosamente. ainda de vinte anos ou mais, ao serviço de Deus.
Desaproveitar conhecimentos e disponibilidades é erro crasso, mormente em época em que a falta de sacerdotes é notória.

Bom era que as dioceses incentivassem os crentes idosos a participarem nas atividades das paróquias, de harmonia com os conhecimentos e saúde de cada um.

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