Há muitos e muitos anos, tantos
que já se perdeu a conta, nas proximidades das margens do mar Egeu, havia rei orgulhoso,
senhor de riquezas sem fim, resultante da venda de pepitas de oiro do Pactolo,
afluente do Hermo, rio onde se banhava o infeliz Midas.
Residia em maravilhoso palácio,
belamente decorado de luxuosas alfaias de incalculável valor; e em rijas arcas
de ferro encerrava fabuloso tesouro, mais rico que a caverna de Ali-Babá.
Certa ocasião recebeu a visita
de Sólon – narra Plutarco na “ Vida de Sólon”.
Creso, assim se chamava o rei
orgulhoso, rejubilou de contentamento e saudou a feliz oportunidade para
deslumbra-lo, mostrando-lhe toda a magnífica riqueza que encerrara nos sólidos
cofres reais.
Concluída a longa e pormenorizada
visita, interroga-o envaidecido:
- “ Sólon: conhece homem mais
afortunado que eu?!”
O filósofo entortou
pensativamente a cabeça, sacudindo-a num gesto positivo: Que sim; e nomeou rol
de nomes completamente desconhecidos para Creso.
Atónito com o que acabara de
escutar, o rei encarou Sólon, e sorrindo com ar de dúvida, indagou quem eram as
ilustres individualidades.
Sólon aprumou-se, passou a mão
pelo rosto, e ergueu os olhos para o céu, como pedindo inspiração aos deuses; e
de voz bem timbrada informa-o: Que eram de facto desconhecidos, mas de grande
virtude e viveram despreocupados, porque não possuíam bens a guardar.
Como Creso permanecesse de
olhos vagos, refletindo, por momentos, no que ouvira, Sólon acrescentou, num
leve murmúrio:
- “ Agora ainda são bem mais
felizes…porque já faleceram e não receiam as incertezas do futuro…”
Lançou em graça, o rei, o
último e espiritoso dito, e soltou jovial e ruidosa gargalhada, que ecoou pelos
largos e longos corredores do majestoso palácio.
Correram os anos pacificamente…
com eles, o tempo apagou, quase por completo da memória do rei, o diálogo que
tanto o divertira.
Ciro II, rei da Pérsia, tomou
conhecimento da imensa fortuna de Creso e pensou invadir a Lídia.
Receoso, Creso reuniu as
melhores tropas do reino e alcançando largas alianças, com monarcas amigos,
esperou-o nas margens do Hális. Facilmente foi derrotado, sendo preso e
severamente humilhado em Sardes.
Ciro II saqueou o palácio e
levou o tesouro que Creso tanto se orgulhava.
Os generais persas, com
assentimento de Ciro, pensaram matar o rei. Despojaram-no dos ricos mantos
reais. Entregaram-no ao escárnio da soldadesca e condenaram-no a morrer na
fogueira.
Nessa situação aflitíssima,
sentindo altas e doiradas línguas de fogo a lamberem-lhe a macia pele, bradava
desesperado, cheio de dor: “ Oh Sólon! …Oh Sólon! …Sólon! …Sólon! …
Narram historiadores, que Ciro
apiedou-se da sorte do infeliz rei, livrando-o da morte cruel.
Diga, agora, o leitor amigo, se
acredita – depois do que leu, – se o dinheiro traz felicidade.
Se ainda pensa que sim,
interrogue milionários no declinar da vida ou vítimas de graves enfermidades, e
ouvirá de suas bocas, que não.
A felicidade é como disse
Campos Monteiro, em “ Ares da Minha Serra”: “ É contentar-se a gente com o que
tem e ganhar com honra e sossego o pão de cada dia.”
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