Despreocupadamente, vagueio ao
longo de estreito carreirito de terra pardacenta, entalado entre campas rasas,
no cemitério local.
Diante de mim, ladeando o
caminho, há jazigos, de mármores brancos, bem cuidados, alegrados de frescas
flores, que adoçam enjoativamente o leve ar doirado da manhã; e outros,
desventrados, enegrecidos, de densa poeira, de pedras e cruzes quebradas.
Em todos ou quase todos,
tristes palavras de saudade eterna.
Agora reparo numa singela
capelinha, toda branca, toda resplandecente, faiscando à macia luminosidade da
manhã coberta de sol. Nela, lê-se, inscrito a negro a palavra - “Ninguém”…
Ninguém?! Sim, ninguém! Para quê mencionar nomes!? Já
não existem!; e muitos morreram, também, no coração de amigos e familiares.
Com eles, pareceram,
igualmente: os da sua geração, os objetos que usaram, e, quantas vezes, a casa
onde nasceram e viveram.
Tudo desapareceu. Tudo
mergulhou no pó do esquecimento. Existiram, mas é como nunca existissem.
Piso a terra sagrada,
respeitosamente; há nela gerações desaparecidas, metamorfoseadas, transmudadas
em seiva, que corre nas verdes folhas dos velhos ciprestes do cemitério.
Sob a terra que calco, apodrece
quem: riu, sonhou, sofreu e chorou. Os que receberam acotoveladas e
ingratidões. Os que amaram e odiaram com ardor. Todos irmanados, todos
reduzidos a pó. Como se nunca tivessem nascido e vivido.
Pensativo, melancólico,
taciturno, meditando na vida e na morte, nas vaidades e orgulhos, na cobiça e
na inveja, regresso tristemente a casa.
Por desfastio, folheio volume
encadernado a percalina preta, com filetes a prata, do ano de 1913, da
“Ilustração Portuguesa”.
Diante de meus olhos míopes,
passam, a preto e branco, imagens de: artistas, jornalistas, escritores,
empresários, professores, políticos de sucesso. Figuras iminentes,
incontornáveis, inesquecíveis; mas, para mim, homem do século vinte e um,
ilustres desconhecidos, que as enciclopédias esqueceram-se de registar.
Compara-se a morte a uma porta;
à passagem de um rio; ao sono reparador; à feia lagarta, que se torna na bela
borboleta. Para mim, a morte, é o segundo nascimento:
Sai a criança das trevas para a
luz; morre o homem da ignorância para a Verdade. E sempre, nos nascimentos, há:
choro e dor.
Brevemente os crentes, irão
visitar seus mortos. Bonita e significativa tradição.
Costume, pelo facto de o ser,
perdeu significado. Felizmente, a maioria, ainda conserva respeito,
lembrando-se, que em breve - anos ou décadas, - serão pó, serão nada: sejam
sábios ou iletrados, ricos ou pobres.
Tudo passa. Tudo desaparece.
Tudo se extingue. Tudo se torna terra e poeira; em poalha; em polvilho de nada.
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